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CAIXA-FORTE
Em 1994, os cinco maiores bancos do país tinham 48% dos depósitos; em 2002, percentual subiu para 69,2%
Concentração bancária cresce no Plano Real
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Em 1994, ano do Plano Real, as
cinco maiores instituições financeiras do país respondiam por
45,2% do ativo total dos bancos
no Brasil. No final de 2002, a participação dos cinco maiores bancos
saltou para 60,2%.
Se forem levados em conta os
dez maiores bancos, o percentual
aumenta de 60,2% (1994) para
75,8% (2002).
Em relação aos depósitos bancários, os números são ainda
maiores. Em 1994, os cinco maiores bancos absorviam 48% dos
depósitos. No ano passado, a participação aumentou para 69,2%.
Já o total de depósitos dos dez
maiores bancos do país saltou de
65,1% para 85,9%, no período de
1994 a 2002.
Esses números mostram que,
diferentemente do que se previa
após a introdução do Real, com o
fim dos ganhos inflacionários e a
abertura do mercado para o capital estrangeiro, o processo de concentração bancária só aumentou.
O diretor de Normas do BC,
Sérgio Darcy, defende a determinação de limites para a concentração bancária no Brasil. "O limite
pode começar quando deixarmos
de dormir sossegados."
Darcy deu alguns exemplos de
limites à concentração bancária.
Um limite pode ser estabelecido
quando um grupo, ao comprar
outro, representar uma ameaça
ao bom atendimento a várias praças com o possível fechamento de
um grande número de agências.
Ou ainda se, com uma única
agência, a união de dois grupos
puder dominar várias praças. "Se
essas coisas ocorrerem, já estará
mais do que na hora de a gente se
preocupar com a concentração
bancária", diz Darcy.
O diretor do BC afirma que, por
enquanto, não está preocupado
com o grau de concentração bancária no país. "Continuo dormindo bem com o atual nível de concentração bancária."
Apesar de o assunto não prejudicar seu sono, Darcy afirma que,
há cerca de um ano, o Banco Central começou a aprofundar os estudos sobre esse tema. "Estamos
olhando com mais cuidado", diz.
Agora, por exemplo, Darcy diz
que estuda o processo de fusão
que ocorre na França entre o Crédit Agricole e o Crédit Lyonnais.
Caso a operação seja autorizada
pelo governo francês, os dois bancos vão passar a deter um terço do
mercado no país.
Se ocorrer no Brasil uma fusão
como essa, Darcy acha que o Banco Central terá que aprofundar os
estudos para saber até que ponto
isso poderá prejudicar a concorrência no setor.
O grande problema do aumento
da concentração no país é a diminuição da concorrência no setor.
Com poucos bancos no mercado,
eles teriam poderes para determinar não só as tarifas cobradas pelos serviços bancárias como também os "spreads" (taxas de risco)
sobre as operações de crédito. "O
importante é ficarmos sempre
atentos à formação de tarifas e de
taxas ["spread"] para evitarmos
prejuízos aos consumidores."
Tendência de alta
O presidente da Austin Asis,
Erivelto Rodrigues, acha que a
tendência é a concentração bancária só aumentar no país. Para
ele, se hoje existem nove grandes
bancos de varejo, só devem permanecer cinco nos próximos
anos. Desses cinco, apenas um estrangeiro.
O deputado Delfim Netto (PPB-SP) considera, por exemplo, que
já há uma grande concentração
bancária no país. Para ele, as altas
taxas de "spread" no país já refletem esse fato. "Essa concentração
pode tornar difícil a redução de
"spreads" no futuro", diz.
O economista Sérgio Werlang,
ex-diretor do Banco Central e
atualmente no Banco Itaú, discorda. Ele acha que o Brasil ainda
tem muitos bancos. Segundo seus
cálculos, o valor dos depósitos no
Brasil por agência deve estar por
volta de US$ 5 milhões, enquanto
nos Estados Unidos deve ser superior a US$ 50 milhões.
Werlang deixa claro que não
imagina que o Brasil venha a se
tornar os Estados Unidos, mas esses números mostram que há espaço para mais bancos.
Erivelto Rodrigues acha, no entanto, que o processo de enxugamento no setor financeiro ainda
vai prosseguir nos próximos
anos. Em 1994, o país tinha 1 milhão de pessoas empregadas em
bancos. Hoje, o número caiu para
cerca de 400 mil funcionários.
"Essa foi uma das consequências
da concentração", diz Rodrigues.
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