São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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Nem pré-sal salva empresa de derretimento na Bolsa

Valor de mercado da Petrobras é o menor desde 2007

DA SUCURSAL DO RIO

Nem mesmo as promissoras descobertas do pré-sal evitaram o fraco desempenho das ações da Petrobras neste ano, castigadas pela queda recente do preço do petróleo e pela aversão ao risco por parte de investidores estrangeiros.
Desde janeiro ao último dia 8 deste mês, os papéis ordinários da companhia amargam uma perda acumulada de 21,5%, segundo dados da consultoria Economática. No mesmo período, as ações preferenciais da estatal caíram 23,6%. As ações tiveram desempenho pior do que o principal índice da Bolsa, o Ibovespa, que registra desvalorização de 11,4% no acumulado de janeiro até a última sexta.
Diante das perdas, o valor de mercado da companhia derreteu nos últimos dois meses. Após atingir o pico de R$ 472,5 bilhões ao final de maio, a capitalização em Bolsa da estatal caiu para R$ 332,2 bilhões em 8 de agosto, segundo o levantamento da Economática feito a pedido da Folha.
Trata-se do menor valor desde os R$ 285,3 bilhões alcançado no final de setembro do ano passado, considerando apenas o fechamentos de mês.
Neste ano, o desempenho dos papéis da companhia contrasta bastante com o registrado ao final de 2006 e em todo o ano de 2007, quando as sucessivas descobertas do pré-sal alavancaram as cotações da empresa Bovespa.
Em 2006, ano do anúncio da primeira grande descoberta na nova fronteira exploratória, a de Tupi, as ações ON da Petrobras subiram 38,2%, mais do que os 32,9% do Ibovespa.
Em 2007, o comportamento dos papéis da companhia descolou ainda mais da tendência da Bolsa: as ON avançaram 98,9%, num ano em que o Ibovespa se valorizou em 43,7%.
Mas, desde maio deste ano, a situação se inverteu, e as ações de emissão da companhia começaram a cair. "Os papéis foram afetados pela queda da cotação do petróleo. Somado a isso, tem ainda o fato de o mercado viver um momento de grande volatilidade, com a Bolsa dos EUA muito instável", diz Nelson Rodrigues de Mattos, analista do BB Investimentos.
Para ele, a crise financeira nos EUA ainda atinge o mercado brasileiro e afasta investidores internacionais da Bolsa, o que prejudica o desempenho das ações da Petrobras, as de maior liquidez da Bovespa.
Mas há ainda, segundo Mattos, um componente político: a possível criação de nova estatal para administrar as reservas não licitadas do pré-sal desagrada ao mercado, como revelado pela Folha no domingo. "Essa indefinição tem também impacto sobre os papéis. Falar numa nova estatal prejudica a Petrobras, que investiu pesado para explorar o pré-sal."
Até agora, a Petrobras gastou US$ 1,6 bilhão na perfuração de 17 poços no pré-sal -dois ainda em conclusão. Em todos já terminados, achou óleo ou gás. Foram feitas nove descobertas -a última na semana passada, numa área da bacia de Santos.
Já Mônica Araújo, da corretora Ativa, afirma que a avaliação positiva dos investidores em relação à Petrobras não se alterou, apesar da desvalorização das ações. A retração dos papéis, avalia, é mais reflexo do mau momento pelo qual passa o mercado de capitais.
"A queda das ações é resultado da aversão ao risco por parte dos investidores. Houve ainda uma mudança [para pior] nas expectativas futuras sobre a cotação do petróleo, o que também afetou o desempenho da companhia na Bolsa", afirma Araújo.
(PEDRO SOARES)



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