São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Bico na construção civil é a única alternativa

DA SUCURSAL DO RIO

Com o mesmo nome de uma famosa via na boêmia Lapa, no centro do Rio, a rua Gomes Freire no bairro de Marapicu, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), é um retrato da pobreza crônica: chefes de família vivem como subempregados -quase todos de bicos na construção civil- e com renda insuficiente para atender às necessidades básicas do lar.
"Faço biscate quando tem, quando aparece, mas a concorrência é grande. Todo mundo aqui mexe com obra. Num mês bom, consigo trabalhar, no máximo, três semanas. Dá uns R$ 400, em média. No máximo, R$ 500", diz José Francisco de Souza Cardoso, 40.
Ele vive com a mulher, Luciana, numa modesta casa, sem reboco e com a "área de serviço" ainda feita de tábuas com seus quatro filhos -todos homens.
Nos fundos, onde o esgoto corre a céu aberto, cria meia dúzia de galinhas e uma porca prenha -"às meias", como diz, com o vizinho de frente e amigo, Adegilson João da Silva, 50.
Além da porca, os dois têm em comum o subemprego e a insuficiência de renda.
"Eu só cuido da casa. E ele faz biscates, mas nem sempre aparece. Quando está bom, dá para tirar uns R$ 500 no mês. Vivemos com muito aperto", relata Luiza dos Santos Silva, mulher de Adegilson, sobre a situação do marido.
Na quinta-feira passada, porém, Silva teve mais sorte que o vizinho: tinha arrumado um bico naquela semana, que lhe renderia R$ 150.
O casal tem cinco filhos, e o único rendimento adicional são os R$ 200 que a filha mais velha, Sandra, recebe para atender telefonemas numa ONG (Organização Não-Governamental) do bairro que oferece cursos de informática.

Abaixo da linha
Somada a renda do pai e da filha, a família de sete pessoas vive com apenas R$ 100 per capita ao mês -abaixo da linha de pobreza definida pelo Banco Mundial (R$ 147 per capita).
No local, emprego formal é uma raridade e a alta persistente do preço dos alimentos restringe ainda mais o padrão de consumo dos moradores.
José Francisco de Souza Cardoso relata que há mais de quatro anos não tem a carteira de trabalho assinada.
Adegilson vive a situação há mais tempo: 14 anos fora do mercado formal, desde que perdeu o emprego de vigia em Itaipu (região oceânica de Niterói), segundo a mulher, Luiza.
A situação se repete na vizinhança: "Eu não sei o que é carteira assinada há 18 anos. Nesse tempo, tenho vivido apenas de biscate em obra, fazendo serviço de pedreiro, mas nem sempre aparece", conta Luiz Faustino, 50, cujo último emprego formal também foi na construção civil.
Ele também reclama da concorrência: "Tem muito pedreiro por aqui. Também não sobra mais nada para fazer. Mas isso é ruim porque a gente acaba ganhando muito pouco. Nem dá para as despesas".


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