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CÚPULA
Ricos dizem que vão impulsionar livre comércio, mas não anunciam medidas imediatas para atacar crise global
G8 diz que manterá cronograma de Doha
MARIA LUIZA ABBOTT
DE DEAUVILLE (FRANÇA)
Os ministros de Finanças do G8
(grupo dos sete países mais ricos,
mais a Rússia) assumiram forte
compromisso com a promoção
do desenvolvimento dos países
do sul -pobres ou em desenvolvimento- e com a liberalização
comercial, incluindo o cronograma e os objetivos da rodada de
Doha da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
A rodada inclui a redução gradual de subsídios agrícolas já a
partir de janeiro de 2005, como
quer o Brasil. No comunicado do
fim da reunião, divulgado ontem
à tarde, os ministros dizem esse é
um momento decisivo para o comércio e para o desenvolvimento,
e que assumir suas responsabilidades é um dever deles com os
países em desenvolvimento.
"Estamos determinados a alcançar os objetivos e o cronograma geral estabelecidos na agenda
de Doha do desenvolvimento e a
assegurar que a reunião ministerial (da OMC, em setembro) de
Cancún tome as decisões necessárias para atingir esses objetivos",
diz o comunicado da reunião, que
é preparatória para o encontro de
cúpula do G8 em junho, em
Evian, que terá a participação do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Compromissos assumidos
devem ser cumpridos. É nosso
dever, tanto quanto o é para o benefício de todos", acrescenta.
As negociações comerciais multilaterais enfrentam sérias dificuldades, entre elas a resistência de
países europeus, especialmente a
França, em rever os subsídios para agricultura. Em entrevista no
fim da reunião, o ministro da Economia da França, Francis Mer, reconheceu que não será fácil assegurar o sucesso das negociações
da rodada de Doha. "Mas economicamente e politicamente é do
nosso interesse justificar a expectativa que os nossos vizinhos do
sul têm nesse processo", disse.
Brasil como exemplo
Os ministros se comprometeram com reformas nos países ricos, mas também querem que os
países em desenvolvimento façam reformas estruturais e de governança. Em troca, prometem
fornecer os recursos necessários
para apoiar a implementação dessas medidas "a médio prazo".
Mer citou o Brasil como exemplo para as reformas que devem
ser implementadas em outros
países em desenvolvimento. Disse
que as mudanças esperadas do sul
visam a assegurar maior acesso à
educação e saúde, necessário para
o crescimento econômico.
Os ministros do G8 também se
comprometeram a reforçar o sistema de prevenção de crises financeiras de países emergentes.
Anunciaram que o Clube de Paris -onde são negociados empréstimos de país para país- vai
buscar montar modelos de solução para países com dívidas insustentáveis, que incluiriam redução de débito mesmo para aqueles de renda média. Em troca, os
países teriam que mostrar estar
seguindo políticas econômicas
que evitassem a sua volta ao Clube
de Paris. Os credores privados
participariam desses modelos,
mas não está claro como seria o
seu envolvimento.
No comunicado, os ministros
deram apoio às cláusulas de ação
coletiva (CACs) nas emissões de
títulos da dívida dos governos
(emissões soberanas de papéis),
como as que foram incluídas em
recente operação do Brasil. "Damos as boas-vindas às decisões de
Brasil, África do Sul e Uruguai de
adotar CACs, seguindo o exemplo
do México, e encorajamos os países a adotar CACs com termos
que facilitem reestruturação de
dívida", diz o comunicado.
Confiança cautelosa
Para atender a esse compromisso com o desenvolvimento dos
países do sul, os ministros também dizem ser necessário em primeiro lugar assegurar o crescimento nas suas próprias economias. Não anunciaram medidas
imediatas para atacar as dificuldades atuais da economia mundial e
fizeram uma avaliação positiva
das perspectivas econômicas de
longo prazo para países ricos e
pobres.
"Embora os maiores riscos tenham se reduzido, nossas economias continuam a enfrentar muitos desafios. Mesmo assim, estamos confiantes no potencial para
um crescimento mais forte", diz o
comunicado.
O ministro francês insistiu que
eles não vêem risco de deflação
mundial e que acreditam que já
existem condições para retomada
do crescimento. O comunicado
diz que a Europa vai continuar a
estimular inovação e a "acelerar
reformas de mercados de capital,
de trabalho e produção para uma
economia mais flexível".
Os Estados Unidos prometem
atuar para "criar empregos e estimular poupança e investimento
pelo setor privado".
O Japão diz que vai "continuar
suas reformas estruturais, incluindo os setores financeiro e de
empresas, e intensificar os esforços para combater a deflação".
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