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SONHO DISTANTE
Demissões afetam operadoras, já que 70% dos contratos são coletivos; preços subiram 247% desde o Real
4 milhões perdem planos de saúde, e fila do SUS cresce
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase 4 milhões de brasileiros
perderam a proteção de planos de
saúde nos últimos quatro anos.
Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 1998 havia 38,7 milhões de usuários desses planos
no país, o equivalente a 24,5% da
população. Neste ano, segundo
estimativa da ANS (Agência Nacional de Saúde), esse número
caiu para 35 milhões.
A onda de reestruturações de
empresas e enxugamento de quadros que varreu o país nos últimos anos expulsou os usuários
desses planos, grande parte deles
oriunda da classe média.
As empresas de medicina de
grupo, que em 2000 contabilizavam 18,4 milhões de usuários,
agora estão com 16,2 milhões.
"Cerca de 70% dos planos de saúde são coletivos, contratados pelas empresas para seus empregados. Como o desemprego aumentou, perdemos esses usuários",
diz Arlindo Almeida, presidente
da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).
Segundo Almeida, alguns assalariados que terminaram na economia informal ou abriram pequenos negócios conseguiram
comprar planos individuais. Mas,
afirma ele, "a maioria dos que
perderam o emprego ficou sem
cobertura".
A redução do número de planos
individuais é um sintoma de que a
classe média passou a cortar também esse tipo de gasto. Só as empresas de medicina de grupo perderam 500 mil usuários de planos
individuais nos últimos dois anos.
Dos 4,1 milhões de beneficiários
de planos pessoa física que existiam há dois anos, restam hoje 3,6
milhões.
Nas seguradoras, o número de
pessoas cobertas por seguro-saúde caiu de 6,1 milhões para para
5,2 milhões -um recuo de 14,7%,
segundo a Fenaseg. Uma das modalidades mais atingidas foi a de
seguros individuais. "Há cinco
anos, metade dos nossos segurados tinha apólices individuais. A
modalidade hoje representa 30%
dos negócios", diz João Alceu
Amoroso Lima, diretor de Saúde
da Fenaseg (Federação Nacional
das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização).
De acordo com Lima, parte dos
clientes das seguradoras migrou
para planos mais baratos e outros
terminaram na fila do SUS.
Dados do Ministério da Saúde
mostram que, enquanto caía o
número de beneficiários de planos de saúde, crescia o número de
atendimento nos ambulatórios
públicos.
De 4 milhões de procedimentos
realizados em 1998, o movimento
saltou para 5,5 milhões no ano
passado. O ministério não tem
uma avaliação sobre a causa desse
crescimento. Também não dispõe
de estatísticas sobre o perfil socioeconômico dos atendidos nas
suas unidades em todo o país.
Custo elevado
Os preços cada vez mais altos
das mensalidades dos planos de
saúde, aliados à pauperização da
classe média, também explicam a
redução do número de usuários
desses planos. Os contratos de assistência médica subiram 247%
desde o início do Plano Real até o
mês passado, de acordo com dados da Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas).
O peso desses gastos no orçamento da classe média dobrou
em dez anos, segundo a última
pesquisa disponível realizada pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Dados desse pesquisa mostram
que em 1987 os planos de saúde
representavam 17% dos gastos
com saúde das famílias com renda mensal acima de 30 salários
mínimos.
Em 1996, esse percentual havia
saltado para 32%. O estudo baseou-se em informações da POF
(Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE, realizada naqueles
anos. (SANDRA BALBI)
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