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AMEAÇA EMERGENTE
Fim do superaquecimento da produção no país asiático ocasionaria menor demanda por matéria-prima
Comércio global teme desaceleração chinesa
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A XANGAI
Se o superaquecimento da produção chinesa chegar ao fim, a
economia mundial poderá sofrer
um forte impacto com a queda de
preços e da demanda por matérias-primas.
O setor de aço é o que apresenta
maior risco para os exportadores
brasileiros. Números oficiais do
governo chinês mostram que o
volume de investimentos em projetos siderúrgicos cresce a uma
velocidade que muitos consideram insustentável. Nos dois primeiros meses deste ano, ele deu
um salto de 170% em relação a
igual período de 2003.
Com o aumento da capacidade,
a produção de aço deverá passar
dos 260 milhões de toneladas do
ano passado para 330 milhões até
2005. O problema é que as projeções indicam que a demanda só
chegará a essa cifra em 2010.
Com a superoferta de aço, pode
acontecer queda de preços, redução da produção e corte nas importações de minério de ferro,
matéria-prima para fabricação do
produto.
A China é um dos principais
destinos das vendas brasileiras de
minério de ferro e tem um peso
crescente na pauta de exportações
do país. Outros setores que estão
com atividade considerada acima
do desejável são o de cimento e o
da construção civil.
Por enquanto, a superatividade
da economia chinesa provocou
alta nos preços de matérias-primas, principalmente do aço, em
razão da crescente demanda. O
conjunto da economia registrou
aumento de 43% nos investimentos nos primeiros três meses do
ano, depois de uma alta de 27%
em 2003.
De janeiro a março, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu a
uma taxa anualizada de 9,7%,
bem acima dos 7% que o governo
traçou como meta para todo este
ano. Em 2003, a economia expandiu 9,1%.
A boa notícia é que o governo
chinês não está subestimando os
riscos que a situação apresenta e
tenta controlar o ritmo de atividade com políticas monetárias restritivas. A grande dúvida é se elas
vão funcionar.
Xioayong Wu, economista do
departamento de Ásia/Pacífico do
IIF (Instituto de Finanças Internacionais), acredita que o pico do
superaquecimento já passou e diz
que a economia começa a ter um
crescimento mais reduzido.
O vice-ministro de Finanças, Li
Yong, afirmou em encontro do
IIF em Xangai que o governo está
controlando de perto o número
de novos projetos de investimentos em setores considerados críticos, com veto aos que são vistos
como inviáveis.
Além disso, o Banco Central subiu de 7% para 7,5% o depósito
compulsório dos bancos, que é a
quantidade de dinheiro que eles
têm de deixar imobilizados. A
medida vai retirar US$ 13 bilhões
de circulação da economia e reduzir o volume de recursos disponíveis para crédito.
"Há uma preocupação crescente por parte do governo, mas as
autoridades também estão preocupadas em tomar medidas que
não sejam muito drásticas, para
evitar o risco de um "hard landing"
da economia [desaquecimento
abrupto, que pode levar a crise]",
afirma Xioayong, do IIF.
Apesar das medidas oficiais,
analistas prevêem que, em 2004, o
PIB irá se expandir acima dos 7%
desejados pelo governo. Mesmo
economistas oficiais projetam números bem superiores.
O vice-diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento
do Centro de Informação Estatal,
Xu Hongyuan, projeta crescimento do PIB de 9% em 2004. Segundo ele, o ritmo de expansão ainda
continuará alto no segundo trimestre, mas diminuirá na segunda metade do ano.
Alguns analistas apostam que o
governo vá elevar a taxa de juros,
que está inalterada (em 1,98% ao
ano) há oito anos, mas Xioayong
considera essa possibilidade remota. A alta dos juros atrairia um
fluxo de capital ainda maior para
o país, o que traria problemas para o governo controlar a cotação
de sua moeda (o yuan), que há
anos está numa cotação fixa em
relação ao dólar.
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