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EMERGENTES
Jim O"Neill, do Goldman Sachs, diz que até 2036 a economia brasileira superará a alemã, mas pede maior abertura
Economista crê em novos líderes globais
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em 2036, a economia brasileira
será maior do que a alemã, superando todos os demais países europeus. A China ultrapassará os
Estados Unidos em 2041 e, por
volta de 2032, a Índia vai superar o
Japão. Em 2050, Brasil, Rússia, Índia e China integrarão o G6 (seis
maiores economias do mundo) e
mudarão drasticamente as relações de poder e de comércio existentes hoje no globo.
A análise é do economista-chefe
do banco norte-americano Goldman Sachs, Jim O"Neill, que lançou no ano passado o polêmico
estudo chamado "Sonhando com
BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China): o caminho para 2050".
De Londres, em entrevista à Folha por telefone, O"Neill disse que
suas projeções não são tão otimistas assim quando comparada à
realidade de Coréia do Sul e do Japão na década de 60 com a situação dos dois países hoje.
"É muito interessante ver que
algumas das economias asiáticas,
como o Japão, especialmente, estão hoje em situação muito melhor do que se esperava pelas análises feitas em 1960", disse.
Por suas projeções, o Brasil
crescerá nos próximos 50 anos a
uma taxa anual de 3,6%, percentual que ele considera bastante
"ambicioso" quando se olha a história do país nos últimos 50 anos.
Para que o cenário se confirme,
o Brasil precisaria abrir mais sua
economia. O governo teria também de reduzir o tamanho da dívida pública, para não concorrer
com o setor privado por crédito, e
aumentar a taxa de poupança.
Folha - O sr. poderia fazer uma
síntese do quadro traçado para cada um dos quatro países?
Jim O"Neill - Eu enfatizo o termo
"sonhando", pois o estudo não é
uma projeção de 100% do que poderá acontecer.
Eu penso que os quatro países
enfrentam diferentes desafios para alcançar seus sonhos. A maior
prioridade para a China é aumentar a importância da cultura do
consumo. O país precisa também
melhorar a qualidade do sistema
financeiro, o que envolve importantes reformas, e, em determinado estágio, fazer algum tipo de
transição política.
No caso da Índia, o país precisa
abrir muito mais sua economia e
ter um sistema de educação básica muito melhor. É preciso ter
também mais transparência sobre as políticas macroeconômicas
adotadas.
O principal ponto de transição
para a Rússia é reduzir sua dependência em do petróleo [principal
produto de exportação do país].
Além disso, ao contrário dos outros países [do BRICs], precisa
conter a redução da população.
Para o Brasil, um dos pontos-chaves é abrir mais o seu mercado. O Brasil precisa ter mais claro
que o mundo ajudará mais quanto mais houver competição [no
comércio exterior]. Historicamente, um grande número de
países latino-americanos, incluindo o Brasil, nunca pareceu estar
consciente dos benefícios advindos do comércio internacional.
Folha - Essas projeções não são
muito suscetíveis a falhas, uma vez
que o período em questão é bastante longo?
O"Neill - O que nós fizemos foi
pegar períodos de cinco anos e assumir como a produtividade e a
demografia nesses países iriam
afetar os padrões econômicos ao
longo desses períodos de cinco
anos. É claro que as projeções podem ser muito otimistas. No entanto, no estudo, nós tentamos
avaliar o que uma projeção semelhante mostraria nos anos 60. É
muito interessante ver que algumas das economias asiáticas, como Coréia do Sul e Japão, especialmente, estão hoje em situação
muito melhor do que se esperava
pelas análises feitas nos anos 60.
Então, as projeções não são necessariamente tão otimistas assim.
Folha - Em seu estudo, a projeção
de crescimento médio para o Brasil
nos próximos 50 anos é de 3,6% ao
ano. Essa taxa média de crescimento é um bom número para o Brasil?
O"Neill - É muito ambiciosa, dado o histórico de crescimento do
país nos últimos 50 anos. Mas, no
nosso estudo, dizemos também
que o crescimento nos próximos
anos, de hoje até o final desta década, será acima de 4%.
Folha - Ao ultrapassar a economia americana, como o crescimento chinês vai modificar o equilíbrio
político global hoje existente?
O"Neill - Essa é uma pergunta
muito boa. Como nós já estamos
caminhando nessa direção, precisamos urgentemente de uma reforma no G7. Quando me interessei pela primeira vez por esse conceito, escrevi um artigo chamado
"O mundo precisa de fundamentos econômicos [em inglês, "economic bricks", trocadilho com
BRICs]". Argumentei que uma
expansão definitiva do G7 era necessária para incluir a China. Seria
preciso também aumentar a importância do G20, para que China, Índia, Rússia e Brasil tivessem
voz maior na administração da
política econômica mundial.
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