São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Crédito, nuvens e chuvas esparsas


Prazos de financiamento crescem menos, inadimplência pára de melhorar; preços altos devem prejudicar o crediário

EM MARÇO , discutia-se no governo a adoção de medidas administrativas com o objetivo de conter a expansão do crédito.
Guido Mantega chegou a tratar do assunto, em público, inflando um balão que caiu rápido. Na época, o Banco Central circulava pelos bancos, mas para verificar como andava a segurança dos empréstimos -se a qualidade do crédito era boa, se as reservas eram adequadas para a extensão e o nível de risco dos financiamentos. Não viu problemas.
Mas a Fazenda dava a impressão de que defendia restrições administrativas ao crédito como alternativa à alta de juros. Os juros mais altos vieram, mas a conversa sobre crédito continuou a ser ruminada.
Na segunda-feira, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi entrevistado no programa "Roda Viva", da TV Cultura de São Paulo.
Oficialmente, digamos, afirmou que a taxa básica de juros é o instrumento de política monetária do BC e ponto. Medidas como encurtar prazos de financiamento ou exigir mais capital para empréstimos mais longos, por exemplo, teriam como objetivo apenas aumentar o grau de segurança do sistema financeiro.
Nas entrelinhas, porém, Meirelles deu a entender que poderiam ocorrer "coincidências": a adoção de medidas "prudenciais" no mesmo momento em que o BC estivesse apertando as cravelhas da política monetária via aumento de juros. Mas tal coincidência "não será necessária, provavelmente", disse Meirelles.
Os dados agregados mais recentes a respeito dos prazos de financiamento são apenas de abril. De um modo geral, a extensão média dos financiamentos cresce desde meados de 2004. Mas, no primeiro quadrimestre deste ano, a linha de alta contínua dos prazos deu uma estremecida em algumas modalidades de crédito. Por exemplo, na média geral do crédito para pessoa jurídica e no crédito para a aquisição de bens (veículos e outros) por pessoas físicas, embora o financiamento imobiliário continuasse a explodir.
Uma circulada pelo varejo paulista de bens duráveis não sugeriu grandes conclusões a respeito de mudanças nos prazos. Os dirigentes do setor parecem é bem preocupados com a alta da inflação -bem mais do que com juros em alta. Nas classes de renda mais baixa, o gasto mais alto com alimentos deixa menos salário para prestações. O fraco resultado do varejo de abril, na medida do IBGE, trata porém de apenas um mês de desaceleração.
O nível de atraso e inadimplência das prestações está notavelmente bem comportado, mesmo com a entrada de novos consumidores no mercado, pessoas de renda modesta e com menos experiência na administração de contas compridas. Mas no primeiro quadrimestre deste ano tais indicadores pararam de melhorar. Sim, parece que se procura pêlo em ovo: os resultados apenas pararam de melhorar. Mas uma política monetária apertada dá um tapa na inadimplência, para cima. Aliás, a intenção é esta: inibir a concessão de crédito e esfriar a economia.
Mas, por ora, o ambiente parece tranqüilo no crédito, ainda que ligeiramente nublado e sujeito a chuvas esparsas. A fim de manter tal situação e o bem-estar das famílias, seria de grande utilidade o governo parar de aumentar seus gastos.

vinit@uol.com.br


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