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Para EIU, Europa só decola com reformas estruturais
DA REPORTAGEM LOCAL
A solução para a estagnação
econômica européia passa por
um relaxamento do pacto de estabilidade acordado entre os países
da União Européia no Tratado de
Maastricht, em 1992, e por reformas drásticas no mercado de trabalho, sobretudo na Alemanha.
Essas são as considerações de
Charles Jenkins, 53. O economista
britânico é diretor para assuntos
europeus da EIU (Economist Intelligence Unit), centro de estudos
econômicos sediado em Londres
que pertencente ao mesmo grupo
da revista "The Economist".
Para Jenkins, a despeito do crescimento lento empreendido pela
UE nesta década, o bloco econômico não vive uma recessão.
Porém, um eventual conflito
prolongado no Iraque, somado às
divergências entre os países-membros no tocante ao apoio à
empreitada militar americana,
deterioraram as perspectivas de
superação do quadro europeu.
Leia a seguir a entrevista concedida por telefone à Folha.
(CC)
Folha - Recentemente a França
reviu as suas previsões de crescimento do PIB para este ano, passando de uma estimativa inicial de
2,5% para 1,5%. A Alemanha fechou 2002 com um crescimento de
apenas 0,2%. Levando esses aspectos em consideração, podemos
afirmar que a economia da União
Européia entrou em recessão?
Charles Jenkins - Não vejo recessão, mas, sim um terceiro ano de
crescimento lento. Em 2002, crescimento da zona do euro foi de
0,7%. Para este ano, prevemos
1,2%. De fato essas taxas não impulsionam a economia, não geram empregos, mas o foco da desaceleração da economia européia está na Alemanha. É importante frisar também que os problemas europeus vêm de longa
data e são centrados em questões
estruturais.
Folha - Quais seriam esses problemas?
Jenkins - Na Alemanha, a queda
da demanda dos consumidores é
o principal fator da desaceleração.
Outro ponto é a retração da construção civil. O fim da demanda
por infra-estrutura, que foi a tônica da economia alemã no pós-unificação, dragou a economia
alemã. Isso levou ao aumento de
desemprego e à queda da confiança dos consumidores. Também
contribuiu para esse quadro o colapso do mercado alemão de
ações de tecnologia, que havia expandido no final dos anos 90. Tudo isso repercutiu severamente
na economia alemã e acabou gerando um efeito em cascata nos
outros países da zona. O consumo
nos últimos três anos permaneceu praticamente estagnada.
Folha - E a França?
Jenkins - A França manteve uma
taxa acelerada de crescimento nos
últimos cinco anos, o que atraiu
uma gama de investimentos estrangeiros. O resultado é que,
com isso, ela cresceu o dobro da
economia alemã no período. Mas
as contas públicas francesas foram negligenciadas.
A gestão anterior [do ex-primeiro-ministro do Partido Socialista Lionel Jospin" não aproveitou o momento de aceleração
econômica para efetuar o ajuste
das contas e reduzir o déficit.
Agora, com um cenário internacional menos favorável, o setor
público foi o primeiro a ser afetado, ameaçando as regras do pacto
de estabilidade.
Folha - O cenário pode ser agravado por um conflito no Iraque?
Jenkins - As incertezas com relação à guerra têm de fato prejudicado a economia em escala mundial. O temor de um conflito abala
a confiança dos consumidores e
puxa a alta dos preços, especialmente o do petróleo. A deflagração de uma guerra não levaria necessariamente a uma deterioração da situação da UE. Uma guerra rápida não teria um impacto
negativo duradouro.
Folha - Qual seria o pior cenário
no caso de uma guerra?
Jenkins - O pior cenário imaginável seria um no qual houvesse
um racha entre os países do bloco
europeu entre os pró e os contra a
guerra, com uma guerra que se estendesse por mais de três meses.
Nesse contexto, a coesão política
que tem mantido os países da UE
unidos nos últimos 50 anos poderia ser dissolvida. Isso não afetaria
imediatamente a UE, mas, no longo prazo, poderia pôr em risco a
união econômica do bloco.
Folha - Diante da possibilidade
de guerra e do evidente crescimento lento da UE, seria recomendável
flexibilizar as regras do pacto de
estabilidade?
Jenkins - Alemanha e Portugal
romperam as regras do pacto,
mas se comprometeram a ajustar
suas economias, pelo menos no
que tange à limitação dos déficits
públicos a 3% do PIB, apesar de
saberem que um ajuste severo
agora só tende a piorar a situação
no curto prazo. A França indica
que vai romper essas regras neste
ano. Mas isso pode ser de fato necessário para promover crescimento do país e evitar uma derrocada da economia. Acredito que,
se as economias européias permanecerem estagnadas, o pacto
terá que ser relaxado. Ainda que
as economias consigam retomar
o crescimento, as bases para um
novo pacto teriam que ser lançadas. Porém ainda precisamos
pensar na lista de quais novas regras devem ser implementadas.
Folha - Haveria alguma solução
de curto prazo para tentar estimular o crescimento da economia européia? Uma redução da taxa de juros, por exemplo?
Jenkins - Infelizmente essa medida pouco ajudará a levantar a
economia na Europa ou na Alemanha. Uma redução teria um
impacto mínimo e poderia causar
inflação em outros países.
Folha - Então parece que a UE está num beco sem saída.
Jenkins - Os instrumentos para
recuperar a economia européia
são de longo prazo. Por exemplo,
tentar recriar artificialmente maneiras para alavancar a construção civil alemã não vai adiantar.
Minha percepção é que o mercado de trabalho tem que ser flexibilizado para ajudar setores da economia alemã que são fortes, como
a indústria. O encorajamento de
pequenas e médias empresas
também é uma solução viável. A
abolição das regras rígidas de proteção ao emprego também seria
fundamental, mas isso só teria
impactos a médio prazo. Mas é difícil implementar essas reformas,
porque o governo enfrentaria
muita oposição.
Folha - Se nenhuma dessas reformas for feita, a recessão é o destino
da UE? A Alemanha pode terminar
como o Japão?
Jenkins - Recessão, na acepção
técnica do termo, é um crescimento negativo. Não vejo isso. A
principal questão é identificar
quais os pontos dinâmicos podem nos tirar dessa estagnação.
Há algumas similaridades entre a
situação japonesa e a alemã. Entretanto a economia japonesa tem
como principal fragilidade o setor
bancário, que até o momento não
conseguiu se reestruturar. Na Alemanha, diferentemente do Japão,
as empresas estão saldando as dívidas e se reestruturando.
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