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ANÁLISE
Telhado de vidro compromete liderança de Bush
DO "FINANCIAL TIMES"
Foi uma má semana para o presidente dos Estados Unidos.
George W. Bush começou a semana tentando tomar a liderança
na batalha contra o crime corporativo e escorar a confiança do
público nos mercados e a encerrou tendo fracassado em ambos
os objetivos. As atenções se voltaram ao seus antecedentes no
mundo dos negócios e ao de pessoas que ele apontou para altos
cargos na administração pública.
O ponto alto da semana do presidente deveria ter sido o discurso
que ele fez em Nova York, na terça-feira, sobre as responsabilidades das corporações.
Bush havia compreendido que
confiar apenas na Securities and
Exchange Commission (SEC, a
agência que fiscaliza e regulamenta os mercados de valores mobiliários) para reformar o sistema financeiro deu brecha para que outros tomassem a iniciativa de defender a moralização no setor, em
especial os democratas, que controlam o Senado. Ao mesmo tempo, o constante gotejar de novos
escândalos, desde o colapso da
energética Enron no ano passado,
solapou a confiança dos investidores e conduziu o mercado a novos recordes de baixa.
O presidente queria transmitir
duas mensagens. Primeiro, que o
capitalismo dos EUA continua
fundamentalmente sólido. A economia dos EUA é o sistema mais
criativo, empreendedor e produtivo já desenvolvido. Segundo,
que o governo não pouparia esforços para combater a corrupção. Bush definiu um plano de dez
pontos, incluindo uma equipe de
combate ao crime financeiro, sentenças mais severas e apreensão
dos lucros ganhos com fraudes.
Embaraço
Mas essas mensagens terminaram soterradas por outras questões, como ficou claro em uma
entrevista na Casa Branca no dia
anterior ao discurso feito em Wall
Street. Ela foi dominada por questões sobre as ações de Bush nos
anos 80, quando ele era diretor da
Harken Energy, um grupo petroleiro do Texas. Bush foi inocentado pela SEC de qualquer delito relacionado ao uso de informações
privilegiadas para benefício próprio, mas as respostas dele não
conseguiram desviar as acusações
democratas de duplicidade.
As acusações se intensificaram
mais tarde, quando a Casa Branca
confirmou que Bush havia recebido empréstimos da empresa para
adquirir ações, uma prática que
ele condenou em seu discurso.
Enquanto isso, descobriu-se
que o vice-presidente, Dick Cheney, teria endossado a Andersen,
a empresa de auditoria caída em
desgraça devido ao caso Enron,
durante seu período no comando
da Halliburton, uma empresa de
energia que está sendo investigada pela SEC por supostas fraudes
contábeis.
Bush defendeu Cheney e outros
de seus indicados cujas conexões
com o mundo corporativo são
motivo de embaraço, diferentemente de presidentes anteriores
que rapidamente demitiram subordinados suspeitos. Isso forneceu aos democratas uma plataforma para tirar vantagem nas eleições legislativas deste ano.
Excessos regulatórios
Há dois perigos. O primeiro se
relaciona ao crime corporativo.
Surgiu o risco de regulamentação
excessiva. Bush está preocupado,
e com razão, em evitar que qualquer legislação que venha a ser
aprovada algeme as forças criativas do capitalismo. Mas ele aceitou a necessidade de ação por parte do Congresso apenas recentemente, e as propostas que ele defende até agora não são rigorosas
o suficiente. Enquanto hesitar,
não será capaz de evitar os aspectos prejudiciais do projeto de lei
em discussão no Senado.
O segundo perigo concerne o
futuro do governo. Um líder que
parecia invulnerável desde o ataques de 11 de setembro tem agora
um flanco aberto aos ataques. Sua
popularidade continua elevada,
mas o sucesso que obteve em sua
agenda doméstica é limitado. Os
números divulgados na sexta-feira pela Universidade de Michigan
demonstram que a confiança dos
consumidores está despencando
e que a preocupação com as fraudes é o cerne do problema.
Bush certamente não sofre
ameaça de investigação pessoal
da espécie que perturbou a Presidência de seu antecessor. Mas as
perspectivas de seu partido para
as eleições legislativas de novembro pioraram.
Liderança em xeque
Isso poderia ter consequências
importantes para a próxima fase
da guerra contra o terrorismo.
Bush está determinado a impor
como objetivo seguinte à queda
do Taleban uma mudança de regime no Iraque. Os estrategistas
militares estão preparando planos para uma invasão em larga
escala no começo do ano que vem
para derrubar Saddam Hussein.
No entanto, as consequências
econômicas da concentração militar que seria necessária na região
podem ser imensas. Nos meses
que antecederam a Guerra do
Golfo, em 1991, os preços do petróleo subiram e um pequeno
choque foi sentido em todo o
mundo. Dado o momento muito
menos robusto da economia
mundial hoje, as consequências
de uma alta semelhante no final
deste ano poderiam ser muito
mais graves.
Bush acredita que derrubar
Hussein poderia fazer com que
caiam outros dominós no Oriente
Médio. Mas um presidente vulnerável na frente doméstica pode
encontrar dificuldades para conceder prioridade à ação militar
contra o Iraque. Se ele quiser levar
adiante sua ambiciosa agenda internacional, precisa primeiro
controlar a situação em casa.
Tradução de Paulo Migliacci
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