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REVOADA
Saldo de investimento direto para um primeiro semestre é o pior desde 95
Brasil perde US$ 1,7 bilhão
com fuga de estrangeiros
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Investidores estrangeiros que
decidiram se desfazer dos negócios que tinham no Brasil mandaram de volta a seus países US$ 1,7
bilhão no primeiro semestre deste
ano, o dobro dos US$ 844 milhões
que remeteram pela mesma razão
entre janeiro e junho de 2002.
A maior saída de dinheiro foi
acompanhada da queda brutal na
entrada de investimentos externos no país. Em consequência
desses dois movimentos, o Brasil
teve o menor saldo líquido de investimento direto estrangeiro em
um primeiro semestre desde 1995,
quando o processo de privatização engatinhava.
A diferença entre os dólares que
entraram e os que saíram foi positiva em US$ 3,5 bilhões, número
63,6% inferior aos US$ 9,6 bilhões
registrados entre janeiro e junho
do ano passado. O resultado só
não é pior do que o dos primeiros
seis meses de 1995, período no
qual o investimento direto líquido
somou US$ 1,1 bilhão. Comparados aos US$ 13,4 bilhões que entraram entre janeiro e junho de
2000, os US$ 3,5 bilhões de 2003
representam queda de 73,9%.
Queda pontual
Altamir Lopes, diretor do Departamento Econômico do Banco
Central, diz que a saída de capitais
foi pontual e decorreu principalmente de três operações: a venda
do banco espanhol BBV para o
Bradesco, a compra do Banco Fiat
pelo Itaú e a saída do fundo de investimento Sweet River da Vale
do Rio Doce.
"Excluídas essas três operações,
as saídas de capital estão em níveis baixos", afirma Lopes.
Analistas privados assinam em
baixo na afirmação de que o movimento não é generalizado, mas
ressaltam que ele poderá se intensificar se o país não resolver o nó
que segura seu crescimento econômico. Em tempos de vacas magras em todo o mundo, dizem, é
difícil para as empresas justificarem perante seus acionistas a presença prolongada em países que
trazem pouco retorno em termos
de rentabilidade.
"Quanto menos o país cresce,
maior é o risco de investidores estrangeiros tomarem a decisão de
retirar seu dinheiro daqui", observa Mônica Baer, da MB Associados.
Para a analista, o total bruto de
US$ 7,8 bilhões em investimento
externo no primeiro semestre é
muito baixo se for considerado o
fato de que o país já havia superado a turbulência provocada pela
eleição presidencial do ano passado. É desse US$ 7,8 bilhões que
saiu o resultado líquido de US$
3,5 bilhões, depois de descontadas
saídas de US$ 4,3 bilhões, nas
quais está incluído o US$ 1,7 bilhão de participação no capital de
empresas.
No mesmo período do ano passado, a entrada bruta de investimento direto estrangeiro foi de
US$ 13,4 bilhões, o que significa
uma queda de 41,8% em 2003.
Jorge Simino, diretor-executivo
do Unibanco Asset Management,
acredita que os movimentos de
saída do primeiro semestre foram
pontuais e, em alguns casos, obedeceram a estratégias globais das
empresas. Mas acrescenta que
existe a possibilidade de a situação se agravar caso o país não dê
mostras de que pode ter um crescimento sustentado a médio e
longo prazos.
"Se não colocarmos no horizonte que temos capacidade de crescer 4% ao ano por um período
longo, aí vai ficar complicado",
prevê Simino.
Regulação
Outro fator que reduz o apetite
dos investidores estrangeiros pelo
Brasil é a incerteza em relação ao
marco regulatório de setores essenciais, como o de energia, ressalta Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC. Nesses casos, a falta de investimentos
ameaça a própria capacidade de
expansão do PIB (Produto Interno Bruto), já que cria limites estruturais ao crescimento, como ficou demonstrado na crise energética de 2001.
Julio Callegari, da consultoria
Tendências, credita o baixo saldo
de investimento estrangeiro no
primeiro semestre ao pior cenário
internacional e às indefinições relativas à economia brasileira. Otimista, ele acredita que a situação
nas duas frentes vai melhorar nos
próximos meses, o que permitiria
um melhor resultado no fluxo de
investimentos para o Brasil.
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