|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ACORDO AUTOMOTIVO
Para ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, país tem que ter visão estratégica na negociação
Concessão a argentinos não é descartada
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse ontem
que a revisão do acordo automotivo com a Argentina é "um tema
que esteve, está e estará nas mesas
de negociações" entre os dois países. Os industriais serão convidados a participar das discussões, e
o início da livre importação em
2006 não é questão fechada, disse.
Nas reuniões com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, com o
próprio Amorim e com outras autoridades brasileiras, na semana
passada, em Brasília, o ministro
da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, citou dados concretos para exemplificar as desigualdades nas trocas comerciais e
defender a revisão do acordo.
Conforme Amorim, Lavagna
disse que, ao ser fechado o acordo
automotivo em 1994, o Brasil detinha 30% do mercado de carros da
Argentina e, hoje, esse percentual
pulou para 60%. Na outra mão, a
Argentina tinha 14% do mercado
brasileiro, mas hoje só mantém
uma fatia de 2,5%.
"O Lavagna nos disse que não é
concebível a Argentina não ter
uma indústria automobilística.
Nós concordamos com ele", disse
Amorim, ontem, por telefone.
"Esse é um evento do desequilíbrio" entre os dois países, disse
ele, lembrando os sucessivos abalos às estruturas industriais argentinas nos últimos dez anos,
agravadas pela política de paridade cambial entre o peso e o dólar.
"Tudo isso tem que ser levado
em conta, porque as relações do
Brasil com o país vizinho não se
resumem a questões pontuais de
comércio e devem ser vistas sob a
ótica de médio e longo prazos",
disse Amorim, que sempre foi importante defensor do Mercosul.
Ele disse que estão em estudo,
para novas rodadas mais concretas de reunião em dois meses, "aspectos que envolvem a Petrobras
e o BNDES [Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social]". Lavagna pediu maior
"compreensão" brasileira com a
situação argentina ao liberar financiamento do banco para a instalação de empresas no Brasil.
Preocupado em tranqüilizar o
setor produtivo brasileiro, Amorim contextualizou as negociações com a Argentina: "As relações comerciais mundiais são feitas de altos e baixos. Não podemos agir impulsivamente quando
estão em alta nem quando estão
em baixa. Não é questão de ser
bonzinho, mas de ter visão estratégica", afirmou.
"Eles [os argentinos] estão numa situação crítica hoje, ao contrário do Brasil, que está inserido
no contexto mundial, recebendo
investimentos e consolidando o
seu processo de crescimento. Mas
não foi sempre assim", comparou
o ministro.
"As relações comerciais do Brasil com a Argentina e a América
do Sul são prioritárias, mas o
principal não é disputar mercado
um com o outro, mas trabalhar,
juntos, para disputar os mercados
mundiais."
Amorim recebe hoje em Brasília, ao lado de Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e de Roberto Rodrigues (Agricultura), o
comissário europeu de Comércio,
Pascal Lamy, para discutir a retomada das negociações para uma
área de livre comércio entre
União Européia e Mercosul.
O acordo estava previsto para o
próximo mês, mas empacou nas
últimas negociações na Europa,
em agosto, principalmente pelos
obstáculos da União Européia à
abertura agrícola -considerada
fundamental pelo Brasil e seus
parceiros de bloco, Argentina,
Uruguai e Paraguai.
Segundo Amorim, o encontro
de hoje foi pedido por Lamy. O
Brasil já admitiu fazer concessões
nas áreas de serviço, compras governamentais e investimentos.
Agora, pretende apenas ouvir o
que Lamy tem a apresentar.
Texto Anterior: Prazo para pagar o IPI aumenta a partir de outubro Próximo Texto: Autopeças: Metalúrgicos têm maior aumento real em 12 anos Índice
|