São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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ONU E DESENVOLVIMENTO

Apesar da lentidão das negociações globais, volume de transações comerciais deve avançar 8,6% neste ano, estima a Unctad

Acordos emperram, mas comércio cresce

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A despeito da lentidão das grandes negociações comerciais -Alca, OMC, União Européia-Mercosul-, o volume de comércio mundial deve crescer 8,6% neste ano -uma taxa bem superior à média dos últimos 12 anos.
Estatísticas da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram um crescimento de 5,5% entre 1990 e 2002. Para 2005, a projeção da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) é uma expansão global do comércio de 10,2%, acima do pico histórico de 9% entre 1963 e 1973.
A pujança desses números, porém, está longe de contentar a massa dos países emergentes, que pleiteia maior acesso a mercados, especialmente para produtos agrícolas, nos países ricos.
A 11ª reunião da Unctad, que começa hoje em São Paulo, pretende ser um fórum para criar uma estratégia de inserção comercial dos países periféricos. A instituição argumenta que só o crescimento do comércio não ajuda no combate às desigualdades.
Liderado pelo Brasil e pela Índia, o G20 defende a ampliação do mercado agrícola dos países ricos para países pobres. O grupo surgiu no impasse nas negociações da OMC em Cancún, em 2003. Hoje, os principais negociadores de Estados Unidos, União Européia, Índia, Austrália e Brasil tentam destravar o impasse nas conversas sobre a Rodada Doha, que ocorre no âmbito da OMC.
A estratégia do G20 é firmar a posição dos participantes diante dos EUA e da UE, que ainda vacilam em oferecer propostas que contemplem redução de barreiras tarifárias e não-ta
rifárias, de subsídios domésticos e à exportação.
Já o G77, que nasceu com a Unctad em 1964, adota uma retórica de teor mais político. "Temos que empreender a determinação de manter a solidariedade entre nós", disse Mohamed Al-Thani, ministro do Qatar e representante do G77. O Mercosul também aproveita o ambiente da Unctad para fazer avançar o acordo com a UE. Os blocos se reúnem hoje.
O Brasil defende a união entre os países pobres, mas não despreza participar do seleto grupo dos países ricos, representado, por exemplo, pelo G8.
A própria estratégia de liderar um processo de parceria com países em desenvolvimento faz parte da tática para conseguir mais espaço nos fóruns internacionais. Outro objetivo é ampliar o acesso a mercados. "Quem teve tratamento diferenciado até hoje foram os países ricos, cuja produção, sobretudo a agrícola, ficou isenta [de abertura comercial]", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Para tentar mudar esse quadro, o governo brasileiro jogará em dois tabuleiros. De um lado, iniciará negociações comerciais entre países em desenvolvimento. Do outro, quer usar a aliança com seus parceiros da periferia para pressionar UE, Japão e EUA a abrirem esses mercados para seus produtos mais competitivos.


Colaborou André Soliani, em São Paulo


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