São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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PÉ NO FREIO

Pesquisa do Ciesp com 712 empresas de SP mostra queda nas encomendas dos lojistas e temor com entrada dos importados

Indústria prevê venda menor neste Natal

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A desaceleração da economia brasileira no terceiro trimestre, como constatou o IBGE, e taxa de câmbio mais favorável à importação vão levar a indústria paulista a ter um Natal mais fraco neste ano.
Levantamento do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) com 712 empresas mostra que as encomendas das lojas para o final do ano estão menores do que as do ano passado. Como conseqüência, os estoques estão mais elevados e a contratação de empregados temporários será menor neste último trimestre.
Para 41% das empresas consultadas, os pedidos para o Natal estão menores. Para 34%, estão iguais, e, para 25%, mais elevados. "Isso reflete o desempenho da economia brasileira. Indicadores [de emprego e PIB] são positivos, mas cada mês que passa o crescimento é menor sobre 2004", diz Claudio Vaz, presidente do Ciesp.
O levantamento também mostra que o comércio atrasou as compras para o Natal. Para 50% das empresas consultadas, as lojas postergaram os pedidos. Para 47%, este ano é parecida com o de 2004 e, para 3%, houve antecipação de encomendas.
"O Natal pode não ser tão bom para a indústria, mas não quer dizer que não será bom para o comércio. Os lojistas estão demandando mais produtos estrangeiros porque o câmbio favorece a importação", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
De janeiro a outubro, a importação de bens não-duráveis -como alimentos, bebidas, produtos farmacêuticos, roupas e sapatos- subiu 24,1% na comparação com igual período de 2004. Só em outubro, a alta foi de 34,1%.
A importação de bens duráveis, como veículos e eletrodomésticos, subiu 20,3% e 42,9%, respectivamente, no período. "É reflexo da taxa de câmbio", afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
A indústria de roupas, calçados e brinquedos, segundo Vaz, é a que mais sente neste final de ano a concorrência com os importados e a desaceleração econômica. São esses setores, segundo Vaz, que estão com os estoques mais altos do que o desejado neste trimestre.
A indústria de brinquedos informa que as encomendas das lojas foram feitas com um mês de atraso -em vez de os pedidos chegarem em agosto, como normalmente ocorrem, foram feitos em setembro. As vendas só aconteceram mesmo neste mês.
"Isso é reflexo da insegurança dos lojistas. Como o consumidor está endividado, os comerciantes têm medo. Existe também a opção dos importados", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos).
De janeiro a agosto, as vendas do setor caíram 35% sobre igual período de 2004. "Houve uma pequena recuperação na semana do Dia das Crianças, com alta de 5% nas vendas. Para o Natal, esperamos vender 8% a mais do que no ano passado. Mas, ainda assim, o setor não vai crescer sobre 2004." Apesar de a indústria ter feito 800 lançamentos em outubro -e deve fazer mais 300 para o Natal - o setor não conseguirá se recuperar.
"Estamos em pânico. A dobradinha juros em alta e câmbio em baixa fez com que as importações crescessem demais. No Brasil, o dólar está facilitando a vida do importador e atrapalhando a do exportador." Em 2004, as importações respondiam por 30% do mercado. Neste ano, a 50%.
O impacto foi tanto que os empresários devem apresentar ao governo na próxima semana um plano de "salvaguardas" para o setor. "É preciso haver um corte de 70% no volume de produtos importados." Neste ano, as 318 empresas do país previam contratar cerca de 5.000 temporários. "Não haverá contratação extra."


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