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Economia engasga no trimestre
em que historicamente avança
DA REPORTAGEM LOCAL
As projeções mais pessimistas
de bancos e consultorias para o
crescimento do país já eram previsíveis. A crise cambial, que tomou força a partir de junho, jogou as estimativas anteriores para
escanteio.
A questão não é a revisão dos
números em si, mas o que isso representa: o país está travado no
terceiro trimestre do ano, quando
historicamente recupera o fôlego
e cresce.
Um indicador resume bem o tamanho do problema: o desemprego volta a crescer.
Mais de 8.000 pessoas perderam
seus postos de trabalho em julho,
só na indústria paulista. Se esse
número voltar a se repetir neste
mês, como prevê a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), terá ultrapassado
-só nos oito meses de 2002- o
número total de demissões de
2001, quando o país parou atordoado com o risco do apagão. De
janeiro a julho, 25 mil pessoas foram dispensadas. Nos 12 meses de
2001, perderam seus postos 32,4
mil trabalhadores.
Em alguns setores, as demissões
são quase diárias, mas feitas aos
poucos. São dispensados 10, 20,
30 funcionários por vez. Isso está
ocorrendo no setor de telefonia,
no caso, com os fabricantes de celulares, segundo a Folha apurou.
É a demissão conta-gotas, como
classifica o Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, onde fica a Zona
Franca.
Executivos
Também existe a "demissão
classe A"-quando vão parar na
rua diretores e gerentes, sem distinção. Pesquisa do Grupo Catho
com 9.174 executivos mostra que,
em 1997, um presidente permanecia na mesma companhia, em
média, sete anos e meio. Em 2001,
essa média caiu para quatro anos
e meio. A estimativa é que agora
se reduza para quatro anos.
Na avaliação de Roberto Padovani, economista da consultoria
Tendências, a pressão para o aumento de desemprego vem do desaquecimento do comércio. Dólar
em alta resulta em taxas de juros
mais elevadas e pressão nos preços. A consequência é menos renda nas mãos do trabalhador e menos consumo. "A indústria vai sofrer com tudo isso e, assim, o número de pessoal ocupado tende a
diminuir."
As demissões serão mais fortes,
segundo economistas ouvidos pela Folha, nos setores mais dependentes de financiamento, como
eletroeletrônico, veículos e construção civil. "Eles precisam de
crédito para vender, só que agora
o financiamento está escasso e caro", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados. As empresas dos setores de telecomunicação e energia também serão alvos
de demissões, diz, pois elas têm
altas dívidas em dólar.
(AM e FF)
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