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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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REVOADA

Saldo de investimento direto para um primeiro semestre é o pior desde 95

Brasil perde US$ 1,7 bilhão com fuga de estrangeiros

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores estrangeiros que decidiram se desfazer dos negócios que tinham no Brasil mandaram de volta a seus países US$ 1,7 bilhão no primeiro semestre deste ano, o dobro dos US$ 844 milhões que remeteram pela mesma razão entre janeiro e junho de 2002.
A maior saída de dinheiro foi acompanhada da queda brutal na entrada de investimentos externos no país. Em consequência desses dois movimentos, o Brasil teve o menor saldo líquido de investimento direto estrangeiro em um primeiro semestre desde 1995, quando o processo de privatização engatinhava.
A diferença entre os dólares que entraram e os que saíram foi positiva em US$ 3,5 bilhões, número 63,6% inferior aos US$ 9,6 bilhões registrados entre janeiro e junho do ano passado. O resultado só não é pior do que o dos primeiros seis meses de 1995, período no qual o investimento direto líquido somou US$ 1,1 bilhão. Comparados aos US$ 13,4 bilhões que entraram entre janeiro e junho de 2000, os US$ 3,5 bilhões de 2003 representam queda de 73,9%.

Queda pontual
Altamir Lopes, diretor do Departamento Econômico do Banco Central, diz que a saída de capitais foi pontual e decorreu principalmente de três operações: a venda do banco espanhol BBV para o Bradesco, a compra do Banco Fiat pelo Itaú e a saída do fundo de investimento Sweet River da Vale do Rio Doce.
"Excluídas essas três operações, as saídas de capital estão em níveis baixos", afirma Lopes.
Analistas privados assinam em baixo na afirmação de que o movimento não é generalizado, mas ressaltam que ele poderá se intensificar se o país não resolver o nó que segura seu crescimento econômico. Em tempos de vacas magras em todo o mundo, dizem, é difícil para as empresas justificarem perante seus acionistas a presença prolongada em países que trazem pouco retorno em termos de rentabilidade.
"Quanto menos o país cresce, maior é o risco de investidores estrangeiros tomarem a decisão de retirar seu dinheiro daqui", observa Mônica Baer, da MB Associados.
Para a analista, o total bruto de US$ 7,8 bilhões em investimento externo no primeiro semestre é muito baixo se for considerado o fato de que o país já havia superado a turbulência provocada pela eleição presidencial do ano passado. É desse US$ 7,8 bilhões que saiu o resultado líquido de US$ 3,5 bilhões, depois de descontadas saídas de US$ 4,3 bilhões, nas quais está incluído o US$ 1,7 bilhão de participação no capital de empresas.
No mesmo período do ano passado, a entrada bruta de investimento direto estrangeiro foi de US$ 13,4 bilhões, o que significa uma queda de 41,8% em 2003.
Jorge Simino, diretor-executivo do Unibanco Asset Management, acredita que os movimentos de saída do primeiro semestre foram pontuais e, em alguns casos, obedeceram a estratégias globais das empresas. Mas acrescenta que existe a possibilidade de a situação se agravar caso o país não dê mostras de que pode ter um crescimento sustentado a médio e longo prazos.
"Se não colocarmos no horizonte que temos capacidade de crescer 4% ao ano por um período longo, aí vai ficar complicado", prevê Simino.

Regulação
Outro fator que reduz o apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil é a incerteza em relação ao marco regulatório de setores essenciais, como o de energia, ressalta Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC. Nesses casos, a falta de investimentos ameaça a própria capacidade de expansão do PIB (Produto Interno Bruto), já que cria limites estruturais ao crescimento, como ficou demonstrado na crise energética de 2001.
Julio Callegari, da consultoria Tendências, credita o baixo saldo de investimento estrangeiro no primeiro semestre ao pior cenário internacional e às indefinições relativas à economia brasileira. Otimista, ele acredita que a situação nas duas frentes vai melhorar nos próximos meses, o que permitiria um melhor resultado no fluxo de investimentos para o Brasil.

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