São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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Brasil quer EUA e UE frente a frente

EM SÃO PAULO

O Brasil quer colocar os Estados Unidos e a União Européia frente a frente, para que resolvam pendências que, segundo o Itamaraty, barram o avanço das negociações agrícolas na OMC (Organização Mundial do Comércio).
Hoje, o representante de Comércio dos Estados Unidos, Roberto Zoellick, e o comissário de Comércio da UE, Pascal Lamy, sentarão à mesa com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e representantes da Austrália e da Índia para tentar destravar a Rodada Doha, que acontece no âmbito da OMC.
"Espero que amanhã [hoje] americanos e europeus se disponham a discutir a questão do paralelismo na nossa presença. Senão, podem discutir em outro lugar a nossa custa", disse Amorim, após a reunião ministerial do G20, ontem, em São Paulo.
Segundo o ministro, a UE afirma que está disposta a eliminar os subsídios agrícolas para exportação, desde que os Estados Unidos também eliminem seus subsídios indiretos à exportação.
Os Estados Unidos adotam uma retórica parecida. A idéia de redução simultânea dos subsídios é conhecida por paralelismo.
O problema, de acordo com Amorim, é que os dois lados podem usar essa estratégia para evitar avanços na negociação, ao culpar o outro por não ceder. Amorim quer que as duas maiores forças econômicas nas negociações da OMC entrem num acordo durante encontro com outros países, para que o processo negociador possa seguir.
Amorim disse ser difícil prever o resultado do encontro de hoje. "Fico tentado a dar uma resposta de jogador de futebol: vamos fazer um esforço, dar o melhor possível e vamos tentar ganhar", afirmou, ao comentar suas expectativas para a reunião.
As declarações de Amorim foram feitas após o G20 sentar para acertar qual será sua posição hoje no encontro. O grupo é formado por países em desenvolvimento que buscam a liberalização do comércio agrícola nos países ricos.
O Brasil e a Índia pretendem representar o grupo na reunião de hoje. Ontem, o G20 divulgou a sua declaração ministerial na qual menciona a idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criar uma área de livre comércio entre os países-membros do grupo.
"Eles [os ministros dos países do G20] também mencionaram a idéia do presidente Lula (...) de lançar uma área de livre comércio entre os membros", diz o comunicado oficial do encontro, que ocorre à margem da 11ª Unctad. O discurso de abertura do ministro foi uma crítica às atuais regras de comércio da OMC, que, segundo ele, atendem aos interesses dos países desenvolvidos.
"Precisamos acabar com esses privilégios", disse Amorim. De acordo com ele, o atual acordo de agricultura da organização é o que prevê as regras mais extensas de tratamento especial e diferenciado. Esse conceito, segundo ele, deveria ser usado para garantir a países em desenvolvimento mais flexibilidade no cumprimento dos acordos internacionais.
Para Amorim, no entanto, as regras para agricultura são "um tratamento diferenciado ao contrário". Ou seja, um tratamento "especial para os países desenvolvidos, que continuam a se beneficiar de privilégios que distorcem mercados e prejudicam os países em desenvolvimento".
(ANDRÉ SOLIANI)


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