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Excesso de despesas internas, perdas no país vizinho e disputa por poder teriam motivado saída do executivo
Meirelles deixou FleetBoston após crise argentina
DE WASHINGTON
Uma disputa pelo comando do
FleetBoston, acusações de gastos
excessivos no banco, a crise financeira do ano passado nos EUA e a
sedução política estão entre as
causas da saída de Henrique Meirelles do banco.
Segundo Meirelles, a vida pública e a carreira política no Brasil o
seduziram. Funcionários do banco insistem que Meirelles foi isolado e alijado da linha sucessória
em 2001 -pouco antes de anunciar a amigos sua intenção de lançar-se candidato no Brasil.
O golpe contra Meirelles, segundo a Folha apurou entre funcionários do banco, teria sido motivado por despesas internas excessivas, pelo estrago da crise argentina e pelo estilo pessoal do brasileiro, considerado disperso, pouco discreto e incompatível com o
dos executivos que assumiam as
rédeas da instituição.
"São fofocas sem nenhum sentido", disse Meirelles à Folha.
Os fatos em questão datam de
agosto de 2001, quando a direção
do FleetBoston retirou de Meirelles o título de presidente da divisão de atacado, uma das duas
áreas sob seu controle desde a fusão do Fleet Financial Group com
o BankBoston, em 1999. Meirelles
permaneceu com a presidência
da divisão Global, responsável
por 3% do total de ativos do conglomerado financeiro.
A presidência de atacados foi
transferida para Jay Sarles, executivo abaixo do brasileiro na hierarquia do banco - e, segundo a
Folha apurou, seu desafeto. Meirelles diz ter sido ele quem propôs
ao conselho livrá-lo dessa função
e autorizar sua mudança para o
Brasil, onde estudaria a possibilidade de candidatar-se. "Eu já havia informado ao banco minha
vontade de participar do debate
público no Brasil", disse.
Mas há quem discorde. Para
analistas nos EUA e funcionários
do FleetBoston, a mudança teria
partido da direção do banco, sepultando as chances de Meirelles,
próximo da aposentadoria, ascender na corporação, tornando
sua permanência insustentável.
Ao anunciar as mudanças para
seus acionistas no fim de 2001, a
direção do banco informou: "Em
última análise, o sucesso de nossa
estratégia vai depender do calibre
das pessoas que a executam. Temos enorme confiança em nossa
experiente gerência, que reformulamos recentemente. Em particular, consolidamos todas as atividades institucionais e corporativas sob a liderança de Jay Sarles.
Henrique Meirelles permanece
responsável pelas operações globais [fora dos EUA]".
A versão de Meirelles para o fato
é diferente. Segundo o presidente
do BC brasileiro, teria sido ele
quem propôs ao conselho do banco deixar de ser responsável pela
área de atacado para mudar-se
para o Brasil. A versão de Meirelles indica que o banco deu a ele
autorização para trabalhar simultaneamente para a instituição e
para si próprio, explorando, por
meio do "debate público", meios
de ingressar na vida política.
Segundo relatos de vários funcionários do banco, Meirelles vinha sofrendo críticas por gastos
excessivos num momento em que
fracassara sua estratégia de elevar
operações do banco na América
Latina. Somente na Argentina, o
banco perdeu cerca de US$ 2,6 bilhões.
Fusão incompleta
Mas há também os problemas
remanescentes da fusão, que acirraram diferenças no casamento
entre os executivos oriundos do
Fleet e aqueles que, como Meirelles, vieram do BankBoston.
O Fleet era uma instituição
agressiva no mercado de varejo,
mas sem presença internacional.
Seus executivos gabavam-se de
suas rotinas frugais, de suas camisas de manga curta e dos sanduíches consumidos em rápidos almoços. Os executivos do BankBoston, banco com tradição internacional, trabalhavam com
pompa e ritual decorrentes da tradição aristocrática da instituição.
Antes de a fusão ser anunciada,
a direção do Fleet criticava abertamente as operações do BankBoston em mercados emergentes,
considerando-as arriscadas. Em
1999, enquanto o BankBoston sofria com a crise nos emergentes, o
Fleet crescia com aquisições nos
EUA. Quando veio a fusão, naquele ano, o Fleet ficou com seis
dos nove principais cargos do novo banco.
(MARCIO AITH)
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