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CONJUNTURA
Já se esperava por turbulências, mas apenas no segundo semestre
Aumento de risco ameaça rolagem de dívida externa
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor de mercados emergentes da corretora Goldman
Sachs de Nova York, Paulo Leme,
e o economista-chefe para a América Latina do banco de investimentos Lehman Brothers, Paulo
Vieira da Cunha, avaliam que o
setor privado brasileiro terá dificuldades de rolar parcela do total
dos vencimentos de sua dívida externa que vence até agosto. Ambos concordam que essas dificuldades deverão pressionar o câmbio brasileiro, forçando uma desvalorização adicional do real.
A alta da moeda norte-americana pegou as empresas despreparadas. Quem têm dívida em dólares já esperava por turbulências,
mas apenas no segundo semestre.
A expectativa era que a corrida
presidencial só iria esquentar
após junho. A turbulência chegou
antes e tem dois efeitos. Quando
não restringe o acesso ao mercado
global de capitais, torna as fontes
de financiamento mais caras.
"Apenas as linhas de financiamento ligadas ao comércio exterior tendem a ficar estáveis. Quem
não é exportador tem mais dificuldade", diz Alfred Dangoor, diretor do Dresdner.
O primeiro sinal de deterioração visível foi o risco-país, que fechou essa semana em alta de
7,5%. Esse aumento significa que,
na prática, se o governo ou empresas brasileiras quiserem colocar mais títulos no mercado externo, terão que pagar juros maiores
que o que pagavam na semana
passada.
Para as empresas, os custos tornam-se proibitivos. A saída é captar no mercado interno, rolar apenas parte da dívida ou captar dólares com outros instrumentos,
como empréstimos sindicalizados. "Mas são todas opções com
custos maiores", afirma Dangoor.
Paulo Leme estima que haveria
problemas para a rolagem de US$
3 bilhões da dívida. Como no
mesmo período ocorrerá a entrada sazonal de dólares das exportações agrícolas, o saldo líquido dos
vencimentos da dívida privada
que tende efetivamente a pressionar o câmbio deve cair para US$ 2
bilhões. Leme prevê que a cotação
do dólar vá chegar a R$ 2,55 em
setembro e R$ 2,65 em outubro.
A retração das captações tende a
pressionar mais o dólar, que já subiu 2,53% esta semana. Com menos dólares entrando na economia, a tendência é de alta. A incerteza faz também com que as empresas tentem se proteger, comprando dólares, e novamente alimentando uma alta da moeda
norte-americana.
Vieira da Cunha acredita que o
risco para o câmbio não se limita
às dívidas do setor privado que
vencem nos próximos meses. Ele
dá ainda mais importância à demanda por proteção ("hedge"),
que tende a aumentar com a proximidade das eleições e que, como no ano passado, poderá provocar uma desvalorização indesejada na cotação do real.
"A demanda por hedge [proteção" deve subir nas próximas semanas", diz o economista Otaviano Canuto. Ele lembra ainda que
há uma concentração de vencimentos da dívida externa privada
nos próximos três meses.
Entre junho e agosto, vencem
40% das dívidas das empresas
brasileiras. São cerca de US$ 7,3
bilhões que precisam ser pagos ou
refinanciados nos três meses.
Dangoor, do Dresdner, avalia que
não é possível prever o qual o impacto que haveria no câmbio se
parte das dívidas não forem refinanciadas no mercado externo.
Mas há quem prepara-se para o
pior. A RC Consultores traça um
cenário em que a cotação do dólar
a R$ 3,50 em dezembro. Nesse caso, o candidato governista perderia a eleição. Nos cálculos da consultoria, a probabilidade de que
isso ocorra, é pequena: 15%.
Colaborou Isabel Campos,
da Reportagem Local
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