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EUA
Processo judicial contra o Morgan Stanley mostra ambiente de discriminação sexual
Homens ainda dominam Wall Street
PATRICK MCGEEHAN
DO "NEW YORK TIMES"
Durante vários anos de litígio
sobre o tratamento dispensado a
suas funcionárias, as empresas de
Wall Street negaram veementemente todas as alegações de discriminação -até que chegou a
hora de fazer as contas.
Em um processo por discriminação sexual no qual o Morgan
Stanley fez um acordo na segunda
passada, assim como em outros
contra o Merrill Lynch e o Smith
Barney no final dos anos 90, os
executivos decidiram não divulgar seus registros de contratação,
pagamento e promoção de mulheres. Em todos os casos, advogados trabalhistas dizem que os
números pintavam uma imagem
que teria sido difícil explicar.
Eles mostram que, ainda no século 21, Wall Street continua dominada pelos homens brancos,
que ocupam o grosso dos cargos
de maior poder e salário no setor.
Dados da Comissão para Igualdade de Oportunidades no Emprego mostram que os homens
representavam mais de dois terços dos executivos e gerentes na
indústria de valores mobiliários
em 2002, ainda mais que nas outras indústrias.
Os números do próprio setor
parecem mais tendenciosos. A
Associação da Indústria de Valores diz que mais da metade de todos os empregados do setor é de
homens brancos, mas, mais importante, os homens brancos ocupam cerca de quatro em cada cinco cargos de direção executiva e
constituem mais de 70% dos banqueiros de investimentos, corretores e negociantes.
Com base em números desse tipo, Elizabeth Grossman, que foi a
principal advogada da comissão
no caso do Morgan Stanley, não
hesitou em prever que vão surgir
outras queixas de discriminação
sexual e racial em Wall Street,
agora que o banco concordou em
pagar US$ 54 milhões para encerrar o processo da comissão.
O caso decorreu de uma queixa
feita em 1998 pela vendedora de
títulos Allison K. Schieffelin, que
afirmou que lhe negaram uma
promoção por causa de seu sexo.
A firma retrucou que Schieffelin,
que receberá pelo menos US$ 12
milhões de indenização, ficou decepcionada com sua incapacidade de subir e mais tarde foi demitida por insubordinação.
"Esse acordo é uma confissão de
que talvez ela fosse uma criadora
de encrencas, mas sua alegação
deve ter algum mérito, ou eles não
teriam pago tanto", disse Hydie
Sumner, uma corretora que sabe
que as grandes firmas lutam com
empenho para não pagar indenizações por discriminação.
Sumner, que trabalhou para o
Merrill Lynch em San Antonio até
1997, recebeu uma indenização de
US$ 2,2 milhões concedida por
um painel de árbitros há alguns
meses, depois de reclamar de assédio e discriminação.
Padrão
Na decisão, os árbitros disseram
que a evidência estatística prova
que há um padrão e uma prática
de discriminação contra mulheres na operação de corretagem do
Merrill Lynch -a primeira decisão desse tipo contra uma firma
de Wall Street.
A comissão desejava obter uma
decisão semelhante contra o Morgan Stanley num tribunal federal
de Manhattan no início da semana que passou. Mas, antes que
Grossman pudesse relatar os números para o júri, a empresa decidiu fazer um acordo.
Apesar dos processos judiciais,
as estatísticas das firmas de Wall
Street não mudaram significativamente nos últimos anos, segundo
dados da Associação da Indústria
de Valores. De fato, os homens tinham uma porcentagem ligeiramente maior de empregos no setor no ano passado, na comparação com 1999. Enquanto isso, as
mulheres continuam detendo a
maioria dos empregos de baixo
nível, como assistente de vendas,
segundo a associação.
"Eles realmente não acreditam
que estão discriminando", disse
Sumner sobre os diretores de corretagem que ela encontrou. "Se
você entrar e tiver a aparência que
eles desejam -provavelmente
um perfil de homem branco-,
projetam sucesso em você. Eles
têm uma visão específica de qual
deve ser a aparência de um corretor ou gerente de sucesso, e geralmente não é uma mulher, um negro ou um hispânico."
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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