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VÔO CEGO
Dados oficiais mostram que a eficiência operacional das companhias aéreas caiu pela metade desde dezembro de 1999
Passageiros sofrem com crise das aéreas
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise do setor aéreo não afeta
só os balanços das empresas do
setor. O passageiro tem sofrido, e
muito. Dados obtidos pela Folha
no DAC (Departamento de Aviação Civil) mostram que a eficiência operacional das companhias é
hoje a metade da registrada em
dezembro de 1999.
A eficiência (média da pontualidade e do não-cancelamento) dos
vôos domésticos naquele período
foi de 88%. Em março de 2003,
apenas 44% dos vôos não tiveram
problemas.
A degradação no serviço de bordo (fornecimento de bebidas, comidas e entretenimento) também
é gritante. Há cinco anos, o passageiro de qualquer classe de vôo
doméstico tinha à sua disposição
refeições como feijoadas, pratos
árabes e cozinha francesa. Hoje,
precisa se contentar com um único sanduíche de queijo ou carne.
Ou barras de cereais.
Para o consultor José Carlos
Martinelli, o mundo da aviação
passou a ser outro após os atentados de 11 de setembro de 2001 e o
Brasil não ficou alheio a esse processo. No país, a concorrência
acirrada, a alta do dólar e o preço
do petróleo em 2002 serviram como gota d'água para as aéreas,
que cortam radicalmente seus
custos para lidar com uma dívida
total de cerca de US$ 2 bilhões.
"Para economizar, as companhias passaram a trabalhar com
menor número de aviões de reserva e de peças sobressalentes.
Isso afeta a operacionalidade."
As empresas confirmam o corte
de despesas. Algumas admitem a
queda de eficiência. Mas responsabilizam fatores conjunturais ou
companhias terceirizadas pelo
problema. O vice-presidente técnico da Gol, David Barioni Neto,
diz que os dados do DAC resultam de motivos temporários.
"As empresas que nos oferecem
serviços terceirizados, como escadas de desembarque e tratores para reboque de aviões, tiveram
problemas para importar equipamentos", afirma Barioni. "Estamos voltando ao normal."
A queda no índice de operacionalidade da Gol é dramática. Em
fevereiro de 2001, após o início de
suas operações, a empresa tinha
um índice de 96%. Em março de
2003, o percentual caiu para 68%.
Ao trocarem refeições por lanches, as companhias obtiveram
uma economia considerável. A
TAM fez sua reformulação nos
serviços de bordo em fevereiro de
2003. A empresa afirma que, antes
do processo, cerca de 5% a 8% dos
seus custos diziam respeito à alimentação dentro dos aviões. Agora, os percentuais estariam entre
4% e 6%, dependendo do vôo.
Para um especialista, a crise na
aviação é tão grave (a Varig deve
US$ 1 bilhão) que as empresas hoje se dedicam mais a lidar com
credores e a contratar advogados
do que a melhorar seus serviços.
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