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C-Bond rende o dobro de título dos EUA
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O investimento nos papéis da
dívida brasileira mais negociados,
os C-Bonds, asseguraram desde o
seu lançamento, em 15 de abril de
1994, até hoje um rendimento
médio anual pelo menos duas vezes maior que o de títulos do governo dos EUA, segundo um levantamento do JP Morgan.
Outro estudo, do FMI (Fundo
Monetário Internacional), mostra
que, no período de 30 anos, entre
1970 e 2000, os papéis dos países
emergentes renderam o mesmo
que os títulos norte-americanos,
cerca de 9% ao ano.
Em comum, os levantamentos
reafirmam que, dada a vulnerabilidade dos emergentes, os papéis
desses países oscilam entre picos
de valorização e de depreciação.
Os dados de Drausio Giacomelli, estrategista do JP Morgan para
mercados emergentes, mostram
que, se o investidor tivesse comprado o C-Bond a US$ 100 em
1994, teria US$ 611 em 27 de janeiro passado, quando o papel atingiu recorde histórico. ""Acontece
que a volatilidade desse negócio é
uma maravilha. A vantagem de
um papel norte-americano, para
além do chamado risco zero, é a
volatilidade muito menor", argumenta Giacomelli.
Em maio de 1998, no período
que antecedeu a quebradeira do
real, o C-Bond equivalia a US$
282. Ao final de janeiro de 1999
(após a desvalorização), recuou
para US$ 185. Em abril de 2001,
pré-racionamento de energia, já
havia se recuperado e estava em
US$ 370. No último dia de outubro, passada a necessidade de racionamento, não superava US$
320. Em 2002, atingiu pico de US$
420 em abril. Mas em 27 de setembro, com o temor da vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da
Silva nas eleições presidenciais, o
título não passava de US$ 277.
Quando o temor passou, o papel
voltou a recuperar valor, até se situar nos hipotéticos US$ 600.
Pelos cálculos do banco, o retorno anual médio dos C-Bonds na
última década foi de 17,5%. Já o
dos papéis americanos não superou o patamar de 6% a 7%.
Os efeitos da volatilidade sobre
o desempenho dos papéis dos
emergentes são evidentes também no estudo do FMI. Ele mostra que o investimento em dívida
de emergentes entre 1970 e 2000
pode ser dividido em três ciclos.
No primeiro, entre 1970 e 1989, os
"spreads" (rentabilidade acima
da do papel dos EUA exigida pelos investidores para adquirir um
título de emergente) são negativos ou pouco superiores a zero.
Depois, até 1993, os rendimentos
são de 23% em média e, a partir de
1994, caem para 5% ao ano
-sempre acima da dos EUA.
Não por acaso, os maiores
"spreads" são exigidos pelos investidores em períodos posteriores a pacotes econômicos ou crises de solvência que implicam
reestruturação de dívida. Tome-se o exemplo do Brasil. No período 1989-92, o "spread" médio ficou em 20%, resquício direto da
moratória decretada em 1987 pelo
então presidente José Sarney e pelos efeitos do confisco no Plano
Collor, em 1990.
Quando da crise do México, em
1995, o "spread" brasileiro tampouco cedeu: oscilaram 26,6%,
entre 1992 e 1995. Recuaram somente quando do aparente êxito
do Plano Real, entre 1996 e 1999.
Naquele intervalo, o "spread" médio exigido pelos investidores nos
títulos brasileiros não superava
1,5%.
""Existe uma volatilidade muito
grande nas taxas dos países emergentes, motivada por uma sucessão de "defaults" nos últimos anos.
Assim, em períodos de problemas, as taxas sobem; nos de calmaria, tendem a cair", explica
Carlos Langoni, ex-presidente do
Banco Central. ""Numa média a
longo prazo, no entanto, é normal
que as taxas convirjam para as do
Tesouro norte-americano."
O ex-presidente do BC argumenta que a pesquisa demonstra
o alto grau de mobilidade do capital. ""Quando há um fluxo muito
positivo de recursos, os retornos
oferecidos pelos ativos, obviamente, caem, assim como os
"spreads"", completa Langoni.
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