Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Economista defende "mudança estrutural"
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista João Antonio de
Paula, professor do departamento de economia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) diz que sem distribuir a riqueza e renegociar a dívida interna, o crescimento atual não se
sustenta e não leva ao desenvolvimento. Para ele, o crescimento
deste ano vai ter um papel paradoxal para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a
partir do sucesso que vai obter, ele
se sentirá confortável para manter
o modelo. "Esse é o grande problema do governo, acreditar que
pode ter um resultado diferente
do governo Fernando Henrique
fazendo a mesma política."
Folha - O país voltou a crescer, isso
mostra que a política econômica do
governo está no caminho certo?
João Antonio de Paula - Nos últimos 20 anos assistimos a um processo de crescimento com altos e
baixos: em 2000 o país cresceu
4,4% e em 2001, 1,5%, quando tivemos o apagão. Acho que esse
fenômeno vai se repetir de novo.
Os problemas estruturais que tolhem o crescimento sustentado
não foram sanados.
Folha - Quais são os problemas?
Paula - O problema mais importante é o potencial não explorado
do mercado interno. Temos 80
milhões de pessoas com capacidade para consumir. Os outros 90
milhões que estão fora do mercado é que garantiriam uma mudança no país.
Folha - Como integrar essa massa
no mercado consumidor?
Paula - É preciso mexer na estrutura da propriedade, ou seja,
naquilo que Celso Furtado chama
de distribuição primária da renda. Se isso não ocorrer, não vamos ter mudança de fato nas mazelas históricas brasileiras.
Folha - O que é preciso fazer para
mudar o país?
Paula - Estamos falando da reparação de uma injustiça histórica: a França fez uma revolução social e também no ensino. Os EUA
fizeram a lei de terras de 1863,
fundamental para garantir acesso
à riqueza. Todos os países que ficaram prósperos é porque em algum momento fizeram distribuição da riqueza. Não vamos chegar
ao desenvolvimento se não mudarmos essa estrutura.
Folha - Qual é a saída?
Paula - A saída é renegociar a dívida interna: chamar os banqueiros e dizer que a situação é insustentável do ponto de vista social e
político. É preciso usar esses recursos para investimento em setores estratégicos como a agricultura voltada para o mercado interno e na construção civil.
Folha - O que fazer para mudar o
país e reduzir as desigualdades?
Paula - É preciso fazer a reforma
agrária e a reforma do ensino.
Celso Furtado falava em mudar a
formação do capital humano,
preparar as pessoas para usar as
novas ferramentas e tecnologias.
Para isso é preciso mudar a concepção da estrutura educacional
brasileira. A qualidade do ensino
é precaríssima. O Brasil é um dos
últimos colocados em testes internacionais de matemática. Mudar
isso passa por melhoria das escolas e dos salários dos professores.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Piva quer tributo menor e "obsessão exportadora" Índice
|