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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Pacote de Bush não produz retomada
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O pacote fiscal anunciado
na semana passada pelo
presidente dos EUA pode ter
chegado tarde demais. O exemplo mais desanimador vem do
Japão, que nos últimos anos tentou várias vezes reanimar a economia principalmente com base
em aumentos de gastos públicos. E a União Européia continua preferindo defender o valor
do euro a reduzir mais os juros
para estimular o crescimento.
Um dos principais elementos
do pacote é o estímulo ao mercado acionário, pela redução de
impostos sobre dividendos. Para aquecer a economia, no entanto, uma recuperação no valor
das ações deveria afetar o comportamento dos consumidores.
Nos últimos três anos, a queda
no valor das ações foi da ordem
de 50% nos EUA. O argumento
dos mais céticos é simples: se a
queda nas Bolsas não levou os
consumidores a uma retração
nos gastos, alguma recuperação
no mercado acionário seria
igualmente frustrante.
Mais importante que o valor
das ações é o mercado de trabalho. Enquanto o valor das ações
despencava, o pessimismo de
empresários e trabalhadores
não era tão grande. Na semana
passada, o anúncio do pacote de
Bush coincidiu com a publicação de resultados catastróficos
no mercado de trabalho. Dificilmente o apoio ao mercado acionário será forte o suficiente para
recuperar esse indicador.
No modelo do governo Bush,
a recuperação da economia depende da hipótese -heróica-
de que o acionista beneficiado
pela redução nos impostos consumirá mais. A recuperação da
economia, porém, depende da
retomada de investimentos. Reduzir impostos sobre dividendos pode ser bom para quem recebe esses recursos (os acionistas), mas não contribui para o
reinvestimento dos lucros.
Em tese, menos impostos, menos regulação e menos intervenção estatal produziriam uma
economia mais saudável e capaz
de crescer mais no longo prazo.
Mas, enquanto o longo prazo
não vem, ganham força a recaída recessiva ("double dip") ou a
recuperação sem emprego ("jobless recovery").
Está em jogo a distribuição
dos custos da crise, não a sua superação. Aliás, para o pensamento econômico mais conservador, não se pode esperar muito da intervenção do Estado. Somente os mercados produzem a
recuperação no devido tempo.
O resto é retórica -aproveitar o
pessimismo econômico crescente para legitimar mudanças
nas regras do jogo que favorecem os mais ricos na crise.
A verdadeira política de recuperação econômica do governo
Bush estaria sendo definida no
front militar. Do lado dos custos, a ocupação do Iraque provoca tensão e aumento nos preços do petróleo no curto prazo,
mas garantiria no longo prazo
uma oferta maior dessa fonte de
energia. Do lado da demanda, a
mobilização militar e a ocupação posterior seriam fontes de
estímulo para vários setores.
A conclusão é mais política do
que econômica: o governo Bush
estaria usando a crise para justificar a aprovação de medidas
que a rigor não podem levar à
recuperação no curto prazo,
mas que atendem ao ideário republicano que favorece concentração de renda e liberalização.
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