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QUEDA SINCRONIZADA
Combinação entre câmbio administrado da Ásia e déficits americanos pode levar a temido recuo
Mercado teme desaceleração de EUA e China
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Aumenta a percepção de que o
modelo de câmbio administrado
asiático e os crescentes déficits
norte-americanos poderão levar à
tão temida desaceleração brusca
das economias da China e dos Estados Unidos.
"Não pode haver desaceleração
suave para os Estados Unidos e a
China", alertou um relatório recente, intitulado "Mergulho sincronizado", da consultoria Lombard Street Research, badalada no
mercado londrino.
Também preocupa o fato de
que os desequilíbrios comerciais
criados pela combinação desses
dois fatores abriram espaço para
uma forte retomada de movimentação no mercado de moedas global, que tinha caído bruscamente
depois do lançamento do euro.
Segundo relatório do BIS (sigla
em inglês para Banco de Compensações Internacionais), a atividade diária no mercado de moedas atingiu US$ 1,9 trilhão, número 35% maior do que o registrado
em 2001 (descontada a variação
cambial no período). Parte importante desse aumento se deveu
à ação dos fundos de hedge.
O relatório do BIS explica que,
em parte, esse aumento ocorreu
porque retornos em outros mercados, como o de ações e juros,
haviam caído muito.
De acordo com Charles Dumas,
diretor da Lombard Street, a outra causa para a especulação
maior com moedas é explicada
pela percepção de investidores de
que o dólar teria de se desvalorizar mais. Por conta disso, diz Dumas, investidores começaram a
montar posições de venda de dólar e compra de qualquer outro
ativo: "Isso levou a forte especulação com ações, commodities e
moedas, o que explica o aumento
de atividade no câmbio".
Segundo o economista, esse
movimento foi até positivo. Contribuiu para contrabalançar a forte pressão feita pelos governos
asiáticos contrária à desvalorização do dólar:
"O problema não foi a especulação. Foi o movimento anti-especulativo feito pela China e, mais
tarde, pelo Japão".
Desaceleração inevitável
O relatório da Lombard Street,
assinado pelo economista Brian
Reading, afirma que a decisão de
países asiáticos de estabelecerem
regimes de câmbio fixo ou administrado visava estabelecer um
modelo voltado para exportação,
com a manutenção de suas moedas desvalorizadas.
O modelo gerou crescimento
forte e um boom de investimentos. A reboque vieram as pressões
inflacionárias, principalmente
nos preços de alimentos, que levam o governo a tentar conter o
ritmo de crescimento.
O temor é que esse processo, em
vez de levar a uma desaceleração
suave da economia, conduza a
uma freada brusca. A maior parte
dos economistas aposta na primeira opção, com base em dados
recentes que mostram uma redução do nível de investimento e de
aumento da base monetária.
Mas são crescentes as análises
de que uma freada brusca pode
ser inevitável. A Lombard Street
diz que a não ser que a China continue crescendo no ritmo atual-
o que seria quase impossível
-uma queda nos investimentos,
que teria forte impacto no PIB
(Produto Interno Bruto), está a
caminho para 2005.
"Considerando que o investimento está próximo de 50% do
PIB, uma queda de 10% tiraria 5%
do crescimento", diz o relatório.
Os economistas Morris Goldstein e Nicholas Lardy, do prestigiado Institute for International
Economics, também escreveram
um artigo para o "Financial Times" sugerindo que aqueles que
já comemoram uma desaceleração tranqüila na China deveriam
"colocar as champanhes de volta
na geladeira". Eles expõem várias
razões que justificam uma queda
forte do nível de investimento.
A Economist Intelligence Unit
mantém seu cenário de desaceleração suave. Mas Robin Bew, economista-chefe da consultoria,
afirma que os riscos são muitos.
Um dos cenários possíveis para o
país, diz ele, é um em que a tentativa do governo de reduzir investimentos em setores específicos,
via medidas administrativas, contamine outros segmentos, por
meio do desemprego.
"Acho que, no próximo ano, veremos muita instabilidade nas
políticas do governo chinês", diz
Robin Bew.
Déficits nos EUA
Também crescem as preocupações com a sustentabilidade dos
déficits gêmeos- fiscal e em conta corrente-dos EUA.
"Acho que a economia norte-americana está se enfraquecendo
mais do que as pessoas acreditam.
Para piorar, o ajuste do déficit em
conta corrente é inevitável e os
seus efeitos tendem a ser duros",
diz Dumas.
O temor de economistas é compartilhado pelas autoridades norte-americanas. Robert McTeer,
presidente do Fed (Federal Reserve) de Dallas, disse que um ajuste
do déficit em conta corrente levaria a uma inevitável desvalorização do dólar, o que poderia precipitar uma crise financeira, se os
juros tiverem de subir.
O problema, segundo os economistas da Lombard Street, é que
os governos asiáticos têm sustentado as importações norte-americanas, injetando dinheiro no país
via compras de títulos do Tesouro
dos EUA para evitar que o dólar
se desvalorize frente a suas moedas. É um ciclo vicioso.
Se a China sofre uma desaceleração brusca, a demanda cai, forçando um ajuste rápido nas contas externas dos EUA. Isso levaria
ao que a consultoria chama de
"mergulho sincronizado" das
economias chinesa e dos EUA.
Nesse cenário, segundo o diretor de um banco estrangeiro em
Londres, há o risco de que investidores voltem a especular, apostando em mais desvalorização do
dólar. Isso geraria forte volatilidade nos mercados já inflado de
câmbio e commodities, criando
mais um risco à economia global.
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