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ONU E DESENVOLVIMENTO
Apesar da lentidão das negociações globais, volume de transações comerciais deve avançar 8,6% neste ano, estima a Unctad
Acordos emperram, mas comércio cresce
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A despeito da lentidão das grandes negociações comerciais -Alca, OMC, União Européia-Mercosul-, o volume de comércio
mundial deve crescer 8,6% neste
ano -uma taxa bem superior à
média dos últimos 12 anos.
Estatísticas da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram um crescimento de 5,5% entre 1990 e 2002. Para 2005, a projeção da Unctad (Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento) é uma expansão global do comércio de 10,2%,
acima do pico histórico de 9% entre 1963 e 1973.
A pujança desses números, porém, está longe de contentar a
massa dos países emergentes, que
pleiteia maior acesso a mercados,
especialmente para produtos
agrícolas, nos países ricos.
A 11ª reunião da Unctad, que
começa hoje em São Paulo, pretende ser um fórum para criar
uma estratégia de inserção comercial dos países periféricos. A
instituição argumenta que só o
crescimento do comércio não ajuda no combate às desigualdades.
Liderado pelo Brasil e pela Índia, o G20 defende a ampliação do
mercado agrícola dos países ricos
para países pobres. O grupo surgiu no impasse nas negociações
da OMC em Cancún, em 2003.
Hoje, os principais negociadores
de Estados Unidos, União Européia, Índia, Austrália e Brasil tentam destravar o impasse nas conversas sobre a Rodada Doha, que
ocorre no âmbito da OMC.
A estratégia do G20 é firmar a
posição dos participantes diante
dos EUA e da UE, que ainda vacilam em oferecer propostas que
contemplem redução de barreiras
tarifárias e não-ta
rifárias, de subsídios domésticos e à exportação.
Já o G77, que nasceu com a Unctad em 1964, adota uma retórica
de teor mais político. "Temos que
empreender a determinação de
manter a solidariedade entre
nós", disse Mohamed Al-Thani,
ministro do Qatar e representante
do G77. O Mercosul também
aproveita o ambiente da Unctad
para fazer avançar o acordo com a
UE. Os blocos se reúnem hoje.
O Brasil defende a união entre
os países pobres, mas não despreza participar do seleto grupo dos
países ricos, representado, por
exemplo, pelo G8.
A própria estratégia de liderar
um processo de parceria com países em desenvolvimento faz parte
da tática para conseguir mais espaço nos fóruns internacionais.
Outro objetivo é ampliar o acesso
a mercados. "Quem teve tratamento diferenciado até hoje foram os países ricos, cuja produção, sobretudo a agrícola, ficou
isenta [de abertura comercial]",
disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Para tentar mudar esse quadro,
o governo brasileiro jogará em
dois tabuleiros. De um lado, iniciará negociações comerciais entre países em desenvolvimento.
Do outro, quer usar a aliança com
seus parceiros da periferia para
pressionar UE, Japão e EUA a
abrirem esses mercados para seus
produtos mais competitivos.
Colaborou André Soliani,
em São Paulo
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