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CONJUNTURA
Turbulência eleitoral e a deterioração dos indicadores macroeconômicos levou a um aumento do risco-país
Risco, dólar e dívidas emperram economia
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A dívida interna do governo assumiu o posto de primeiro lugar
na lista de preocupações de banqueiros, analistas financeiros e
economistas na semana passada.
Deterioração de expectativas,
rolagem mais difícil de dívidas
privadas, risco político, tudo contribui para a expectativa de que o
dólar continue em alta. Em decorrência, cresce a chance de que o
governo tenha de cortar ainda
mais suas despesas a fim de impedir um aumento explosivo na sua
dívida -28,7% dela corrigida pela variação cambial. Mais cortes
tendem a diminuir a atividade
econômica. Sem cortes, cresce o
temor de calote e de alta de juros.
Esse impacto poderia ser compensado se o dólar recuasse. O
problema é que, de agora até as
eleições, vence 20,5% da parcela
da dívida cambial.
Uma das pressões sobre o dólar
vem da incerteza provocada por
um ano de eleição. "Existe incerteza sobre qual será a atitude de
um possível governo da oposição
em relação à política fiscal", diz o
economista Márcio Garcia, professor da PUC, no Rio de Janeiro.
Esse temor, somado a uma deterioração dos indicadores macroeconômicos brasileiros, levou
a um aumento do risco-país (medida de quanto pagamos mais que
os Estados Unidos para conseguir
financiamento no exterior).
Percepção maior de risco tem
aumentado a procura por dólares,
o que acaba elevando a dívida.
Outro receio vem da dívida privada externa, porque, se as empresas tiverem dificuldades de rolar seus compromissos, o dólar
poderá subir ainda mais.
Cenário deteriorado
Essa combinação de preocupações tem levado especialistas a temerem que o esforço fiscal previsto pelo governo terá de ser maior.
A hipótese de disparada do dólar
é acompanhada por uma alta na
dívida. Foi o que aconteceu entre
o dia 10 de abril e a última sexta-feira: a moeda norte-americana
subiu 8,37% trazendo um aumento de R$ 15 bilhões no valor total
da dívida. No início de abril, a dívida indexada ao câmbio era de
cerca de R$ 180 bilhões.
O superávit primário (receitas
menos despesas que excluem os
gastos com juros) acertado pelo
governo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para este
ano é de 3,5% do PIB. Esse cenário previa que a relação entre a dívida pública líquida total (interna
e externa) do governo ficaria estável em torno de 54,5% do PIB.
Mas tudo indica, segundo especialistas, que essa relação poderá
aumentar até o fim do ano. O próprio Tesouro em seu plano anual
de financiamento para 2002 contava com um ambiente econômico mais favorável do que o atual,
que incluía, por exemplo, "cumprimento da meta inflacionária" e
"relativa estabilidade cambial".
"Os acontecimentos estão longe
disso. A inflação está batendo no
teto da meta e o câmbio continuará oscilando", diz Fernando Ferreira, da consultoria GlobalInvest.
Para piorar, como mais de 50%
da dívida interna é corrigida pela
taxa pós-fixada de juros, a manutenção da Selic em níveis altos
também prejudica as contas do
próprio governo.
Com isso, analistas já temem
que o a relação dívida pública fique acima da expectativa de
54,5% do governo. A GlobalInvest
trabalha com uma previsão de
56,7%. Se isso ocorrer, o governo
seria obrigado a buscar um superávit fiscal ainda maior este ano.
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