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EM TRANSE
Operadores do mercado externo dizem que frases do financista visam derrubar papéis brasileiros e lucrar com derrocada
Soros lucra na quebra do Brasil, diz analista
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Investidores estrangeiros têm
operado na praça financeira internacional com a expectativa de
lucrar com a quebra do Brasil.
No mercado de idéias sobre o
futuro do país, as sucessivas declarações do financista George
Soros de que o Brasil caminha para a bancarrota começam a chamar a atenção. Há quem diga que
Soros provavelmente tem "levado
sua boca aonde seu dinheiro está"
(tradução de expressão comum
em Wall Street, "putting his
mouth where his money is").
Ou seja, Soros integraria o time
dos que lucrariam se o Brasil desse calote em sua dívida, ou a reestruturasse, como os especialistas
de mercado preferem dizer.
"Infelizmente, eles [os investidores estrangeiros" começam a
cheirar o sangue na água, como
tubarão. Eles vêem que o Banco
Central vai ter de fazer leilão [de
títulos cambiais e operações com
dólar no mercado futuro interno"
e começam a empurrar o Brasil
até que não consiga fazer a renegociação", disse Raphael Kassin,
chefe para mercados emergentes
da área de renda fixa do ABN-Amro Asset em Londres.
Para Kassin, as declarações de
Soros não são isentas de interesse.
"Acho que o Soros nunca deu
uma declaração que fosse independente de sua posição [no mercado financeiro". Ninguém nunca
o levou a sério. Quando ele faz um
comentário, já se sabe que ele o
faz de acordo com sua posição
[no mercado". Agora, é comentário que machuca, que afeta", diz.
Dois operadores de mercado,
um de Nova York e outro de São
Paulo, também disseram à Folha
que suspeitam do objetivo do financista quando ele faz esse tipo
de análise sobre o Brasil. Ambos
ressaltaram, no entanto, que não
há como afirmar se seus fundos
de investimento estão em posição
contrária ao Brasil.
"Curto em Brasil"
Posicionar-se contra o país é o
mesmo que ficar "short" (fazer
venda a descoberto) nos títulos da
dívida externa brasileira. É uma
operação muito comum no mercado internacional de bônus soberanos, ou seja, de papéis de governos.
De forma resumida, a transação
funciona da seguinte maneira: o
investidor "aluga" os títulos da dívida externa de outro investidor,
com o compromisso de devolvê-los em data pré-acertada. Em seguida, vende os títulos no mercado. Se o país quebrar, o preço dos
títulos da dívida externa do governo despenca.
Assim, o investidor que alugou
os papéis, e que espera a bancarrota, recompra os títulos no mercado por uma fração do que embolsou com a venda, e os devolve
para quem os alugou, pagando ao
dono dos papéis pequena taxa de
juros. Essas operações contribuem para a queda dos papéis no
mercado, pois fazem com que a
oferta desses títulos aumente.
No caso do Brasil, tais transações são mais frequentes com os
C-bonds, títulos da dívida externa
mais negociados no mercado. Na
sexta-feira, esses papéis fecharam
cotados a US$ 0,50, isto é, a 50%
de seu valor de face.
"Acho que o Soros obviamente
está "falando do livro dele" [de
seus interesses". Ele deve ter posição "curta" em Brasil", disse Kassin.
No final do mês passado, Soros
disse, em entrevista à TV americana ABC, que, independentemente dos resultados da eleição
para presidente, o Brasil deveria
quebrar.
"Será eleito um presidente que
não é apreciado pelos mercados.
As taxas de juros [risco-país" vão
chegar a 25%. A essa altura, o Brasil estará falido", afirmou. O presidente a que ele se referiu é Luiz
Inácio Lula da Silva, candidato do
PT.
No final do mês passado, no encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco
Mundial, Soros podia ser encontrado sem dificuldade nos seminários sobre o Brasil.
Em um deles, em que o presidente do Banco Central do Brasil,
Armínio Fraga, era palestrante,
Soros levantou-se para fazer perguntas a Armínio sobre a situação
do país.
Armínio foi seu funcionário, como administrador de um de seus
fundos especulativos. Armínio
tem dito que a avaliação de Soros
sobre o país é "equivocada", mas
tem evitado o confronto direto
com o ex-patrão. Em entrevista à
Folha, em Washington, questionado sobre se os dois haviam conversado nos últimos dias, Soros
respondeu: "Não quero entrar
nesse assunto".
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