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Especialistas são unânimes sobre reduzir Selic, mas divergem sobre EUA, que passariam por "ajuste", segundo a Bear Stearns
Brasil precisa cortar juros, dizem analistas
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Especialistas em economia global concordam mais sobre a viabilidade de o Brasil cortar já a taxa
de juros e tentar voltar a crescer
do que sobre os rumos da economia dos Estados Unidos nos próximos meses.
Em entrevista à Folha, o economista-chefe da corretora Bear
Stearns, David Malpass, afirma
que o Brasil não deveria esperar e
continuar se preocupando com a
inflação para cortar os juros.
"O presidente Lula tem feito
muitos progressos, mas a pergunta chave agora é como tirar a
maior vantagem do real mais forte. O Brasil deveria aumentar rapidamente as reservas internacionais e cortar agora os juros", afirma. "Com o dólar no valor atual,
não há mais riscos inflacionários.
E o que o Brasil precisa desesperadamente é de crescimento."
Desmond Lachman, especialista em mercados emergentes e ex-diretor da corretora Salomon
Smith Barney e do FMI (Fundo
Monetário Internacional), diz que
o Brasil deveria ser "agressivo" no
corte de juros. Para ele, o risco de
inflação já está descartado. "O
Banco Central deveria reduzir os
juros mesmo que isso levasse a
um real mais fraco. O ponto vital,
que vai recolocar o Brasil de volta
aos trilhos, é o crescimento."
Lachman afirma que, no curto
prazo, as indefinições na economia americana têm favorecido o
Brasil, à medida que os investidores estão procurando países com
taxas de juros elevadas. O economista não acredita na recuperação da economia dos EUA no médio prazo e afirma que, por isso, o
Brasil deveria aproveitar a chance
agora de retomar sozinho uma
trajetória de crescimento. "Temos
uma crise sincronizada nos EUA,
no Japão e na Europa, com taxas
de juro muito baixas. Dificilmente
vamos sair disso tão cedo. No curto prazo, tem sido bom para os
emergentes. Mas não continuará
assim indefinidamente", afirma.
Malpass, ao contrário, diz que
os EUA estão apenas em uma fase
de "ajuste" e acredita que a desvalorização do dólar ante o euro vai
ajudar a economia do país a se recuperar rapidamente. Ele afirma
que, ao contrário do Japão, que
demorou para desvalorizar o iene
e baixar os juros quando começou a entrar em crise, "os EUA
têm sido rápidos nas decisões".
"Estamos hoje em um ponto em
que a taxa de juros é menor do
que a inflação, o que é um tremendo estímulo. O Japão, em dez
anos de política monetária, nunca
conseguiu isso", diz.
"Os pessimistas vão dizer: "não
vai funcionar, pois ainda há uma
capacidade ociosa muito grande".
Não creio que isso seja um obstáculo", afirma Malpass. "As coisas
mudam rapidamente na economia. Muitos setores estão voltando aos lucros e devem retomar
seus ciclos de investimentos.
Quando os juros caem a um patamar tão baixo como o atual, as
empresas começam a querer correr algum risco e investir."
John Makin, da corretora Caxton Associates e ex-consultor do
Tesouro e do banco central americano, afirma que o importante
neste momento é que o Fed tem
"mostrado ação. O maior problema é não fazer nada".
Makin afirma, no entanto, que
os últimos sinais de deflação na
economia americana "complicaram" as coisas. "Ao sugerir que
vai baixar o juro para recuperar a
economia, o Fed está dizendo:
"comprem agora, pois tudo vai ficar mais caro depois". O problema
é que a deflação começa a passar
uma mensagem oposta a essa."
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