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Alta dos alimentos compromete ainda mais o orçamento
Refeições na Baixada Fluminense deixam de contar com carne, e famílias economizam cortando até a compra de gás
Renda das famílias se apóia na aposentadoria dos mais velhos; esperança vem com os mais jovens, na escola
ou no alistamento militar
DA SUCURSAL DO RIO
Para as mulheres que vivem
no bairro pobre e quase rural de
Marapicu, em Nova Iguaçu, o
principal problema atualmente
é a persistente alta dos preços
dos alimentos, que as obriga a
cortar as quantidades adquiridas e compromete o consumo.
"Comprava de 15 kg a 20 kg
de arroz e 10 kg de feijão. Agora,
só dá para levar 10 kg de arroz e,
no máximo, 5 kg de feijão. Tive
de cortar outras coisas", diz
Luiza dos Santos Silva.
Ela relata que freqüentemente as refeições não contam
com carne à mesa. "Só deu para
comer bem quando matamos
um porco no Natal passado." O
bicho também era criado "à
meia" com o vizinho.
Elisabeth Conceição Ferreira, 40, conta que o preço da comida aumentou tanto que falta
dinheiro para o gás: "Daí, corro
para a lenha [num fogão improvisado com tijolos e uma grade
de metal], fazer o quê?"
No acumulado deste ano até
maio, o arroz e o feijão-preto
(mais consumido no Rio), itens
de primeiríssima necessidade,
subiram 25,75% e 46,68%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do
IBGE. E empurraram os alimentos para cima -alta de
6,40% de janeiro a maio.
José Faustino reclama que
poderia "comer melhor" se o
terreno no fundo da casa não
estivesse encharcado pela língua negra que também atravessa o quintal de Luiza. "Fica imprestável. Não dá para plantar
nada", diz Faustino, que mora
com a mulher e os dois filhos.
Mais sorte
Nesse aspecto, André Henrique Oliveira, 33, casado com
Elisabeth, tem um pouco mais
de sorte. No terreno mais seco e
maior, cultiva pés de frutas, cana e planta eventualmente verduras. Na pequena casa de madeira, vivem com os três filhos.
Ele construía uma casa melhor, de alvenaria, mas ficou desempregado. Teve de parar a
obra. A moradia ficou sem telhado. "Há sete meses, perdi o
emprego. Trabalhava sem carteira numa construção, em
obra grande, mas, pelo menos,
tinha um dinheiro certo." Ganhava salário mínimo. Agora,
consegue apenas, no máximo,
R$ 400 com os bicos. O que ajuda é a renda da mulher, Elisabeth, que recebe R$ 300 para
cuidar de uma criança.
Nesse cenário de pobreza
crônica, a esperança muitas vezes reside nos filhos -todos os
entrevistados estavam no colégio- e nos mais velhos. José
Francisco de Souza Cardoso,
40, recorre ao pai aposentado:
"Ajudo quando posso porque
também ganho pouco, um salário mínimo só. É pouco, mas é
certo", afirma Sebastião Cardoso, 68.
Já a mulher de José Francisco, Luciana de Souza Andrade,
39, aguarda com ansiedade a
ida do filho Thiago, 17, para o
Exército. Ela espera o soldo para reforçar o modesto orçamento da família.
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