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Bico na construção
civil é a única alternativa
DA SUCURSAL DO RIO
Com o mesmo nome de
uma famosa via na boêmia
Lapa, no centro do Rio, a rua
Gomes Freire no bairro de
Marapicu, em Nova Iguaçu
(Baixada Fluminense), é um
retrato da pobreza crônica:
chefes de família vivem como subempregados -quase
todos de bicos na construção
civil- e com renda insuficiente para atender às necessidades básicas do lar.
"Faço biscate quando tem,
quando aparece, mas a concorrência é grande. Todo
mundo aqui mexe com obra.
Num mês bom, consigo trabalhar, no máximo, três semanas. Dá uns R$ 400, em
média. No máximo, R$ 500",
diz José Francisco de Souza
Cardoso, 40.
Ele vive com a mulher, Luciana, numa modesta casa,
sem reboco e com a "área de
serviço" ainda feita de tábuas
com seus quatro filhos -todos homens.
Nos fundos, onde o esgoto
corre a céu aberto, cria meia
dúzia de galinhas e uma porca prenha -"às meias", como
diz, com o vizinho de frente e
amigo, Adegilson João da Silva, 50.
Além da porca, os dois têm
em comum o subemprego e a
insuficiência de renda.
"Eu só cuido da casa. E ele
faz biscates, mas nem sempre aparece. Quando está
bom, dá para tirar uns R$
500 no mês. Vivemos com
muito aperto", relata Luiza
dos Santos Silva, mulher de
Adegilson, sobre a situação
do marido.
Na quinta-feira passada,
porém, Silva teve mais sorte
que o vizinho: tinha arrumado um bico naquela semana,
que lhe renderia R$ 150.
O casal tem cinco filhos, e o
único rendimento adicional
são os R$ 200 que a filha
mais velha, Sandra, recebe
para atender telefonemas
numa ONG (Organização
Não-Governamental) do
bairro que oferece cursos de
informática.
Abaixo da linha
Somada a renda do pai e da
filha, a família de sete pessoas vive com apenas R$ 100
per capita ao mês -abaixo da
linha de pobreza definida pelo Banco Mundial (R$ 147
per capita).
No local, emprego formal é
uma raridade e a alta persistente do preço dos alimentos
restringe ainda mais o padrão de consumo dos moradores.
José Francisco de Souza
Cardoso relata que há mais
de quatro anos não tem a carteira de trabalho assinada.
Adegilson vive a situação
há mais tempo: 14 anos fora
do mercado formal, desde
que perdeu o emprego de vigia em Itaipu (região oceânica de Niterói), segundo a mulher, Luiza.
A situação se repete na vizinhança: "Eu não sei o que é
carteira assinada há 18 anos.
Nesse tempo, tenho vivido
apenas de biscate em obra,
fazendo serviço de pedreiro,
mas nem sempre aparece",
conta Luiz Faustino, 50, cujo
último emprego formal também foi na construção civil.
Ele também reclama da
concorrência: "Tem muito
pedreiro por aqui. Também
não sobra mais nada para fazer. Mas isso é ruim porque a
gente acaba ganhando muito
pouco. Nem dá para as despesas".
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