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NEGOCIAÇÃO
Principais setores e organizações do país já pressionam o novo governo sobre salário mínimo, reformas e inflação
Trégua dos "cem dias" cede às cobranças
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O clima amistoso entre o governo Lula e os principais setores e
organizações do país -que geralmente dura os cem primeiros dias
de uma nova administração-
deve dar lugar a uma cobrança latente. A pressão já figura em torno de três pontos: a definição do
novo salário mínimo -que vigora já em maio-, o encaminhamento das reformas previdenciária e tributária e o controle imediato da inflação.
A movimentação entre os empresários, sindicalistas e líderes
setoriais é clara nesse sentido.
"Nós temos essa mania de declarar lua-de-mel nessa fase e isso
não dá em nada. Essa filosofia de
ficar quieto só nos faz perder tempo", diz Sérgio Haberfeld, presidente da Dixie-Toga e um dos primeiros empresários a declarar,
em 2002, apoio ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
A posição é a mesma defendida
pelos líderes da Força Sindical.
Cinco semanas de governo já seriam suficientes, no entender da
organização, para Lula mostrar a
que veio. Partindo desse raciocínio, já em março os sindicalistas
iniciam marcação mais cerrada
para pressionar o governo em torno do salário mínimo de US$ 100.
O novo valor vigora a partir de 1º
de maio.
Na prática, a Força, que passou
de aliada do governo tucano para
a oposição, quer se recuperar da
derrota de suas lideranças nas urnas -e a pressão sobre o governo
Lula será a principal arma.
Uma arma não só dela: no fim
dos cem dias iniciais de governo, a
cobrança em cima do salário mínimo virá ainda das alas mais radicais da CUT (Central Única dos
Trabalhadores) -como as correntes sindicais ligadas ao PSTU
(Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)-, que também
se preparam para exigir de Lula a
execução de suas promessas logo.
Mais espaço
Marcação forte, ainda que bem
mais discreta, também do lado da
indústria. Tanto que o ministro
do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, por onde a indústria se fará ouvir no atual governo,
já começou a mexer os pauzinhos:
quer "dividir" o BNDES em dois,
para incentivar as exportações da
indústria e, apurou a Folha, já esteve conversando com o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, para tratar da questão da barreira ao aço nacional.
"Nesse caso, a diferença é que
Furlan é da indústria e há uma
possibilidade de maior espaço para dizer o que precisa ser feito",
diz Pio Gavazzi, diretor da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB, a pressão será crescente e contínua em torno
do encaminhamento ao Congresso da proposta de reforma previdenciária, pelo menos, até o fim
do primeiro semestre. Uma prova
de que esse é um debate delicado
já foi dado. Na última semana,
servidores públicos deram o tom
da conversa.
Representantes de entidades do
funcionalismo público dizem que
vêem com ressalvas a reforma da
Previdência, no que diz respeito à
unificação dos sistemas (com regras iguais para todos os trabalhadores públicos e privados). E ao
estabelecimento de um teto comum para as aposentadorias dos
setores público e privado -a proposta inicial do governo Lula.
Como os servidores não têm
um teto para as contribuições como os trabalhadores do setor privado, a questão é saber logo se o
valor da contribuição também será unificado, segundo o presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Seguridade Social, Wladimir Nepomuceno.
Para o economista Odair Abate,
entretanto, a lua-de-mel do governo com o setor privado e o
mercado tem validade expirada
por outras razões. "As questões
internacionais, como a crise na
Venezuela e a alta na cotação do
petróleo, nos atingem diretamente e têm efeito imediato no bolso
do brasileiro. E ainda há a questão
do acordo com o FMI. Haverá o
primeiro teste da equipe econômica em fevereiro, com a reunião
do novo governo com o Fundo."
Ainda existem outras medidas
em estudo, confirmadas pelo governo para análise relâmpago,
nos três primeiros meses de governo. São elas: tentar mudar o
cálculo das tarifas de luz e telefone, que deverão pressionar a inflação em 2003. E negociar com os
líderes do MST (Movimento dos
Sem Terra), que não darão trégua
ao governo Lula no início de 2003.
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