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CARAVANA
Atraídos pela chance de contato comercial, 480 empresários se inscrevem para acompanhar o presidente no Oriente
Viagem de Lula à China terá comitiva recorde
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva inicia sua primeira viagem
oficial à China no próximo domingo acompanhado pela maior
caravana de empresários já presente no exterior. Grandes negócios, porém, estão fora da pauta
do dia: à exceção de um acordo a
ser anunciado por Lula na área de
petróleo, a comitiva só fará contatos iniciais com os chineses.
Na prática, a turma que deve
tentar expandir as marcas de empresas brasileiras no exterior chega a Pequim em meados de junho.
"Quem tem pretensão comercial
na China tem de ir com Lula a Pequim. É importante estar com
quem está abrindo o caminho comercial", afirma José Eduardo de
Lima Pereira, diretor de assuntos
corporativos da Fiat do Brasil.
A Fiat será representada na comitiva por Roberto Vedovato,
presidente da empresa no Brasil.
Em 2003, a Fiat já exportou US$
44 milhões para a China entre
produtos fundidos e carros. A
meta da montadora é vender mais
carros para os chineses.
"Nós vamos para lá com o Furlan [Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento], em junho. Então vamos tentar fechar
alguma coisa. Agora, deve ir o
presidente da associação, que viaja para nos representar", afirma
Edmundo Aires, diretor da Abia,
entidade da indústria alimentícia.
Segundo o empresário Mário
Garneiro, a comitiva vai "abrir caminho" para o grupo que chega à
China daqui a cerca de um mês. A
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo) não
mandará representante nessa primeira turma de empresários. Só
viaja à China em junho.
Até sexta-feira, 480 empresários
haviam se inscrito no Departamento de Promoção Comercial
do Itamaraty para participar da
comitiva presidencial. O número
deve diminuir quando a rodada
de reconfirmações for concluída,
nesta semana. Mas, ainda que caia
à metade, o grupo continuará
sendo recorde. Normalmente, as
missões empresariais que acompanham viagens presidenciais
não passam de 80 integrantes.
O único acordo da viagem deverá ser entre a Petrobras e a Sinopec -um conglomerado chinês
de petróleo. O objetivo é explorar
petróleo na China.
Mercado consumidor
"Os brasileiros querem ter um
pé nesse mercado de 1,3 bilhão de
pessoas", diz o conselheiro Pedro
Paulo Taunay, do Departamento
de Promoção Comercial, que está
em Pequim preparando a programação dos empresários.
Com crescimento médio de
9,3% nos últimos 26 anos e um
imenso mercado consumidor, a
China parece materializar a promessa de lucros garantidos, mas a
aventura local nem sempre é fácil
para estrangeiros. Há relatos de
empresas que amargam prejuízos
há anos ou que foram surpreendidas pela apropriação de sua tecnologia por seu parceiro chinês.
Por ora, a importância da China
para o Brasil se reflete nas exportações. As vendas tiveram alta de
80% em 2003, o que levou o país
ao terceiro lugar entre os principais parceiros comerciais brasileiros, atrás de EUA e Argentina.
O salto ocorreu principalmente
pela alta nas exportações de minério de ferro e soja -produtos básicos, sem valor agregado.
O desafio é identificar novas
áreas de negócios e aumentar o
peso de bens manufaturados na
pauta de exportações, diz Eduardo Chakarian, brasileiro que trabalha em Pequim na empresa de
consultoria Monitor Group.
"As empresas precisam encontrar formas de agregar valor às exportações, para terem maior retorno financeiro e ficarem menos
dependentes dos compradores
chineses", observa Chakarian.
Já que exportar bens de consumo manufaturados para a China é
inviável em razão da competitividade do país no setor, o Brasil tem
de encontrar setores nos quais
pode atuar com vantagem.
O mais óbvio deles é a agroindústria. O Banco do Brasil identificou o setor de alimentos e de insumos para a indústria alimentícia em geral como um dos mais
promissores para exportadores
brasileiros na China. Nessa categoria entram bens processados,
como sucos e polpas de frutas.
Na opinião de Chakarian, o Brasil também pode exportar para a
China conhecimento na área de
biotecnologia, que vai desde o desenvolvimento de sementes à indústria farmacêutica, passando
pela reprodução animal.
Com 22% da população global e
apenas 6% das terras aráveis do
mundo, a China tem todo o interesse em comprar tecnologia na
área agrícola. Tanto é que classifica investimentos nesse setor de
"estimulados", ao lado dos permitidos, restritos e proibidos.
Outras áreas identificadas pelo
Banco do Brasil são calçados e
couro, autopeças, material de
construção, móveis e artigos de
decoração e carnes.
Chakarian acredita que o setor
energético também é promissor.
A China está no limite de utilização de sua oferta de energia e começa a haver racionamento em
algumas regiões. Para o consultor,
o Brasil pode exportar tecnologia
nas áreas de geração, distribuição
e, principalmente, transmissão de
energia em longas distâncias.
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