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Itens de tamanhos diferentes têm preços desproporcionais; indústria diz que supermercados elevam margem
Varejo ganha mais com produto menor
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é só a alta da inflação que
"come" o salário do brasileiro.
Distorções de preço nas gôndolas
têm feito o consumidor levar menos produto pagando mais reais.
Mercadorias iguais, do mesmo
fabricante -porém com tamanhos diferentes-, registram preços desproporcionais ao seu peso.
É possível encontrar numa mesma loja, por exemplo, uma garrafa d'água (500 ml) a R$ 0,66. O
modelo menor (300 ml), de igual
marca e que deveria custar aproximadamente R$ 0,40 -segundo
a razão da proporcionalidade entre peso e preço-, é vendido por
R$ 0,62. Uma diferença de 62,9%
nos valores -a maior verificada
em pesquisa realizada pela Folha,
com vários produtos, em três redes (Pão de Açúcar, Carrefour e
Master).
Isso quer dizer que o consumidor tem pago mais caro pela
quantidade de produto (seja em
gramas ou mililitros) nos itens
menores. Um caso: ao comprar o
Omo Multi Cores em pó, a R$
5,60, em média, o cliente paga R$
0,56 por 100 gramas. No produto
de 500 gramas, gasta R$ 0,63 -ou
12,5% a mais.
Há discrepâncias em itens que
vão de latas de sardinha, de consumo menos frequente, a pasta de
dente, com alto giro nos estoques.
As variações, entretanto, na maioria das vezes passam de forma
despercebida para o consumidor.
A prática da indústria não é
condenável, afirma o Procon. Fabricantes esclarecem que a existência de diversos pesos e preços
nas gôndolas, sem a relação de
proporção entre eles, é legal e não
fere os direitos do consumidor.
Isso ocorre porque há custos fixos na fabricação de alguns produtos. E eles pesam no preço da
mercadoria, independentemente
do tamanho.
Sardinha e pasta
As diferenças poderiam ser explicadas, segundo a posição defendida pelas indústrias, na margem do varejo. A sardinha da
Quaker, por exemplo, pode ser
encontrada na rede Pão de Açúcar a R$ 2,45 (250 gramas). Mas o
item com 130 gramas não sai por
menos de R$ 1,40.
A companhia informa que o ganho de custo obtido com a embalagem menor "é totalmente repassado para o preço de tabela ao
varejo: 3% inferior". Ou seja, as
empresas até tentariam repassar
ao consumidor as diferenças nos
preços de itens com peso diferente. O varejo, entretanto, estaria
aplicando uma margem que cria a
desproporção. As redes Pão de
Açúcar e Carrefour negam.
A margem é a mesma nas mercadorias de porções variadas, afirmam.
A conta da indústria
A indústria tenta explicar a conta que precisa fazer para produzir
itens com porções e preços diferentes. "Temos de pagar ICMS
[Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços" e IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados" e a taxa se mantém, não
importa o peso da mercadoria.
Além disso, ainda há o custo com
a fabricação da tampa da embalagem, do rótulo, que é igual em todos os casos", afirma Cristiano
Martelli, gerente de produtos
não-alcoólicos da Schincariol.
De acordo com a Unilever, a resina usada para fabricar tampas
ou o rótulo do produto são custos
fixos. Portanto encarecem nos
mesmos reais tanto o item de
maior quanto o de menor tamanho. O fato de o produto de menor peso ter quantidade inferior
de alimento embalado também
não faz diferença, afirmam os fabricantes.
Por serem, na sua maioria, empresas de capital fechado, elas não
são obrigadas a tornar suas contas
públicas. A Folha entrou em contato com as companhias citadas.
As que se manifestaram tiveram a
posição publicada.
O Procon sugere que os consumidores fiquem atentos às diferenças de tamanho e preço. "Pode
ser mais interessante levar uma
unidade do maior produto do que
duas unidades do item com menor peso. O negócio é pesquisar",
afirma Sonia Amaro, assistente de
direção do Procon.
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