São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Inflação anula ganhos de poupança e fundos em maio

Para especialistas, investidor deve ficar atento a tributos e a taxas dos fundos

Investidor pode aplicar em títulos indexados a índices como o IPCA ou comprar cota de fundos que tenham esses papéis em sua carteira


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A recente disparada da inflação já anulou o rendimento da caderneta de poupança no ano e ameaça deixar negativa também a rentabilidade de outras aplicações financeiras que acompanham as taxas de juros, como os fundos de renda fixa e até mesmo os DI. Isso porque, até o momento, há um descompasso entre os efeitos da política de juros altos e os índices de preços. Em outras palavras, a inflação subiu muito e rápido, enquanto os juros sobem em ritmo mais lento.
Levantamento da consultoria Economática mostra que a poupança rendeu apenas 0,574% em maio, enquanto o IPCA saltou 0,79%. Foi a quarta maior perda do poder de compra da poupança desde o início do governo Lula, abaixo apenas dos três primeiros meses de 2003. No ano, o retorno de 2,869% da poupança foi insuficiente para cobrir perdas de 2,882% com a inflação.

Fundos no vermelho
A inflação no mês passado foi tão alta que mesmo os investidores dos fundos DI, de renda fixa e dos CDBs tiveram rendimento líquido negativo, dependendo do Imposto de Renda.
No caso dos fundos DI, o retorno bruto médio foi de 0,88%. Descontando-se um IR de 22,5% -alíquota para resgate em menos de seis meses- o rendimento cai para 0,682%.
A perda aconteceu também no caso de incidência da menor alíquota, de 15% (resgate acima de dois anos), em que o ganho ficou em 0,748%.
Os fundos de renda fixa, que investem em títulos prefixados, tiveram retorno bruto de 1,01% em maio -líquido, teriam ganho entre 0,783% e 0,858%, dependendo do IR. Já para os CDBs, o retorno líquido variou entre 0,736% e 0,807%.
"Em termos gerais, todas as aplicações indexadas a taxas de juros -CDBs, poupança, fundos DI, renda fixa- estão sofrendo. É importante não olhar apenas um mês, mas todo um período. A expectativa é que o rendimento dessas aplicações, além da inflação, fique apertado e até negativo. A inflação subiu muito rapidamente e os juros, não. Fica cada vez mais importante olhar taxas de administração e tributos", disse Fábio Colombo, administrador de investimentos pessoais.
"Estamos de volta a um período de juro real negativo. O investidor deve pensar se essa situação veio para ficar ou se vai passar em algum momento. Se acha que vai perdurar, deve buscar um investimento que cubra as perdas com a inflação, como títulos públicos indexados ao IPCA ou fundos que apliquem nesses títulos", disse Marcia Dessen, consultora de investimentos pessoais.
Indexada ao IPCA, a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional, série B) vendida pelo Tesouro Direto confere um retorno suficiente para cobrir a inflação oficial e mais uma pequena taxa de juros. Mais uma vez, os consultores advertem para as taxas de custódia, que podem ficar iguais ou até maiores do que as de administração dos fundos.
Por outro lado, os analistas acreditam que os índices de preços tendem a se desacelerar, enquanto o retorno dos fundos de investimento, dos CDBs e até mesmo da poupança deve subir mais, acompanhando as novas elevações da taxa Selic.
"A política monetária tende a corrigir esse desvio. Em épocas de inflação, qual é a forma mais simples de se proteger? Aplicar em fundos DI, que sobem com os juros [do BC]. Onde o investidor não pode estar agora é no prefixado [fundos de renda fixa], que têm taxas do passado", disse Dessen.
A poupança é corrigida por 0,5% mais a TR, taxa calculada com base na média dos CDBs dos maiores bancos. Prevendo que a TR pudesse ficar negativa com a redução gradual dos juros, o Banco Central fixou em fevereiro um rendimento mínimo de 0,5% ao mês para a poupança. A medida foi um ajuste à mudança, no ano passado, do chamado redutor da TR, que diminuiu o retorno dessas aplicações.


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