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CONTRAMÃO
Receita cresceu 9,8% no primeiro semestre com mais exportações, menos despesas em dólares e aumento de preços
Companhias lucram mais, apesar do aperto
ADRIANA MATTOS
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira encolheu,
as famílias consumiram menos e
o governo gastou pouco neste
ano. No entanto a maioria das
companhias abertas brasileiras
conseguiu elevar substancialmente suas receitas e lucros no primeiro semestre.
Até a rentabilidade média dessas companhias, negativa no primeiro semestre do ano passado,
já está positiva.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Folha com
balanços de companhias com
ações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e que já publicaram os resultados do semestre.
Foram analisados os desempenhos de 124 empresas com peso
considerável no setor privado do
país. Entre elas, CSN, Vale do Rio
Doce, Gerdau, Pão de Açúcar e
Embratel. O levantamento exclui
instituições financeiras. No total,
existem 386 companhias listadas
na Bovespa.
Descontada a inflação, o total da
receita operacional líquida dessas
empresas (o que elas recebem
com sua atividade principal) cresceu 9,8% de janeiro a junho em
relação a igual período de 2002.
O montante da receita dessas
empresas analisadas representa
um terço do valor total da produção de empresas não-financeiras
no país por ano -R$ 542 bilhões,
informa o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o levantamento, o lucro dessas empresas disparou:
passou de pouco mais de R$ 2 bilhões nos primeiros seis meses de
2002 para R$ 20,9 bilhões em igual
período de 2003.
Esses números foram obtidos
num período em que a maioria
dos indicadores econômicos do
país perdeu fôlego.
Dados do PIB (Produto Interno
Bruto, soma dos valores de todos
os bens e serviços finais produzidos em um ano) no primeiro trimestre mostram queda de 2,3%
no consumo, retração de 1,5% no
investimento e recuo de 4,6% nas
importações, sempre em relação
ao mesmo período de 2002.
Estratégias
Companhias abertas foram beneficiadas pelo aumento das exportações, pela redução das despesas em dólares e pelo reajuste
de preços, promovido para garantir rentabilidade.
Explica-se: diante do cenário de
retração econômica interna -e
para garantir a receita em moeda
forte-, várias companhias que
atendiam o mercado interno passaram a exportar ainda mais.
Exemplos: 69% do volume vendido pela Seara de abril a junho
foi para fora do país -em igual
período de 2002 o índice era de
64%. A CSN exportou 730 mil toneladas de aço no primeiro semestre. De janeiro a junho de
2002 foram 657 mil toneladas, e a
preços menores do que agora.
Com mais embarques ao exterior, elas embolsaram mais recursos. Só no primeiro trimestre de
2003, a demanda por produtos
brasileiros no exterior cresceu
20%, segundo o IBGE.
Além das exportações, caíram
as dívidas em moedas estrangeiras, pesadelo do setor privado no
final de 2002. Essas despesas pressionam o lucro para baixo.
Cerca de 70% das dívidas de
empresas no país são em dólar.
Como a moeda custava R$ 3,54
em 31 de dezembro de 2002 e apenas R$ 2,84 em 30 de junho deste
ano, as companhias passaram a
dever menos em reais.
"Esse efeito contábil é evidente
nos balanços. Ou seja, pode ser
que a empresa tenha de pagar essa
despesa só no ano que vem, mas
hoje, na ponta do lápis, essa dívida em moeda estrangeira caiu",
diz Ernesto Meyer, diretor do
banco BNP Paribas.
Finalmente, rentabilidade
O levantamento mostra que as
companhias ficaram mais rentáveis no período. A taxa passou de
negativa (menos 19,5%) em junho
de 2002 para positiva (7,7%) em
junho de 2003.
A petroquímica Petroflex, por
exemplo, registrou rentabilidade
de quase 30%. Há um ano, a taxa
estava em 8,4%.
Bons resultados de algumas empresas de grande porte ajudaram
a puxar a taxa média para cima.
Até porque há casos de empresas
que perderam receita no exterior
com o aumento da concorrência
externa. E sofreram impacto nas
contas com a alta do preço de certos insumos.
Mas os números mostram que,
entre as companhias analisadas,
só uma em cada quatro teve rentabilidade negativa de janeiro a
junho. Todas as outras (quase
100) ficaram no azul. Em junho do
ano passado, porém, 48 não eram
rentáveis.
Há casos em que a manutenção
da rentabilidade é decorrente, em
parte, do aumento dos preços. Algumas companhias evitaram perdas ao repassar a inflação aos
clientes e consumidores.
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