São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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Oito pessoas gastam R$ 14,2 milhões

Jefferson Coppola/Folha Imagem
Cliente em loja de cristais, na rua Oscar Freire, em São Paulo


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um grupo de oito brasileiros usou cartões de crédito para gastar, só no primeiro semestre de 2003, R$ 14,2 milhões. Por pessoa, o gasto médio foi de aproximadamente R$ 1,8 milhão.
O secretário-adjunto da Receita Federal Paulo Ricardo Cardoso diz que os nomes dos titulares dos cartões milionários estão protegidos por sigilo fiscal.
Seja na categoria "gastos elevados" ou na de "contribuinte irregular", Cardoso apenas afirma que "tem de tudo". "Empresários, celebridades e até camelô da Feira do Paraguai [grupo de feirantes de Brasília que vendem mercadorias compradas naquele país]." Abaixo do topo da lista, 32 contribuintes fizeram pagamentos entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão no cartão de crédito. Outros 2.768 gastaram algo entre R$ 100 mil e R$ 500 mil.
Nem todas essas pessoas estão em situação irregular. Podem compor apenas mais uma amostra da má distribuição da renda no país. Mas a Receita vai passar uma lupa nas suas próximas declarações de renda, para verificar se os gastos são compatíveis com os rendimentos.
A Receita Federal espera receber 18 milhões de declarações de Imposto de Renda até o dia 30. Apenas 6,6% da população economicamente ativa paga IR no país. Dos que o fazem, 58% estão na alíquota de 15%. Ou seja, ganham até R$ 2.115 mensais. O restante recebe mais do que isso e está na alíquota de 27,5%.
Entre as pessoas físicas, a Receita Federal tem direcionado os fiscais para a investigação de profissionais liberais (médicos, dentistas, advogados) e dirigentes de empresas.

Para poucos
Caminhar pela rua Oscar Freire, nos Jardins, na zona oeste de São Paulo, é acompanhar o gasto de grandes somas no cartão de crédito. Entre os lojistas, a percepção é que essa forma de pagamento é cada vez mais utilizada.
A maior parte dos consumidores das grifes de luxo usa cartão de crédito ao adquirir produtos como candelabros de cristal de R$ 8.000 ou vestidos de R$ 2.000.
Não é raro encontrar casos de clientes que, por exemplo, desembolsam R$ 15.000 pela bolsa mais cara da loja Victor Hugo, que tem uma filial na rua.
Na Tommy Hilfiger, um consumidor desembolsou há dois meses a metade dessa quantia para adquirir 15 camisas.
Um vendedor da loja disse que esse cliente gastou R$ 5.000 em um dia e mais R$ 2.000 no dia seguinte -dessa vez para a mulher.
A maioria dos cristais da francesa Baccarat também é adquirida por meio de cartão de crédito. Na loja, as vendas giram em torno de R$ 3.000 a R$ 4.000, em média.

Milhagem sobre rodas
Quem pode compra até mesmo carros no cartão. Um dos clientes de uma concessionária de automóveis esportivos de luxo, no mesmo bairro da zona oeste de São Paulo, pagou há dois anos R$ 130 mil por um carro no cartão de crédito. O preço do veículo era R$ 160 mil.
O gerente de vendas da loja, que preferiu não ser identificado, disse que o cliente pagou R$ 130 mil no cartão e R$ 30 mil em dinheiro. Era um consumidor estrangeiro, que trabalhava no setor de moda e a cada semana estava em um país diferente.
O mesmo vendedor conta outro caso, do diretor de uma multinacional que pagou metade de um veículo, R$ 40 mil, no cartão para ter direito a milhas de uma companhia aérea.
O consumidor dessas grifes, apesar do alto poder aquisitivo, parcela. A partir de valores como R$ 3.000 ou R$ 4.000, o comum é dividir, em média, em três vezes.
O problema é a taxa de administração das emissoras, de cerca de 4% sobre o valor da compra, que é bancada pelas lojas.
Em alguns casos, segundo os lojistas, acontece uma negociação com as administradoras para reduzir essa taxa.

Colaborou a Reportagem Local

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