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Futuro do BNDES continua incerto, dizem analistas
ANTÔNIO GOIS
BONANÇA MOUTEIRA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A estratégia do governo de Luiz
Inácio Lula da Silva de utilizar o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como pilar de uma nova política industrial, mesmo que isso
signifique maiores riscos de crédito à instituição, preocupa especialistas. Contra ou a favor, a maioria
é consensual ao dizer que ainda
faltam sinais mais claros sobre o
real futuro do banco.
Na visão de Gustavo Loyola, ex-presidente do BC (Banco Central), assusta o fato de a nova direção admitir emprestar dinheiro
com mais risco de não recebê-lo
de volta. Para ele, o modelo já foi
testado nas décadas de 70 e 80,
com a alegação de fazer política
setorial, e não deu certo. O banco
perdeu dinheiro e não promoveu
o desenvolvimento dos segmentos eleitos como prioritários.
Exemplo: a indústria naval.
"As mensagens até agora são
muito pouco claras e bastante desencontradas. Mas me parece que
a idéia é que o banco volte a ser o
que era nos anos 80, quando o objetivo era substituir importações e
proteger a industria nacional",
afirma Loyola.
Em entrevista à Folha na semana passada, o novo diretor do
BNDES Roberto Timotheo da
Costa afirmou que, "para alcançar os grandes objetivos nacionais, é razoável que [o banco"
aceite se expor mais ao risco".
Um ex-presidente do BNDES,
que pede para não ser identificado, também se diz preocupado
com discursos mais próximos da
visão da década de 80 da nova diretoria do banco, cujo novo presidente, Carlos Lessa, deve tomar
posse na próxima terça-feira, em
Brasília. Lessa foi diretor do
BNDES em meados dos anos 80.
"O BNDES hoje é um banco
mais complicado do que era na
década de 80. A realidade é outra.
Ele evoluiu muito e foi se aperfeiçoando até chegar à atual estrutura. Hoje há mais rigor na análise
do crédito. Até porque o dinheiro
não é do banco, pertence aos trabalhadores", diz o ex-presidente.
Para esse ex-presidente, preocupa o fato de a nova diretoria sinalizar mudanças bruscas. "O discurso da nova diretoria diz que está tudo errado. Essa constatação
de que não deu certo tem que ser
feita olhando também o que está
sendo feito de positivo. O banco
não está indo à falência."
Com orçamento de R$ 34 bilhões em 2003, o BNDES é o
maior financiador de longo prazo
do país e empresta a uma taxa de
juro menor do que a de mercado.
É ainda acionista de 156 empresas
-entre elas, Telemar, Klabin e
Embraer-, preenchendo uma
lacuna deixada pela falta de um
mercado de capitais ativo no país.
No ano passado, os empréstimos
do banco somaram R$ 31 bilhões.
Negócio de risco
Ex-presidente do BNDES, André Franco Montoro Filho afirma
não crer numa mudança radical.
"Não acredito que o Lessa vá desrespeitar os princípios financeiros
implementados pelo [ex-presidente do BNDES Francisco" Gros.
É claro que ele não vai financiar
projetos inviáveis só para priorizar o social."
José Pio Borges, também ex-presidente do banco, concorda
com Montoro Filho. "Lessa é
muito respeitado dentro do banco e já foi diretor. Não acho que
ele esteja enfocando uma volta ao
protecionismo irrestrito, sem levar em conta a competitividade
das empresas", afirma Borges.
Montoro Filho lembra que parte dos recursos do banco é do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador) e precisa ser remunerado. "O
Lessa não vai desprezar isso",
afirma.
Antônio Carlos Pôrto Gonçalves, economista da FGV, tem uma
visão menos otimista. Cobra que
o banco opere avaliando riscos
como qualquer outra instituição
financeira.
"O BNDES é um banco. Sem
uma análise cuidadosa de risco,
quebra. É claro que em algumas
áreas, como micro e pequenas
empresas e na área social, se deve
assumir mais risco. Mas a ênfase
na análise de risco é fundamental.
Se não for feita, será o mesmo que
distribuir renda para empresários", diz
Para Adjarma Azevedo, presidente da Alcoa, uma das maiores
empresas de alumínio do mundo,
os sinais dados por Lessa são positivos. "Haverá uma dedicação
maior ao social e a pequenas e
médias empresas", afirma.
Ele afirmou ainda que o investimento em infra-estrutura também deve ser um dos focos do
banco. A Alcoa investe em geração de energia.
Mercado de capitais
Tanto Pôrto Gonçalves quanto
Loyola dizem que o BNDES não
pode deixar de priorizar a promoção de um mercado de capitais
forte no país.
É uma política, na visão deles,
de desenvolvimento, pois permite
às empresas ter acesso a recursos
de longo prazo a um custo menor.
"Grande parte da força da economia norte-americana está no
mercado de capitais", afirma Loyola, para quem ainda está confuso, nas declarações da nova direção, qual será o destaque dado ao
tema.
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