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EUFORIA GLOBAL
Volume de empréstimos e de investimentos voltam aos níveis de 94; fundos de emergentes recebem US$ 10 bi
Liquidez mundial atinge níveis históricos
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Depois de sucessivos abalos nos
últimos três anos, os fluxos de capital privado e a oferta de crédito
por bancos centrais de países industrializados voltaram a níveis
históricos de alta.
Relatório recém divulgado pela
consultoria britânica CrossBorder Capital mostra que, em setembro deste ano, o nível de liquidez mundial (medido em uma escala percentual de 0 a 100) atingiu
71,3%. Ao longo de 2001, o índice
não ultrapassava 30%.
Esse patamar se aproxima dos
valores recordes registrados em
1994, quando o mundo vivia uma
era de prosperidade econômica,
no auge da globalização.
Segundo Angela Cozzini, economista da consultoria, o cálculo
é feito com base no fluxo de capitais e na oferta de dinheiro pelos
principais bancos centrais e privados do mundo.
Países emergentes beneficiam-se do novo ciclo de fartura. Segundo dados da consultoria EmergingPortfolio.com, pelo menos
US$ 10 bilhões em recursos novos
foram injetados neste ano em
fundos de ações dedicados a países emergentes. Desde janeiro, a
Bovespa teve alta de 86%. O risco
Brasil caiu 65%.
Ação do Fed
Cozzini lembra que os EUA deram início ao atual ciclo de liquidez no ano passado. "O ano de
2002 foi fraco em termos de liquidez, mas, a partir do segundo semestre, tivemos recuperação rápida sustentada por políticas monetárias [especialmente cortes na
taxa básica de juros] do Fed [banco central dos EUA]."
Desde o estouro da "bolha" de
valorização das ações de companhias de tecnologia, no início da
década, os níveis de liquidez internacional vinham sendo afetados negativamente por fatores como os atentados do 11 de Setembro, as fraudes contábeis de corporações americanas e a guerra
dos EUA contra o Iraque.
Havia ocorrido uma fuga dos
investimentos de risco mais elevado, como os títulos de países
emergentes.
"Em 2000, chegamos a US$ 1,4
trilhão em investimentos diretos.
Em 2002, com o cenário de aversão ao risco, o fluxo encolheu para
US$ 650 bilhões", disse Antonio
Carlos de Lacerda, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica).
Poucos analistas dizem ver um
final próximo para o atual ciclo de
liquidez, embora a CrossBorder
Capital tenha identificado um leve declínio nos últimos três meses. Em outubro, o índice registrado foi 70,8%.
"Acreditamos que há uma tendência de queda moderada nos
próximos meses", diz Cozzini.
Para Michael Carey, vice-presidente do Crédit Lyonnais em Nova York, esses sinais de recuo na
liquidez são marginais. "Não é incorreto falar que há alguma queda, mas isso é uma história para
ser contada no final de 2004 ou no
início de 2005, quando o Fed, efetivamente, vier a aumentar suas
taxas de juros", disse o analista.
"O Fed conduziu a expansão da
liquidez em 2002 e será o responsável pela desaceleração dos níveis de liquidez em 2004. O Banco
Central Europeu e o BC do Japão
devem manter o estímulo à liquidez, pois as taxas de crescimento
dessas economias ainda são modestas", prevê a CrossBorder.
Na avaliação do economista
Alexandre Póvoa, do banco Modal, esse recuo poderia ser reflexo
da elevação dos juros do banco
central inglês.
Em novembro deste ano, o Banco da Inglaterra (BC do Reino
Unido) aumentou a taxa básica de
juros de 3,5% para 3,75%.
"Esse fato tem algum peso, mas
acredito que ainda não há sinais
concretos que apontem para uma
queda da liquidez num futuro
próximo. Basta lembrar que o Fed
não sinalizou a intenção de aumentar a sua taxa básica de juros
tão cedo", avaliou Póvoa.
De acordo com Lacerda, a liquidez vai se manter, "a não ser que
haja um baque muito forte, como
novos atentados terroristas ou
uma desconfiança dos investidores a respeito da sustentabilidade
dos gigantescos déficits gêmeos
[em conta corrente e orçamentário] dos EUA."
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