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COMÉRCIO EXTERIOR
País não vai poder contar com queda das importações no próximo ano para obter superávit maior
Sem vender mais, país lucra menos em 2003
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil não poderá depender
somente da contração das importações em 2003. Se quiser obter o
superávit comercial de US$ 9 bilhões que pretende, o país terá de
exportar mais e não deixar que a
taxa de câmbio se aprecie para
manter os produtos brasileiros
competitivos e evitar nova onda
de importações. E, por mais paradoxal que seja, contar que a economia cresça pouco.
A Folha colheu pesquisas preparadas por bancos e instituições
ligados ao setor. O ponto comum
é que qualquer tentativa de saltar
de US$ 7 bilhões, a previsão oficial
de superávit deste ano, para US$ 9
bilhões em 2003 passa pelo aumento de exportações.
Pelas projeções do BBV, o superávit no próximo ano será de US$
8,8 bilhões. O banco espanhol baseia sua análise nos seguintes termos: o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) se manterá
em declínio -deve cair de US$ 16
bilhões, a estimativa para este
ano, para US$ 15 bilhões. Nessas
circunstâncias, para fechar suas
contas externas, o Brasil teria dois
caminhos: ou continuar a depreciar a taxa cambial (hipótese que
qualifica como pouco provável)
ou estabelecer o crescimento da
economia entre 2% e 3%.
"Esse crescimento menor do
PIB não permite que ocorra tanta
pressão por aumento de importações", diz Fernando Honorato
Barbosa, economista do BBV.
Em 2002, o motivo reconhecido
até pelo governo para o desempenho na balança comercial é simples: a brutal queda nas importações (18,1%, no acumulado até
agosto), que compensou, com
margem, os 6% de recuo no volume em dólares das exportações.
Embora estime que as importações devam aumentar em 5% no
próximo ano, o banco calcula que
o valor arrecadado com as exportações vai subir em 9,7%, o suficiente para compensar esses gastos e permitir o superávit próximo ao pretendido pelo governo.
"Não é um número exuberante,
mas possível", diz Barbosa. "Se a
Argentina emitir qualquer sinal
de melhora, as exportações vão
crescer", completa. Segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), de janeiro a julho, a queda
das vendas para a Argentina representou 81,8% da redução total
das exportações brasileiras -ou
perda de US$ 2,1 bilhões.
A Global Invest prevê que o superávit comercial em 2003 alcance US$ 9,6 bilhões. Nas estimativas da consultoria, o deste ano ficará em US$ 7,9 bilhões.
Assim como o BBV, os analistas
da Global Invest usam a premissa
de que a economia não pode se
expandir além de níveis modestos. "Se crescer mais de 3%, não
conseguimos obter o superávit
[oficial de US$ 9 bilhões] em
2003", diz Fernando Ferreira, da
Global Invest. "Não conseguiremos porque a taxa de câmbio vai
se valorizar. Em vez de exportar,
as empresas vão querer vender
mais aqui dentro."
O economista também aposta
que o preço das commodities voltará a subir nos próximos meses,
o que teria impacto direto no resultado de países como Brasil e
Argentina, grandes exportadores
de produtos agropecuários.
"Uma alta de 10% na cotação das
commodities significa, no nosso
caso, ganho extra de exportações
de US$ 3 bilhões", comenta.
De acordo com Ferreira, "como
o Brasil não faz o ajuste por custo
(de produção) que é correto, acaba fazendo por câmbio".
Para ele, o governo não deveria,
mesmo em períodos de crescimento econômico, permitir que o
real se valorize diante do dólar.
"Câmbio de R$ 2,50 e R$ 2,60 é
ilusão. O real precisa ficar desvalorizado, e não estar desvalorizado. Não há como se firmar como
país exportador se a busca ao
mercado externo obedece a ciclos
de alta e baixa da moeda", afirma.
Pelas contas do HSBC, que considera taxa de câmbio em R$ 3 por
dólar, o superávit da balança comercial no ano que vem chegará a
US$ 10 bilhões -que incluiria aumento das exportações e melhora
nos preços das commodities.
Dissidência
A avaliação da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior) é de que, mesmo
com as prerrogativas de crescimento de 3% do PIB, taxa de câmbio entre R$ 2,80 e R$ 2,90 e recuperação da economia (e comércio) mundial, "se o país for capaz
de repetir superávit similar ao de
2002 [US$ 7 bilhões], será ótimo
resultado".
A fundação prevê que a queda
nas importações encontrou o
chamado "piso" e que, a despeito
do processo de substituição de
importações, os valores gastos
com esse item deverão subir 10%.
"Se isso ocorrer", diz relatório
da Funcex, "para sair de um superávit de US$ 7 bilhões para US$ 9
bilhões em 2003, seria necessário
crescimento das exportações na
casa dos 12%, o que não é absolutamente trivial".
Taxa similar verificou-se apenas
em 2000, antes da freada da economia global.
Por fim, conclui, "isso [superávit de US$ 9 bilhões] dependeria
de fatores com os quais não se
conta nesse momento: crescimento vigoroso no comércio
mundial, aumento expressivo dos
preços das commodities e substituição maior das importações".
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