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ECONOMIA BOMBARDEADA
Possibilidade de recuperação econômica da União Européia e do Japão tende a ser retardada
Ataque a Saddam aborta retomada dos ricos
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A eclosão de um ataque militar
dos EUA ao Iraque tende a retardar a possibilidade de recuperação econômica da União Européia e do Japão.
Ainda que de curta duração,
uma guerra elevaria os preços do
petróleo e inibiria o estímulo ao
consumo nessas economias. As
afirmações partem de analistas
ouvidos pela Folha. Eles ressaltam, entretanto, que os problemas internos dessas economias
são os principais fatores de limitação econômica.
As perspectivas mais otimistas
para a UE prevêem um crescimento do PIB (Produto Interno
Bruto) de 2% em 2003. Mas governos do próprio bloco estimam
que o ano terminará com expansão de no máximo 1,5%.
As razões para o desânimo residem no desempenho pífio
-0,2% de crescimento no ano
passado- do carro-chefe da zona do euro: a Alemanha. A esse fato, soma-se o agravante que o comércio exterior da região, que poderia ser a via mais rápida para
sair da estagnação, também não
vai bem. Com a permanência do
euro forte em relação ao dólar, os
produtos europeus tornam-se
mais caros e, por isso, menos
atraentes para o mercado internacional.
Jean-Paul Betbeze, diretor de estudos econômicos e financeiros
do Crédit Lyonnais, em Paris,
afirma que não há possibilidade
de retomada do crescimento da
economia da UE no curto prazo.
Na sua avaliação, para reanimar a
economia alemã e criar espaço
para a geração de empregos, a rigidez das leis trabalhistas e previdenciárias terão que ser revistas
com urgência.
A intenção de adotar essa receita amarga já foi anunciada pelo
chanceler alemão Gerhard Schröder ao Parlamento na última sexta-feira. A proposta de reformas
inclui redução da duração de seguro-desemprego e flexibilização
de contratos de trabalho.
Para o Japão, que há dez anos
patina na estagnação, as estimativas de crescimento do PIB variam
de 0% a 1,3% para este ano. Os
bancos japoneses continuam descapitalizados, o que impossibilita
a expansão da oferta de crédito
para as empresas. Esse descompasso termina por perpetuar a estagnação japonesa.
Exuberância americana?
A previsão de crescimento para
a economia americana em 2003
varia de 2,3% - para a Economist Intelligence Unit- a 3,1%
-para a consultoria norte-americana Global Insight.
"Tudo indica que as empresas
americanas vão voltar a investir
no segundo semestre. Apesar da
queda recente no índice de confiança dos consumidores, não
houve uma redução significativa
do consumo. Além disso, parceiros importantes dos EUA, como a
Ásia e o Canadá, têm bons índices
de crescimento", afirma Farid
Abolfathi, diretor do departamento de previsões econômicas
da Global Insight. Para Abolfathi,
essas previsões continuam válidas
num cenário de uma vitória rápida (até dois meses) dos EUA contra o Iraque.
Um quadro otimista para a economia americana também é traçado pelo economista do Crédit
Lyonnais. Para ele, a baixa taxa de
juros praticada pelos EUA (1,25%
ao ano) e a capacidade elevada de
retomada da atividade industrial
no país são os pilares do crescimento americano. No entanto o
economista alerta para algumas
fragilidades.
"O mercado acionário está debilitado. Também não pode ser
descartado que, no caso de uma
guerra longa, uma possível disparada da cotação do petróleo pode
levar o país a entrar em recessão ",
afirma Betbeze.
Um olhar ainda mais cético para a recuperação americana é defendido pelo professor Antonio
Manfredini, da Fundação Getúlio
Vargas. Para ele, os indicadores
positivos da economia doméstica,
como baixa taxa de juros, ainda
são instáveis diante de uma ameaça de conflito com o Iraque. "A
guerra seria pequena demais para
impulsionar um crescimento sustentado, mas seria grande o suficiente para afetar um dos principais insumos da economia dos
EUA: o petróleo."
Já os países emergentes da Ásia
devem apresentar crescimento na
ordem de 6%. "Esses países estão
afastados do foco das tensões.
Além disso, têm um alto grau de
dinamismo", diz Evaldo Alves,
também da FGV.
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