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COMÉRCIO EXTERIOR
Mas especialistas avaliam que conquista de novos mercados ainda é frágil e carece de sustentação
Brasil diversifica clientes de exportações
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
As destinações das vendas externas brasileiras estão mais diversificadas.
O índice de concentração de exportações, elaborado pelo banco
Bradesco, mostrou que em julho
deste ano o indicador estava em
0,064. No mesmo período do ano
passado, o valor era 0,081. Quanto
mais próximo de zero, maior é a
variedade de mercados importadores de produtos brasileiros.
Segundo Thais Ortega, uma das
economistas responsáveis pelo
relatório, o índice apresenta uma
tendência de queda. Para calcular
o indicador, é levada em consideração a participação de 232 países.
Dados do governo mostram de
fato que a clientela brasileira cresceu. As exportações para a África,
que figura como "novos mercados", cresceram 52,5% de janeiro
a agosto deste ano. Para o Oriente
Médio, o salto foi de 58,8%.
"Uma menor concentração por
mercados é benéfica no sentido
de possibilitar uma maior estabilidade das exportações, reduzindo os impactos de possíveis dificuldades econômicas em parceiros comerciais específicos", diz
trecho de boletim sobre comércio
exterior divulgado pelo Bradesco.
Entretanto, segundo José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), ainda é cedo para comemorar
a consolidação da conquista de
novos mercados. "Não posso dizer que é uma tendência. 2004 foi
um ano atípico, com cotação de
commodities muito elevada e
com outros fatores que também
favoreceram o Brasil", avaliou.
Entre os eventos que têm ajudado o comércio exterior brasileiro
neste ano, Castro destacou a quebra de safra de soja nos EUA no final do ano passado e as gripes do
frango na Ásia. "Tudo isso ajudou
o Brasil a entrar em mais mercados. Acho que mais um fato conjuntural do que estrutural."
O economista Primo Roberto
Segatto, presidente da Abracex
(Associação Brasileira de Comércio Exterior), também argumenta
que a sustentabilidade da entrada
ou mesmo da ampliação das exportações brasileiras em novos
países é frágil.
"Não dá para dizer que vamos
conseguir manter esses mercados. Com o aquecimento do consumo dentro do país, acredito que
algumas empresas vão acabar
priorizando as vendas internas",
afirmou Segatto.
De acordo com a AEB, no segmento de manufaturados, a principal alavanca das vendas externas foi a debilidade do mercado
interno brasileiro, especialmente
no começo deste ano. Para o Bradesco, de janeiro a agosto, 50,7%
do aumento do saldo comercial
foi explicado pela expansão das
vendas de manufaturados.
A atuação pendular dos exportadores brasileiros -exportam
quando o mercado doméstico vai
mal e viram as costas aos novos
clientes quando vendem dentro
do país- preocupa analistas de
comércio internacional. "Isso
prejudica muito a imagem do comércio brasileiro no exterior",
disse o presidente da Abracex.
Problemas internos
Uma eventual diminuição da
conquista de novos mercados por
causa do aquecimento no mercado doméstico não é o único obstáculo das exportações brasileiras.
Entre os principais problemas
está o desequilíbrio entre o que é
exportado e o que é importado
pelo Brasil. "Infelizmente navios
ainda têm que vir vazios para daqui serem carregados com produtos de exportação brasileiros. Isso
aumenta bastante o custo de frete", disse Castro, da AEB.
Problemas de infra-estrutura,
como calados (profundidade mínima de água necessária para a
embarcação flutuar) rasos em alguns importantes portos brasileiros também podem ameaçar a
pulverização das vendas externas
brasileiras. "A infra-estrutura do
porto de Santos está saturada. Já
sentimos a redução do interesse
de alguns clientes do Brasil", argumenta Segatto.
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