São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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AMEAÇA EMERGENTE

Fim do superaquecimento da produção no país asiático ocasionaria menor demanda por matéria-prima

Comércio global teme desaceleração chinesa

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A XANGAI

Se o superaquecimento da produção chinesa chegar ao fim, a economia mundial poderá sofrer um forte impacto com a queda de preços e da demanda por matérias-primas.
O setor de aço é o que apresenta maior risco para os exportadores brasileiros. Números oficiais do governo chinês mostram que o volume de investimentos em projetos siderúrgicos cresce a uma velocidade que muitos consideram insustentável. Nos dois primeiros meses deste ano, ele deu um salto de 170% em relação a igual período de 2003.
Com o aumento da capacidade, a produção de aço deverá passar dos 260 milhões de toneladas do ano passado para 330 milhões até 2005. O problema é que as projeções indicam que a demanda só chegará a essa cifra em 2010.
Com a superoferta de aço, pode acontecer queda de preços, redução da produção e corte nas importações de minério de ferro, matéria-prima para fabricação do produto.
A China é um dos principais destinos das vendas brasileiras de minério de ferro e tem um peso crescente na pauta de exportações do país. Outros setores que estão com atividade considerada acima do desejável são o de cimento e o da construção civil.
Por enquanto, a superatividade da economia chinesa provocou alta nos preços de matérias-primas, principalmente do aço, em razão da crescente demanda. O conjunto da economia registrou aumento de 43% nos investimentos nos primeiros três meses do ano, depois de uma alta de 27% em 2003.
De janeiro a março, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu a uma taxa anualizada de 9,7%, bem acima dos 7% que o governo traçou como meta para todo este ano. Em 2003, a economia expandiu 9,1%.
A boa notícia é que o governo chinês não está subestimando os riscos que a situação apresenta e tenta controlar o ritmo de atividade com políticas monetárias restritivas. A grande dúvida é se elas vão funcionar.
Xioayong Wu, economista do departamento de Ásia/Pacífico do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), acredita que o pico do superaquecimento já passou e diz que a economia começa a ter um crescimento mais reduzido.
O vice-ministro de Finanças, Li Yong, afirmou em encontro do IIF em Xangai que o governo está controlando de perto o número de novos projetos de investimentos em setores considerados críticos, com veto aos que são vistos como inviáveis.
Além disso, o Banco Central subiu de 7% para 7,5% o depósito compulsório dos bancos, que é a quantidade de dinheiro que eles têm de deixar imobilizados. A medida vai retirar US$ 13 bilhões de circulação da economia e reduzir o volume de recursos disponíveis para crédito.
"Há uma preocupação crescente por parte do governo, mas as autoridades também estão preocupadas em tomar medidas que não sejam muito drásticas, para evitar o risco de um "hard landing" da economia [desaquecimento abrupto, que pode levar a crise]", afirma Xioayong, do IIF.
Apesar das medidas oficiais, analistas prevêem que, em 2004, o PIB irá se expandir acima dos 7% desejados pelo governo. Mesmo economistas oficiais projetam números bem superiores.
O vice-diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Informação Estatal, Xu Hongyuan, projeta crescimento do PIB de 9% em 2004. Segundo ele, o ritmo de expansão ainda continuará alto no segundo trimestre, mas diminuirá na segunda metade do ano.
Alguns analistas apostam que o governo vá elevar a taxa de juros, que está inalterada (em 1,98% ao ano) há oito anos, mas Xioayong considera essa possibilidade remota. A alta dos juros atrairia um fluxo de capital ainda maior para o país, o que traria problemas para o governo controlar a cotação de sua moeda (o yuan), que há anos está numa cotação fixa em relação ao dólar.


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