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CRISE REAL
Venda deve cair de 1,7 milhão de carros para 1,5 milhão; fábricas esgotam medidas como férias coletivas e jornada menor
Montadoras estão à beira de onda de cortes
Marcio Fernandes/Folha Imagem
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Vista aérea do pátio de estoque da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) |
LÁSZLÓ VARGA
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
As montadoras chegaram no limite. A queda de até 20% nas vendas nos meses de 2002, em comparação a 2001, agravada em maio
e junho pela instabilidade econômica e as incertezas do consumidor, está levando empresas como
Volkswagen, General Motors
(GM) e Ford a paralisarem a produção com férias coletivas ou medidas semelhantes. São os primeiros passos para as demissões em
massa, segundo avaliações de especialistas para a Folha.
"As montadoras não fizeram os
ajustes que precisavam realizar
em 2001, com a esperança de que
2002 seria melhor. Mas as nuvens
escuras sobre a economia estão aí,
e a tendência é que a situação piore até dezembro", afirma Glauco
Arbix, especialista em indústria
automobilística da USP (Universidade de São Paulo).
Arbix lembra que o país tem um
excesso de montadoras (17 marcas) e de capacidade de produção,
que chega a 3,2 milhões de veículos por ano. "Acontece que as empresas têm produzido a metade
disso. As férias coletivas já estão
ocorrendo, e não descarto demissões nos próximos meses", afirma
o especialista.
Ou seja, muitos dos 93,8 mil metalúrgicos das montadoras podem perder seus empregos nos
próximos meses. Na Volkswagen,
o clima é de total incerteza. Os
15,2 mil funcionários da unidade
Anchieta, em São Bernardo do
Campo, no ABC paulista, não trabalharam de 4 a 9 de julho devido
à falta de encomendas. Medidas
mais radicais, como a semana de
trabalho de quatro dias, serão
adotadas em agosto.
"Trabalhamos atualmente em
sintonia fina para ajustar a produção à demanda. Em maio e abril
registramos um aumento nas
vendas, mas depois houve uma
queda de cerca de 10%", afirma
João Francisco Rached, vice-presidente de recursos humanos da
Volkswagen.
Os estoques de veículos da
montadora são enormes. Na unidade Anchieta há 27 mil automóveis parados nos pátios. Já na fábrica de Taubaté, no interior paulista, existem 15 mil veículos sem
compradores. O estoque normal
naquela unidade seria de 5.000
unidades.
A Volkswagen fechou acordos
com os sindicatos dos metalúrgicos das duas cidades que impedem demissões sem consulta às lideranças. "Mas podemos acionar
programas de demissões voluntárias. Ainda não pensamos em
usá-los. Evitamos fazer qualquer
previsão negativa ou positiva para
os próximos meses", diz Rached.
José Lopez Feijoó, presidente
interino do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), lembra
que as montadoras têm anunciado cortes nos investimentos devido às perdas de recursos durante
a crise dos fundos de investimentos, em maio. Para piorar a situação, o consumidor sofreu uma
queda do poder aquisitivo e está
adiando a compra de carros.
"Essa crise nos assusta. No momento em que a produção devia
decolar [julho e agosto] vem essa
onda de férias coletivas que também deve se refletir em outras indústrias do setor", diz.
No interior, o efeito dominó já
começou. Depois de a Volkswagen de Taubaté, no interior de São
Paulo, reduzir a jornada para quatro dias semanais em agosto, duas
das maiores autopeças da região
adotaram a mesma medida, diminuindo a produção.
Cortes efetuados
Algumas montadoras já iniciaram alguns cortes. Na unidade da
GM em São Caetano do Sul, no
ABC paulista, 207 empregados do
setor de engenharia foram dispensados no dia 5 de junho. Ou
seja, a área mais importante da fábrica, responsável pela elaboração de novos projetos, teve o pessoal reduzido.
Além disso, um programa de
demissões voluntárias eliminou
703 vagas nas unidades de São José dos Campos, no interior paulista, e de São Caetano. "O número
de empregados dessa fábrica diminuiu de 8.300 para 7.800 nesse
ano", afirma Turíbio Liberato, representante dos trabalhadores.
A GM também dará férias coletivas para os funcionários de 29 de
julho a 7 ou 9 de agosto, dependendo da linha de produção. Apenas a fábrica de Gravataí (RS) escapou da decisão. "Estamos adaptando a produção de nossas unidades à demanda. No início do
ano, prevíamos que o setor venderia 1,7 milhão de veículos. Nossa expectativa agora é de cerca de
1,5 milhão", diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da
empresa.
Os pátios da GM nunca estiveram tão lotados, segundo os trabalhadores. Há 20,8 mil automóveis sem compradores. "O normal seria um estoque de 13 mil a
15 mil veículos", diz Liberato.
Também as montadoras de caminhões amargam uma queda
drástica nas vendas. A Scania, em
São Bernardo do Campo, teve de
reduzir sua produção de uma média de 45 unidades por dia para
22. A empresa já teve de reduzir
em janeiro a jornada de trabalho
para quatro dias. Demitiu 160 dos
cerca de 2.300 metalúrgicos com
um programa de voluntariado.
Agora, mais 70 trabalhadores serão dispensados por causa da
queda nas encomendas.
Além dos problemas específicos
do setor, a produção de caminhões foi afetada pela desaceleração da economia. "As empresas
têm transportado menos mercadorias e não precisam de mais caminhões. Isso diminui mais a demanda", diz Emanuel Queirós,
diretor de marketing da Scania.
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