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SONHO DISTANTE
Com orçamento curto, famílias cortam gastos com saúde, deixam de pagar escola e adiam plano de consumo
Crise afasta classe média do paraíso
DA REDAÇÃO
Nos últimos seis anos, os 7,9
milhões de famílias consideradas
de classe média no Brasil perderam mais de 30% de sua renda em
valores reais (descontada a inflação). Metade desse tombo ocorreu em 2002, segundo dados de
uma pesquisa da Ipsos-Marplan
realizada em nove regiões do país
e fornecida com exclusividade para a Folha.
Para ajustar-se à nova realidade,
essa fatia da população, que representa cerca de 17% do total de
famílias brasileiras, cortou gastos
essenciais, reduziu o lazer e adiou
planos de consumo.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e da ANS (Agência Nacional
de Saúde) mostram que cerca de 4
milhões de pessoas -a maioria
das quais de classe média- perderam seus planos de saúde nos
últimos quatro anos.
Há uma década, o calote irrecuperável em faculdades privadas
era de 1,5%. Hoje, está em 7%, segundo números da consultoria
Hoper. Calcula-se que somente
40% dos universitários pagam
suas mensalidades em dia.
Para equilibrar-se sobre uma
renda mais achatada, a classe média começou a abrir mão de símbolos de sucesso e conforto.
A pesquisa da Ipsos-Marplan
mostra que caíram drasticamente
o consumo de bebidas importadas, as viagens e a frequência a
academias e clubes.
Com a crise, também houve um
visível esforço para baratear comodidades e outros serviços: grupos foram criados para "dividir"
personal trainers e psicólogos
passaram a oferecer "terapia virtual". Os gastos por pessoa em
restaurantes recuaram de R$ 30,
há dois anos, para R$ 20 em 2003.
Empobrecimento
Na opinião de Waldir Quadros,
professor da Unicamp, o que se
viu nos últimos anos foi "um processo estrutural de empobrecimento dessa classe, provocado
pelo desemprego, pela onda de
terceirizações e pela deterioração
dos salários".
No entanto, o principal vilão do
padrão de vida da classe média foi
a disparada dos preços dos serviços e tarifas públicas. "São itens
que pesam na sua cesta de consumo", observa o economista Ricardo Carneiro, do Centro de Conjuntura Política e Econômica da
Unicamp.
Segundo estudo desse centro, o
custo de itens como gasolina,
energia elétrica, telefonia e cuidados pessoais subiu bem acima da
inflação desde a desvalorização
cambial de 1999, corroendo o poder aquisitivo da classe média.
A situação piorou no ano passado, quando, segundo dados da Ipsos-Marplan, entre 17% e 20% da
renda dessas famílias evaporou.
As pessoas do topo e os da base
da escala econômica foram menos sacrificadas, registrando queda real de renda em torno de 10%
em 2002. As perdas acumuladas
em seis anos também foram menores nessas faixas.
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