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Para consultor, Selic elevada derrubou dólar
DA REPORTAGEM LOCAL
A valorização do real está colocando frente a frente os interesses
da economia real e o dogma dos
tecnocratas que seguem os manuais de economia que rezam: em
sistema de câmbio livre, não se
mete a mão.
"A presença de representantes
da indústria, da agricultura e do
setor exportador no governo é
que está alimentando a polêmica
sobre a valorização do real", diz
Paulo Possas, diretor da Eagle Capital. "E isso é muito saudável."
Na opinião dele, esse conflito de
interesses e visões vai obrigar o
país a discutir o fim da ciranda financeira. "A questão que está por
trás da valorização do real é a absurda taxa de juros que se pratica
no Brasil há mais de 20 anos", diz
Possas.
Segundo ele, o que atraiu o
grande volume de capital especulativo, que derrubou a cotação da
moeda americana neste ano, foi a
puxada na taxa básica de juros, a
Selic, para 26,5% ao ano. "O que
está colocado em questão é a mudança do atual modelo de especulação financeira para outro que
estimule a produção e gere crescimento econômico", afirma. Nesse
sentido, ele diz que o que o país
precisa é de "um pouco mais de
câmbio e muito menos juro".
Sobe-e-desce
Para Emílio Garófalo, ex-diretor
do Banco Central, o principal problema do câmbio hoje não é o seu
patamar, mas a volatilidade (oscilação diária). O forte sobe-e-desce
das cotações num curto período
de tempo -às vezes em horas-
é o que está parando o país.
"A volatilidade atinge todo
mundo, enquanto que o real valorizado penaliza apenas alguns setores exportadores e as empresas
que têm a maior parte dos seus
custos de produção em reais," diz
Garófalo.
A volatilidade do câmbio, segundo ele, está amarrando a economia e a produção. "O importador tem medo de fazer um financiamento para comprar insumos
lá fora a um dólar barato e ter que
liquidar o empréstimo dentro de
seis meses, com a moeda em um
patamar mais alto", diz. Por isso,
mesmo com o câmbio favorável,
as importações não cresceram.
A volatilidade também trava as
empresas, que não conseguem
planejar a produção, formar preços ou fechar contratos de exportação, pois não podem garantir
preços futuros.
Segundo Garófalo, uma empresa que depende da importação de
insumos e exporta parte de sua
produção pode ter prejuízos pesados num único dia com a oscilação do câmbio. "Se num mesmo
dia o dólar sobe 1,5% e depois cai
1%, dependendo da hora em que
a empresa fechar os contratos de
financiamento à importação e exportação, perderá uma fortuna."
Esse quadro de volatilidade, diz
o especialista, se combate com pequenas intervenções diárias do
BC no mercado de câmbio. "Mas
a autoridade monetária ainda não
sabe lidar direito com a volatilidade do câmbio", afirma.
O problema da atual política de
câmbio flutuante, segundo Garófalo, é que só a moeda flutua.
"Mas os importadores e os exportadores não têm liberdade para
comprar e vender dólar quando
quiserem, aproveitando a melhor
cotação."
(SANDRA BALBI)
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