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Rachados, bancários iniciam 1ª negociação sob Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A primeira negociação salarial
dos bancários desde a posse do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um racha entre os funcionários do Banco do Brasil, tradicional reduto petista, por onde
passaram autoridades graduadas
do atual governo.
O conflito teve início com a decisão, tomada por sindicalistas do
BB e da Caixa Econômica Federal
-com o apoio da CNB (Confederação Nacional dos Bancários),
entidade filiada à CUT (Central
Única dos Trabalhadores)-, de
unificar a negociação salarial de
empregados de bancos públicos e
privados.
Até o ano passado, as conversas
eram feitas em separado, com a
definição de reajustes diferenciados para cada grupo de trabalhadores. Por esse motivo, há diferença nos reajustes concedidos a
bancários de instituições públicas
e privadas nos últimos anos, com
prejuízo para os primeiros. Então,
a unificação pode ser interessante
ao governo do ponto de vista econômico -fica mais difícil aos
funcionários dos bancos oficiais
pedirem reajuste extra.
As críticas a essa unificação partem da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do
Brasil), para quem a decisão prejudica uma das principais reivindicações do funcionalismo público, que é a reposição de perdas
ocorridas nos últimos anos.
A associação dos empregados
do BB é presidida por Valmir Camilo, filiado ao PPS.
Das cinco pessoas que fazem
parte da diretoria-executiva da
Anabb, apenas uma é filiada ao
PT. As demais se dividem entre
PPS (dois diretores), PDT e PSDB.
Ainda assim, o BB guarda fortes
laços com o PT. O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) e o deputado federal Paulo Bernardo
(PT-PR) são dois exemplos de ex-funcionários do banco que hoje
ocupam posições de destaque do
governo -após as eleições, chegaram a ser cotados para ocupar a
presidência da instituição.
Já a associação dos funcionários
da Caixa é mais identificada com
o PT, partido do presidente da Fenae (Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa), José Carlos Alonso Gonçalves.
Gonçalves chegou a trabalhar
com Berzoini quando o atual ministro ainda militava no sindicato
dos bancários de São Paulo.
Estimativa de perdas
Citando dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), a Anabb informa que, entre
1994 e 2002, os funcionários do BB
tiveram um reajuste de 54,79%,
contra 126,67% de aumento concedido pelos bancos privados no
mesmo período. Para que a situação fosse equiparada, o BB precisaria conceder um aumento de
55,42% a seus empregados.
A Anabb diz que a unificação é
um meio de o governo não repor
as perdas salariais e não se desgastar com isso.
"O PT sempre foi contra a unificação da negociação. Agora que é
governo, diz que é a favor. Desse
jeito, o governo pode simplesmente não repor as perdas e dizer
que só não concedeu um reajuste
maior aos servidores porque os
banqueiros não deixaram", diz a
diretora de comunicação da associação, Cecília Garcez.
Ela afirma que a formação de
uma mesa única de negociação foi
uma decisão "política", consequência da ligação dos sindicalistas com o PT.
Cecília Garcez diz que a unificação das negociações praticamente
acaba com as chances de o reajuste adicional ser concedido, pois,
para os bancos federais darem um
aumento de 55,42%, o setor privado precisaria concordar em dar o
mesmo reajuste a seus empregados.
A CNB, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que a unificação das negociações foi decidida em assembléia, de acordo com
o que está previsto no estatuto da
instituição.
A mesa única de negociação dos
bancários conta ainda com apoio
dos funcionários da Caixa Econômica Federal. A Fenae diz concordar com a decisão da CNB e afirma que a unificação dá mais força
à categoria na mesa de negociação. A idéia seria justamente evitar que ocorram fatos como os do
passado, quando bancos privados
concederam reajustes menores
do que os públicos.
Segundo a Fenae, os empregados dos bancos federais não serão
prejudicados com a decisão, pois
a reposição das perdas deverá ser
discutida em separado, após a negociação do dissídio.
Os empregados da Caixa não tiveram nenhum reajuste entre
1997 e 2001. No ano passado, o aumento foi de 5%, contra 7% concedidos pela iniciativa privada.
A primeira rodada de negociações entre a CNB, a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e
representantes do BB e da CEF
aconteceu na semana passada. A
Fenaban, entidade ligada à Febraban (Federação Brasileira dos
Bancos), faz as negociações salariais em nome dos bancos. Os
bancários reivindicam um reajuste salarial pelo ICV (Índice do
Custo de Vida, calculado pelo
Dieese), que, nos últimos 12 meses, acumula alta de 17,28%.
Os bancos ainda não fizeram
uma contraproposta oficial, mas
dizem que o aumento deveria ser
decidido com base na expectativa
de inflação futura, e não nos índices passados -tese que já foi defendida, em outras ocasiões, pelo
Banco Central.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)
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