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Ex-conselheiro compara companhia a estatal
DA SUCURSAL DO RIO
O assessor da controladoria da
Varig, Yutaka Imagawa, é tido como o homem mais poderoso da
corporação. Há cinco anos, ele
ocupa a presidência do conselho
de curadores da Fundação Ruben
Berta, que detém o controle acionário de todas as empresas do
grupo, entre elas, a Rio Sul, a Nordeste, a Sata e os hotéis Tropical.
Imagawa chegou ao topo da
hierarquia sem ter exercido cargo
executivo. Foi eleito em votação
pelos 237 integrantes do Colégio
Deliberante, que representam os
donos da fundação, no caso, os
próprios funcionários da Varig.
Como líder do conselho curador, Imagawa preside o conselho
de administração da FRB-Par,
empresa de participações da Fundação Ruben Berta, que tem sob
seu guarda-chuva três outras holdings: Varig S.A. (Viação Aérea
Riograndense), Varig Participações em Transportes Aéreos e Varig Participações em Serviços
Complementares.
Criado em 1995, o conselho de
curadores é composto por sete
empregados da Varig, como o ouvidor Gilberto Rigoni e o piloto-chefe Gilberto Santos. Nos últimos anos, houve um aumento
progressivo da ingerência dos curadores na área administrativa, o
que tem gerado atritos com os
executivos vindos de fora.
De início, o estatuto do conselho curador não permitia que
membros fossem nomeados diretores ou integrassem os conselhos
de administração das empresas
controladas pela fundação. O objetivo era dar autonomia administrativa às empresas.
O estatuto foi mudado, e Imagawa assumiu a presidência do conselho de administração da FRB-Par, que está no cume do organograma. Outros curadores ainda
tornaram-se conselheiros nas
duas holdings criadas com a cisão
da Varig S.A., em 1999.
O conselho curador entrou em
rota de colisão com o conselho
administrativo da Varig durante a
gestão de Fernando Pinto, hoje
presidente da companhia portuguesa TAP. Jorge Hilário Gouvea
Vieira, então presidente do conselho de administração, saiu antes
do final do mandato, por discordar dos curadores.
Um dos motivos da divergência
foi a cisão societária de 1999, que
levou a Rio Sul e a Nordeste para a
nova holding Varig Participações
em Transportes Aéreos, fora da
alçada da companhia aérea principal. Apenas a Pluna continuou
continuou com a Varig S.A.
Esse conflito de interesses é descrito pelo ex-conselheiro de administração da Varig, Leonardo
Viegas, que deixou o cargo em
maio do ano passado. Ele ficou
dois anos no conselho.
Ele diz que o maior problema da
Varig é sua governança, em vários
níveis: o conselho de administração da Varig, o conselho de administração da FRB-Par, o conselho
curador e o Colégio Deliberante
da Fundação Ruben Berta.
"A Varig precisa de uma gestão
firme, que não relute em contrariar interesses de grupos e "bases
eleitorais", se necessário. Nossa
experiência demonstrou que projetos voltados a melhorar o desempenho operacional enfrentam resistências", disse o ex-conselheiro à Folha.
Viegas diz que a marca Varig e a
competência técnica dos profissionais da empresa não bastam
para atrair novos investimentos.
"A Varig continua a ser encarada
como uma estatal, e sua governança não colabora para alterar
essa percepção", afirma.
Para ele, há na Varig duas carreiras funcionais paralelas: a carreira de executivo, representada
pelo progresso na hierarquia da
empresa, e a carreira política, com
a conquista de cargos eletivos na
Fundação Ruben Berta.
"Uma carreira prejudica a outra. A de executivo exige obter resultados, mesmo à custa de popularidade. A carreira política progride por meio de acordos, promessas de campanha e críticas à
gestão da companhia, mesmo que
injustas. Nesse sentido, a Varig é
um retrato do Brasil", diz.
(EL)
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