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Para economista, país é um "mar em fúria"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A economista Eliana Cardoso,
professora da Universidade de
Georgetown, concorda com a opinião do presidente do BC, Armínio Fraga, de que o país enfrenta
hoje uma crise de confiança.
Mas, em sua opinião, Armínio
"tem uma postura ingênua"
quando cobra de Lula que se
comprometa com o ortodoxo
modelo econômico atual.
"O que o BC está pedindo ao
Lula, pelo interesse do país ou por
qualquer outra coisa, é um pedido
que, de certa maneira, é ingênuo.
É pedir que a oposição diga que
está de acordo com o modelo ortodoxo. É claro que a oposição
não vai fazer isso."
Leia a seguir a entrevista que
Eliana Cardoso concedeu à Folha,
por telefone, de Washington.
Folha - A turbulência no Brasil se
deve a uma crise de confiança, como diz Armínio Fraga?
Eliana Cardoso - Entre outras
causas, essa é uma razão importante. Alguém comparou a situação do Brasil ao filme "Mar em
Fúria". É um filme em que tudo o
que podia dar errado dá errado ao
mesmo tempo. A condição climática, o vento, a posição do navio,
tudo o que podia combinar para
fazer uma tormenta insuperável
ocorreu ao mesmo tempo. O que
Brasil está passando é comparável
a uma tormenta perfeita, tudo o
que podia dar errado se conjugou
ao mesmo tempo.
Há um país que já tinha uma dívida grande, que enfrenta uma
conjuntura internacional a pior
possível, porque o mundo está em
recessão [...", há um aumento da
aversão ao risco. Ou seja, há menos liquidez [oferta de dinheiro".
Menos capital indo para o Brasil
num momento em que se precisa
do capital, porque o setor privado
não consegue rolar a dívida [...].
Combine isso com o que vem pela
frente e a situação complica ainda
mais [..." A única causa não é a incerteza, mas é claro que tem um
papel importante.
Folha - Hoje não há impasse para
resolver essa situação? O governo
quer que o Lula anuncie sua equipe
econômica mesmo antes de se saber se ele ganhará a eleição.
Eliana - Isso eu acho que é o de
menos. Não acho que o Armínio
esteja pedindo para o Lula anunciar a equipe econômica dele, não.
Eu acho que ele quer que o Lula
anuncie que ele concorda com a
ortodoxia do FMI.
Folha - Mas isso o Lula já não fez?
Eliana - Isso ele nunca fez abertamente. Ele fez um discurso que é
duplo. Mesmo tendo dito que vai
manter a inflação baixa e austeridade fiscal, ele não está prometendo seguir o modelo que este
governo seguiu. E, na verdade, ele
não pode, o programa dele é outro. O que é BC está pedindo ao
Lula, pelo interesse do país ou por
qualquer outra coisa, é um pedido
que, de certa maneira, é ingênuo.
É pedir que a oposição diga que
está de acordo com o modelo ortodoxo. É claro que a oposição
não vai fazer isso [...] Eu acho que
o Armínio não está sendo político. Ele de fato acredita que essa é a
medida mais adequada ao país,
mas é claro que o PT não combina
com essa posição.
(LS)
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