São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Brascan compra Company por R$ 200 mi

Aquisição marca movimento acelerado de consolidação do setor imobiliário e cria uma das maiores empresas da área

Company tinha dificuldades de crédito e viu ações caírem mais de 40% no ano; papéis valerão menos, mas, para analista, acionista ganha

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Brascan anunciou ontem a compra da construtora Company e a conseqüente formação de uma das três maiores empresas imobiliárias no país.
O setor está passando por um processo de consolidação, acelerado nas últimas semanas em razão da queda no valor das ações das companhias da área.
"Há mais de 20 empresas do segmento imobiliário listadas na Bovespa [Bolsa de Valores de São Paulo], enquanto que, nos países desenvolvidos, o número não passa de 6 a 8", afirma Fabiana Fakhoury, diretora da consultoria Alvarez & Marsal. "O processo de consolidação será forte e rápido."
A compra da Company envolveu um complexo esquema de troca de ações entre as empresas, com a criação, inclusive, de uma subsidiária da Brascan que será reincorporada imediatamente ao grupo. Pelo acordo, a Brascan pagará R$ 200 milhões aos acionistas da Company, sendo que cada ação Company valerá R$ 2,775 mais 1,0690 ação da Brascan.
Pelas contas da Alvarez & Marsal, o acionista da Company, cuja ação valia R$ 10,07 na quarta-feira, receberia R$ 9,1915 por ação. Com a queda de 11,61% no valor dos papéis da empresa ontem, as perdas seriam ainda maiores.
Mesmo assim, diz Fakhoury, o acionista deve ser beneficiado com a aquisição. Isso porque as ações da Company caíram mais de 40% desde janeiro, e a construtora enfrentava problemas.

Sem crédito
"A Company estava com dificuldades há algum tempo para obter crédito", diz Fakhoury. "A velocidade de vendas não foi tão alta quanto tinham projetado e prometido ao mercado, que puniu a empresa [com a queda no valor dos papéis]."
A situação é comum a diversas construtoras que abriram capital, usaram o dinheiro para comprar terrenos e contavam com o mercado acionário para fazer novas emissões de papéis e financiar também a construção. Com a crise nas Bolsas, as empresas ficaram sem dinheiro para tocar as obras.
A criação de uma das maiores companhias do setor deverá reverter o quadro de dificuldades, na expectativa dos controladores. "O mercado vai perceber que a empresa combinada vale muito mais por ser maior, melhor, estar num dos maiores mercados brasileiros [São Paulo] e ter capacidade de crescimento", afirma Nicholas Reade, presidente da Brascan.
Apesar de a Brascan ser maior em lançamentos, vendas, receita e, principalmente, lucro operacional e líquido do que a Company, os papéis do grupo valiam quase metade dos da construtora. "A ação da Brascan vai ser mais atrativa, o que se refletirá em seu valor econômico", diz Reade. "Teremos outro tipo de liquidez, e o desconto de 30% a 40% que o mercado dá aos papéis hoje não será aplicado."
Além disso, de acordo com Reade, a empresa ganhará sinergia na negociação com fornecedores, e o banco de terrenos das duas empresas combinado, de R$ 17 bilhões, permitirá melhor gestão de risco e de alavancagem da capacidade de construção.
Combinados os números, a nova empresa teria feito lançamentos no valor de R$ 1,9 bilhão e teria vendas contratadas de R$ 1,3 bilhão em 2007. A margem de lucro operacional medido pelo Ebtida (lucro antes de impostos juros e depreciação) seria de 30% e, a de lucro líquido, de 25%. A empresa discute se a marca Company será mantida. Após a conclusão da transação, as ações da Company deixarão de ser listadas.
Após a aquisição, que deve ser concluída no fim de outubro, a empresa terá caixa de quase R$ 500 milhões e recebíveis de R$ 600 milhões, até o fim de 2009. Segundo os executivos, ela tem financiamentos contratados para todas as obras lançadas e acordos similares previstos para os lançamentos.


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