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ECONOMIA BOMBARDEADA
Para analista norte-americano, vitória detonaria onda de otimismo e impulsionaria PIB
Guerra rápida empurraria economia dos EUA
Jean-Marc Bouju - 14.fev.03/ Associated Press
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Americano prova máscara de gás coreana em Los Angeles |
DA REPORTAGEM LOCAL
O cânone clássico, que associa
guerra à expansão econômica de
um país, é uma das peças centrais
da argumentação do economista
Nariman Behravesh, 54, para sustentar a sua previsão de crescimento de 3,1% do PIB (Produto
Interno Bruto) dos Estados Unidos neste ano.
Para o economista-chefe da
consultoria norte-americana Global Insight, uma das mais conceituadas do mercado, uma guerra
seguida por uma vitória rápida do
exército norte-americano seria
capaz de produzir um boom no
índice de confiança dos consumidores e das empresas. Na sequência, as economias mundiais terminariam por crescer na esteira
dos impactos positivos da aceleração da economia dos Estados
Unidos.
Behravesh sustenta que mesmo
as fragilidades da economia dos
EUA não seriam obstáculos significativos para a retomada do crescimento. "A principal fraqueza da
economia americana reside no
déficit das transações correntes
[hoje, cerca de 5% do PIB]." Mas,
segundo ele, isso só representaria
uma ameaça maior se as demais
economias estivessem crescendo
muito mais rápido que os EUA.
"A desvalorização do dólar
diante do euro já será suficiente
para ajustar as nossas contas no
curto e no médio prazos", avalia.
Entretanto o economista não
descarta a possibilidade de a guerra se arrastar por meses e infligir
uma dura recessão aos EUA e dragar o restante das economias
mundiais.
A seguir a entrevista concedida
por telefone à Folha.
(CC)
Folha - Diante dos indicadores de
estagnação nas economias da
União Européia e do Japão e de
perspectivas de guerra, podemos
dizer que o mundo está às portas
de uma recessão?
Nariman Behravesh - Há muitas
definições para recessão. Em termos globais, podemos afirmar
que há recessão quando a média
de crescimento global fica abaixo
de 2% no ano, já que é muito raro
ter crescimento em escala mundial negativo. Esse é exatamente o
quadro que vemos nos últimos
dois anos.
Em 2001, o mundo cresceu
1,2%. Em 2002, 1,8%. A tendência
para este ano, porém, é que a economia mundial comece a melhorar um pouco, especialmente a
partir do segundo semestre. O
ano deve fechar com expansão de
2,5% na economia mundial.
Folha - Que economias vão liderar esse crescimento?
Behravesh - Os Estados Unidos
vão ser um dos principais atores
da retomada do crescimento global. Sob uma ótica mais moderada, a economia norte-americana
deve beirar um crescimento do
PIB da ordem de 3% neste ano.
Porém há um potencial para atingir 4% ainda neste ano.
A outra região de destaque são
os países emergentes da Ásia, que
devem crescer 6%. China e Coréia
do Sul deverão apresentar crescimento na faixa de 6% e 8% no
PIB.
Folha - Como a economia americana vai conseguir dar essa guinada, se entre os consumidores paira
um pessimismo e o índice de confiança na economia continua caindo?
Behravesh - A economia americana passa por um momento onde há uma abundância de estímulos. Nossa política monetária,
com uma taxa de juros de 0,75%,
proporciona uma expansão do
crescimento. Além disso, a intenção do governo de empreender
cortes de impostos também coopera para esse ambiente favorável. O crescente enfraquecimento
do dólar diante do euro é outro fator de estímulo.
Com relação à confiança do
consumidor, o índice está baixo
mais por causa das incertezas relativas à guerra do que devido à
desconfiança dos americanos a
respeito dos fundamentos da economia. No momento, é a instabilidade sobre como e quando um
conflito contra o Iraque se desenvolverá que trava o desempenho
dos EUA.
Folha - O senhor citou o dólar
mais fraco como um fator de estímulo. No entanto, no longo prazo,
essa situação não pode ser prejudicial para os EUA?
Behravesh - Em 2002, a moeda
perdeu cerca de 9% do seu valor e
a tendência é que essa queda continue neste ano. No curto prazo,
uma depreciação gradual do dólar ajudaria os EUA a ajustarem o
seu déficit na balança comercial.
Nos últimos anos, o dólar forte
danificou as exportações. Porém,
se a queda for muito brusca, a inflação tenderia a disparar, e o Federal Reserve [o banco central dos
EUA" seria obrigado a elevar a taxa de juros. Uma derrocada do
dólar também poderia minar as
exportações européias e japonesas, o que agravaria a estagnação
econômica desses países.
Folha - O quadro de expansão
econômica projetado pelo senhor
leva em consideração a entrada
dos EUA numa guerra contra o Iraque? Qual seria o melhor cenário
no caso de um conflito?
Behravesh - Sim. Na nossa avaliação, uma guerra contra o Iraque é altamente provável. O cenário mais favorável seria uma guerra similar à Guerra do Golfo ou
aos conflitos na Bósnia. Os americanos teriam uma vitória rápida
em um ou dois meses. Isso levaria
a um boom no mercado financeiro e no grau de confiança da população e das empresas. Em seguida, veríamos a queda acentuada do preço do petróleo. Os gastos
em material bélico também serviriam para aquecer a economia
neste ano. Estimamos que no período após a guerra o barril possa
recuar para US$ 20 e gradualmente se fixar em US$ 25. Durante o
conflito, o preço do barril deve oscilar entre US$ 35 e US$ 40. Para
mim, esse cenário tem uma probabilidade de 60%.
Folha - E qual o pior cenário?
Behravesh - Um cenário de uma
guerra prolongada tem 20% de
probabilidade das nossas estimativas. Um cenário ruim seria uma
guerra que se estendesse pelos
países vizinhos ao Iraque, como
Arábia Saudita e Kuait, com destruição de campos de petróleo.
Nesse contexto, o preço do barril
poderia chegar a US$ 60 ou até
mesmo US$ 70. Isso levaria os
EUA a entrarem numa grande recessão, que arrastaria as economias mundiais e agravar a situação da já combalida economia japonesa e impedir a retomada do
crescimento na Europa.
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