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ARTIGO/ ECONOMIA BOMBARDEADA
Todos têm planos para o petróleo iraquiano
SAEED SHAH
DO "THE INDEPENDENT"
O governo americano pode
estar elaborando planos para os vastos recursos petrolíferos
do Iraque depois de uma guerra
vitoriosa, mas os iraquianos continuam silenciosamente implementando seu programa de dez
anos para desenvolver o setor.
O plano do Iraque visa mais que
duplicar suas reservas comprovadas em uma década, colocando-o
em pé de igualdade com a riqueza
petrolífera da Arábia Saudita.
O Iraque tem cerca de 115 bilhões de barris em jazidas comprovadas - a segunda maior reserva do mundo-, mas também
se admite que teria entre 100 bilhões e 200 bilhões de barris em
reservas não comprovadas. A
Arábia Saudita tem reservas comprovadas de 265 bilhões de barris.
Manouchehr Takin, do Centro
de Estudos de Energia Global, diz:
"O Iraque poderá estar daqui a
dez anos onde a Arábia Saudita
está hoje. Todas as grandes empresas de petróleo estarão interessadas". Alguns alegam que os
americanos simplesmente vão dividir os recursos petrolíferos do
Iraque entre suas companhias e as
de seus aliados. Poucos no setor
parecem prever essa bonança imperialista. O atual plano de petróleo do Iraque poderia facilmente
ser a base para o desenvolvimento
da indústria local, qualquer que
seja o regime, diz Ruba Husari, da
consultoria Energy Intelligence.
É provável que o petróleo continue sendo propriedade nacional,
administrado por um regime pós-Saddam. Nesse caso, os funcionários que dirigirão o Ministério do
Petróleo iraquiano serão os mesmos que elaboraram no ano passado o programa de dez anos.
O potencial petrolífero do país
não recebe investimentos há duas
décadas, devido à guerra Irã-Iraque nos anos 80 e às sanções nos
anos 90. Os jovens campos do Iraque poderiam oferecer o suprimento de petróleo mais barato do
mundo, talvez a US$ 1 por barril
(comparado com US$ 11 por barril no mar do Norte). A exploração do gás foi mínima.
O Iraque bombeia atualmente
cerca de 2,5 milhões de barris por
dia, mas pretende aumentar a
produção para 10 milhões de barris, semelhante à da Arábia Saudita. Para isso, o Iraque talvez precise de 20 bilhões ou 30 bilhões de
libras esterlinas, ou seja, necessita
de dinheiro estrangeiro.
Embora os EUA vão liderar o
ataque militar contra Saddam
Hussein, e a Grã-Bretanha provavelmente terá um papel de apoio
importante, as companhias mais
bem posicionadas para entrar no
Iraque são principalmente de países que se opõem ao conflito.
Bagdá assinou uma série de
acordos com companhias estrangeiras, embora nenhum tenha sido ativado. Seis empresas internacionais detêm contratos de exploração ou desenvolvimento.
Esses acordos e outras propostas foram forjados com um governo que era reconhecido pela comunidade internacional. Por isso
existe um caso muito bom para
que, sob a lei internacional, sejam
mantidos os acordos.
O Iraque ofereceu às companhias estrangeiras termos generosos, incluindo participação acionária nos campos, situação incomum no Oriente Médio.
Esses termos provavelmente serão questionados pelos próprios
iraquianos depois de Saddam,
pois o novo governo estará numa
posição muito melhor para negociar. O governo sucessor poderá
argumentar que as companhias
estrangeiras nunca cumpriram os
contratos, e portanto eles são inválidos. Mas é possível que um
novo regime procure primeiro as
companhias que negociaram com
o Iraque na época das sanções.
Valerie Marcel, do Instituto
Real de Assuntos Internacionais,
diz: "O Iraque [pós-Saddam" não
oferecerá o tipo de contrato com
que as companhias estrangeiras
sonham. E levará tempo para que
o novo regime crie as instituições
que necessárias para investimentos estrangeiros". Mesmo que os
acordos existentes não sejam
honrados depois da queda de
Saddam, essas companhias que já
realizaram processamento de dados sísmicos e avaliação de condições locais estão claramente em
boa posição para negociar.
A TotalFinaElf negociou contratos sobre dois campos gigantes, mas parou pouco antes de assinar. A companhia francesa não
reivindica direito legal sobre os
campos, mas seu presidente,
Thierry Desmarest, disse recentemente que tem uma vantagem de
um ano sobre outras companhias
para a exploração dos campos de
Majnoon ou Bin Omer.
Husari, da Energy Intelligence,
diz: "A concorrência entre as
companhias de petróleo internacionais provavelmente colocará
as empresas européias que já negociaram contratos ou manifestaram interesse em chegar a um
acordo, mas pararam antes de assinar qualquer coisa, contra as
grandes companhias americanas
excluídas pelos iraquianos. Depois da guerra, gigantes americanas como ExxonMobil, ChevronTexaco e ConocoPhillips quase
certamente vão querer uma fatia
do bolo, assim como a BP". Segundo Husari, a Shell vem manifestando interesse pelo campo de
Rattawi para autoridades iraquianas, mas a empresa anglo-holandesa se recusa a comentar.
A BHP Billiton admite ter discutido sobre o campo de Halfaya.
Um porta-voz da BHP diz: "Estivemos envolvidos alguns anos
atrás em discussões [sobre Halfaya", mas não temos interesse agora". O principal executivo da BP,
lorde Browne of Madingley, já
disse que teme que não haja um
"campo de jogo nivelado", referindo-se às operadoras americanas que podem ser favorecidas
por um novo regime iraquiano
apoiado pelos EUA, ou às companhias internacionais que já têm
negócios no Iraque. Informa-se
que a BP e a Shell vêm fazendo
lobby a respeito do Iraque, mas as
empresas negam.
As primeiras companhias estrangeiras que provavelmente
trabalharão no Iraque não são as
de petróleo, mas as de serviços de
energia, necessárias para obras de
reparo nos campos existentes e
para avaliar as necessidades e a
capacidade do país. Informa-se,
por exemplo, que um dos principais grupos de serviços de petróleo, o Halliburton, sediado em
Houston, já entrou na fila para ir
ao Iraque. Takin estima que nos
próximos dois anos o Iraque poderá aumentar sua produção para
3,5 milhões de barris por dia. Isso
exigirá trabalho nos campos existentes. Adverte, porém, que a corrida das companhias internacionais terá de esperar vários anos.
Também é provável que as
grandes petroleiras prefiram esperar novas leis sobre recursos
naturais e investimentos antes de
assumir compromissos.
Certamente parece improvável
que o Iraque cumpra o calendário
de seu plano de dez anos. Poderá
levar até o fim desta década para
que contratos de produção em
longo prazo sejam oferecidos a estrangeiros. O Iraque precisa de investimento estrangeiro muito
mais que outros regimes do
Oriente Médio, e, quando vierem,
os contratos do Iraque poderão
ser altamente atraentes.
Enquanto muitos duvidam que
o Iraque possa desafiar a supremacia saudita, a contribuição do
Iraque vai mudar a dinâmica do
suprimento de petróleo do Oriente Médio.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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