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Analistas e senadores atacam criação de uma nova estatal
Especialistas discordam de visão de que não há risco na exploração do pré-sal
Senador Mercadante defende idéia e diz que nova empresa petroleira seria um escritório com não mais do que 16 funcionários
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A criação de uma nova empresa 100% estatal para gerenciar a exploração de petróleo na
área do pré-sal foi criticada por
especialistas.
Conforme a Folha publicou
no domingo, a proposta da nova empresa é a que conta com
mais simpatia dentro do governo federal. A premissa do governo para mudar o sistema é
que o risco exploratório no pré-sal é baixo. Os especialistas discordam.
"Criar uma nova empresa é
trazer para o Estado os riscos
da exploração", afirma o professor Saul Suslick, diretor do
Cepetro (Centro de Estudos do
Petróleo) da Unicamp. "Ninguém na indústria do petróleo
assegura que o risco de exploração é baixo", disse. "É uma visão anacrônica de que o Estado
tem que ser o principal gestor
dos recursos no subsolo. Hoje o
modelo já assegura que os recursos são do Estado", afirmou.
Na avaliação de Suslick, o
modelo atual já permite que o
Estado aumente a quantidade
de recursos auferidos com a exploração do petróleo, o que poderia ser feito por meio da elevação de taxas já pagas pelos
investidores: bônus, royalties e
participação especial.
"Para o investidor, isso é mudar a regra com o jogo em andamento", avalia Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe/UFRJ. "A lei atual já permite muita coisa. Dizer que a exploração é sem risco é brincadeira. Pode-se dizer que aumentou o prêmio, mas o risco
continua", afirmou.
Para o consultor David
Zylbersztajn, da DZ Negócios
com Energia, o Estado não precisa ficar com o óleo extraído.
"O país não precisa acumular
óleo, e sim recursos para usar
em outras áreas", disse
Zylbersztajn, que comandou a
ANP (Agência Nacional do Petróleo) no governo Fernando
Henrique Cardoso.
Congresso
O presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a proposta governista de criar uma
nova empresa estatal de petróleo para cuidar do pré-sal. "Eu
defendo esse debate. Seria uma
espécie de escritório de representação com não mais que 16
pessoas", disse. "Nós precisamos de um novo marco regulatório para o setor", disse o senador petista.
Integrante da Comissão de
Infra-Estrutura, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) criticou
a possibilidade de criação de
uma nova empresa brasileira
de petróleo. "A Petrobras tem
de continuar no centro das decisões", afirmou o tucano.
O líder do PSB no Senado,
Renato Casagrande (ES), afirmou que "o debate sobre o assunto ainda é muito novo". "No
entanto, se o governo quiser
mudar o marco regulatório,
certamente terá de criar uma
empresa para fazer gestão do
pré-sal", disse. "Mas é preciso
discutir assunto de forma profunda. E o Congresso deve fazer
isso neste segundo semestre",
disse ele.
Como o tucano Sérgio Guerra, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) discorda, à primeira vista, da criação de uma
nova empresa de petróleo. "Isso preciso ser muito bem justificado para não parecer um cano nos investidores da Petrobras", disse. "Posso até mudar
de opinião, mas a impressão
que eu tenho é que a proposta é
mais xenofóbica que qualquer
outra coisa", completou.
O senador Heráclito Fortes
(DEM-PI) disse estar "com um
pé atrás" sobre essa proposta
de nova estatal. "Para isso, ainda não está claro. É preciso debater mais o assunto", afirmou
o senador.
(HUMBERTO MEDIDA E ADRIANO CEOLIN)
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