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Inflação dos alimentos já afeta o comércio
Setor de supermercados, alimentos e bebidas reduz ritmo de crescimento por causa da alta de preços, aponta pesquisa do IBGE
CIRILO JUNIOR
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
A inflação dos alimentos já
afeta as vendas do comércio varejista. Em abril, houve expansão, em volume, de 0,2% na
comparação livre de efeitos sazonais com março, quando a alta havia sido mais robusta
(1,5%). Em relação a abril de
2007, houve expansão de 8,7%,
menor do que em março (11%).
Segundo o IBGE, o desempenho foi influenciado negativamente pelo setor de supermercados, alimentos e bebidas. A
alta dos preços já indica que o
consumidor está procurando
produtos mais baratos para fugir dos efeitos da inflação, de
acordo com o IBGE.
Um sinal desse efeito é que o
volume de vendas de super e hipermercados cresceu 0,5% em
relação a março, mas a receita
nominal caiu 6,4%. Ou seja, a
quantidade cresceu, mas com a
venda de itens de menor valor.
Considerando todo o setor de
hiper, supermercados e demais
lojas de produtos alimentícios,
bebidas e fumo, as vendas recuaram 0,1% de março para
abril. Na comparação com abril
do ano passado, houve uma expansão de 0,6% -menor que os
8,5% de março.
Outro dado que indica que a
alta dos alimentos fez sobrar
menos dinheiro no bolso dos
consumidores é a redução das
vendas de artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem
jóias e artigos esportivos. Na
comparação com março, houve
queda de 1%. Em relação a abril
de 2007, as vendas subiram
10,2%, num ritmo bem menor
do que os 27,6% constatados
em março.
"A inflação afeta principalmente as classes mais pobres, e
as pessoas já começam a deixar
de fazer uso de supérfluos e a
consumir produtos de menor
valor agregado", observou o
economista-chefe da consultoria Gouvêa de Souza & MD, Cesar Fukushima.
"A alta em relação ao ano
passado, no resultado geral, é
razoável. Teria sido maior caso
o comportamento do grupo ligado aos alimentos tivesse sido
melhor. Se esse segmento tivesse mantido os patamares
deste ano, o comércio teria
crescido mais de 10%", afirmou
Reinaldo Silva Pereira, responsável pela Pesquisa Mensal do
Comércio.
De janeiro a abril, as vendas
no varejo subiram 11%. Nos últimos 12 meses, o comércio teve uma expansão de 10,3%, de
acordo com o IBGE.
Efeito Páscoa
De acordo com Pereira, o resultado mais fraco dos setores
ligados a alimentos não é culpa
somente da inflação, mas também do "efeito Páscoa". É que
no ano passado a data foi celebrada em abril, e a base de comparação foi elevada.
"O dado da Páscoa é relevante no resultado. Mas já faz sentido dizer que a alta dos produtos alimentícios afeta as vendas
do comércio varejista", disse o
chefe do departamento econômico da CNC (Confederação
Nacional do Comércio), Carlos
Thadeu de Freitas.
Por outro lado, setores como
o de móveis e eletrodomésticos
continuam com as vendas em
alta, impulsionados pela forte
oferta de crédito e pela valorização do câmbio. Em relação a
abril do ano passado, as vendas
desse ramo aumentaram
27,8%. É o maior resultado desde abril de 2004, quando as
vendas haviam superado em
32,2% o resultado em igual mês
do ano anterior.
"O resultado de abril mostra
um ajuste saudável no varejo.
As vendas deverão cair um pouco, mas não irão despencar. É
um ajuste natural, que tem que
ser feito e que ajuda a evitar
movimentos bruscos na economia, como a elevação dos juros", destacou o diretor-executivo do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo),
Emerson Kapaz.
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